quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

China e o tal do "overinvestment"

Não me é óbvio que a China vá afundar numa crise de "overinvestment".

Japão há 50 anos e Coreía há 30 anos também apresentavam taxas de investimento altíssimas e conseguiram romper a tal barreira do "Middle Income Trap", tornando-se ricos.

E as crