segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Salário de CEOs, continuação

Nos comentários, o pessoal já adiantou o que eu ia falar aqui. Mas como não tenho assunto e meus amigos dormem excessivamente, aí vai.

Deve a Lei regular salários milionários?

Regular preços relativos sempre dá errado -- e salário é um preço, o do trabalho. É populismo tolo, que levaria em parte a realocações ineficientes no mercado de trabalho e em parte a desenho de mecanismos para escapar da lei, causando ineficiências desnecessárias, custos de transação.

A crise não teve a ver com os salários muito altos em si, mas com o como esses salários muito altos eram ganhos (e com outras falhas, claro). O que não pode é o CEO e a alta gerência montarem posições de alto risco que geram ganhos altos no curto prazo em troca de um futuro potencialmente sombrio para os acionistas e para o público pagante de impostos. Com os bonos sendo pagos com base na performance de curto prazo, os incentivos ficam distorcidos para assunção excessiva de risco. Quando a m* depois estoura, o cara provavelmente não estará mais lá para pagar parte do pato. O que você faria num esquema institucional desses? Eu tomaria risco....

A solução então é diferir o bônus no tempo, condicionando-o à contingência de que os investimentos lucrativos de curto prazo capitaneados pelo CEO e pela alta gerência não gerem prejuízos futuros. Procedimentos fraudulentos também entram na conta: maqueou o balanço para parecer mais lucrativo? Se no ano seguinte ou no próximo isso for descoberto, bye-bye bonus. E é sempre mais fácil não pagar o bônus do que retomá-lo depois na Justiça.

Essa mudança na forma de distribuir bônus, que não parece assim tão difícil de ser implementada, seguramente induziria a um pouco mais de prudência. E seria de interesse também dos acionistas.

Uma questão correlata: taxar mais os ricos em lugares como os EUA, eu acho legal. Mas isso é substancialmente diferente de por um teto para os salários. Claro que em excesso tributação também afeta adversamente os incentivos desses caras a trabalhar, o que prejudica toda a sociedade. Mas dá para taxar mais do que hoje sim, como pediu o W.Buffet.

O argumento contra maiores alíquotas, que evoca a meritocracia e faz reverência à ideia do "self-made man", tão cara aos conservadores e liberais exagerados, é de barro mole. Se dar bem na vida em termos financeiros, lamento informar, não depende só do seu belo esforço nos estudos e no trabalho. Quem nasce na pobreza herda capital humano muito baixo dos pais, come mal na infância, frequenta escolas em média piores e não têm conexões (políticas ou outras). Você que me lê e tem uma renda alta provavelmente atrinbui isso a seus talentos e esforço. Em parte é verdade, mas meu ponto é que você tem menos méritos do que pensa. Na loteria dos nascimentos, é muito provável que você tenha tido uma boa vantagem inicial. Por isso eu gosto de imposto alto para os ricos.

10 comentários:

  1. por que os bancos têm que ser garantidos pelo contribuinte?

    se o banqueiro soubesse que, em caso de caca, ele não só não receberia suporte como ainda responderia com seu patrimônio, a atitude dele seria diferente?

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  2. Caro CESG, permita-me acrescentar um complicador na sua análise.

    Em 2007/08, vivíamos o auge de um secular bull market. Imagine neste cenário, o CEO do banco TBTF, que diligentemente, não permite que sua instituição embarque na onda dos CDOs e MBSs (e outros buzzwords), pois conhece bem os riscos do crédito e alavancagem.

    Veja que ele é um altruísta que abrirá mão de ser melhor remunerado para garantir a sobrevivência de longo prazo do banco TBTF.

    Adicione ao modelo um analista sell-side de equities, que vê os outros bancos aderindos aos CDOs e MBSs e aumentando seus lucros (e seus lucros esperados). Por conta desta diferença de alavancagem, o valor das ações dos concorrentes do TBTF se eleverá (é um bull market, lembra-se ?), enquanto o TBTF perderá market share (menor lucro = menor poder de mark-up). Este analista apenas faz o esperado, coloca as ações do TBTF em underweight.

    Como resultado, o preço das ações cai e os acionistas ficam descontentes. No limite, o preço das ações do TBTF pode cair a ponto de que ele seja comprado por outro banco, que eventualmente, havia investido em CDOs e MBSs e auferido o decorrente aumento no seu market cap.

    As ações do TBTF ficaram baratas, enquanto as ações de seus concorrentes ficaram caras. Perceba que as ações das empresas funcionam como moeda...

    É claro que existe assimetria de informação com relação à composição do balanço destes bancos, mas levará um tempo (e uma crise) até que o mercado se dê conta.

    Resultado: o CEO do TBTF, executivo preocupado com as questões de sustentabilidade de longo prazo, foi demitido pelo board por não obter a valorização das ações. Ou alternativamente, o TBTF foi comprado, prevalecendo os executivos da instituição compradora.

    Ou seja, será que antes do conflito agente-principal com relação à definição do salário do CEO, não existe um equilíbrio de Nash a ser equacionado no mercado de ações e de "recomendações de ações" ?

    Será que se o Santander, RBS e Fortis não tivessem comprado o ABN-Amro em 2007, eles ainda poderiam fazê-lo hoje ? E aos mesmos preços relativos ?

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  3. Cesg, lamentável sua defesa de tributação dos mais ricos. Sua proposta foge da causa do problema da desigualdade. Ao invés de voce propor melhorias no sistema educacional que aumente o capital humano dos menos favorecidos e assim as suas oportunidades, voce defende a punição de quem aproveitou suas oportunidades.

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  4. Madeira, meu amigo, claro que políticas de capital humano são importantes. O lamentável do seu comentário é que isso é ortogonal ao meu ponto, independente dele.

    Suponha que antes de nascer você pudesse negociar num mercado de seguros, com outras almas. Suponha também um pleno véu da ignorância sobre o futuro: você não sabe se nascerá num lar com pais que incentivam sua educação, que se sacrificam por você; você não sabe se sua mãe vai ter uma gravidez na qual você será prioridade; você não sabe se vai nascer num local devastado por guerras e drogas ou em um bairro de classe média em São Paulo, você não sabe se seus pais vão viver para te cuidar na infância ou se vão morrer precocemente, etc. Todos esses itens influenciam muito o quanto você será capaz de render intelectualmente, de se desenvolver. Veja toda a pesquisa do Nobel J.Heckman sobre habilidades não-cognitivas e renda. Sua capacidade como income earner vai bem além de ter tido acesso a uma boa escola.
    Nesse ambiente que descrevi, se alguém (uma alma vizinha) te propuser: "escuta Madeira, vamos fazer um contrato de seguro. veja que se eu nascer naquele lar destruído lá, e você naquela família de boa qualidade acolá, eu vou estar pra sempre fudido, e você terá como explorar oportunidades. E o contrário obviamente é válido: se vc nascer naquela família ali toda fudida, de catador de cana no nordestes, muito dificilmente vc terá alguma chance. como tem o risco para nós dois, assinemos o seguinte contrato de seguro: se eu nascer naquela bem ferrada, vc me transfere parte da sua grana; e se vc nascer lá, eu te transfiro, ok?"
    Resposta do Madeira em estado de alma ainda: "claro, sou avesso ao risco, topo esse seguro sim". Voce faz seguro de carro, Madeira? De vida? De saude? SIM, SIM, SIM? Entao vc é avesso ao risco, meu amigo.

    o problema é que esse mercado de seguros, apesar de aumentar bem-estar, nao existe. e segue-se que essa inexistencia justifica taxar mais os mais ricos. se esse exemplo nao te convencer do ponto Madeira, nao tem como te convencer. Mas esteja certo do seguinte: o que vc defende é errado sob o ponto de vista da teoria economica e da pesquisa mais recente sobre importancia da primeira infancia no desempenho das pessoas nos mercados de trabalho, reflete tão e somente um viés conservador seu, inextricável.

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  5. OC, tudo que voce disse está certo, mas o padrao de avaliacao da performance do CEO for o que propus, esse problema é atenuado. O bonus vai ser pago de acordo com os lucros dos 4 anos à frente. A decisao do board de kick the guy out nao é endogena a isso? seguramente nao imagino um set up onde vale a regra para o bonus mas manda-se o cara embora porque num dado ano o nego nao deu resultado muito bom. as duas coisas nao conversam...

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    1. CESG, desculpe se escrevi muito e deixei de passar o meu ponto. My fault.

      Na regra de retenção de bonus, da forma como vc definiu, o banco que não a adotar terá uma vantagem competitiva, pois o conservadorismo dos concorrentes pode se tornar um "handicap" para os mesmos, que podem ao longo do tempo perder market share e/ou lucros.

      Ou alternativamente, o CEO é tão arrojado quanto no caso sem a regra de bonus, e caso o banco quebre, pelo menos os acionistas não terão que pagá-lo. Mas isto não é exatamente uma solução do ponto de vista do sistema, ou mesmo dos acionistas ou dos governos.

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  6. "o que vc defende é errado sob o ponto de vista da teoria economica e da pesquisa mais recente..." Man, you are totally full of shit, as arrogant as FK, go to sleep

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  7. Eu convivi demais com FK e CT e tornei arrogante, Antoninho.

    Antoninho fala português? Não é meio arrogante ficar deixando mensagens em inglês?

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  8. Professor Carlos Eduardo,

    Voce tem razão em afirmar que sou avesso ao risco. Principal ao risco de ver meus impostos não serem aplicados nos setores que precisam de recursos. Sua proposta de diminuir a desiguadade de renda com uma taxação maior dos mais ricos só funcionará se os recursos arrecadados forem aplicados efeitvamente para aumentar as habilidades dos mais desfavorecidos. Ai é que mora o perigo, quem me garante que esses impostos não se perderão nos meandros burocráticos da máquina governamental. Na prática a teoria é outra.

    Além disso, a prosposta de se taxar a parcela de 1% da população americana do Obama é apenas sua bandeira política que procura atribuir as mazelas atuais da economia americana aos mais ricos que especularam nos últimos anos a custa do restante da populaçao. Para Obama, é mais fácil propor um aumento dos impostos sobre os mais ricos do que avaliar a qualidade e eficácia dos atuais gastos públicos. Puro populismo eleitoral...
    Abraços

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  9. Transferências diretas diminuem muito esse problema de alocação ruim dos fundos, Madeira.

    Madeira, eu vou pagar seu almoço um dia desses para te convencer de que sua objeção a programas de transferência de renda é equivocada

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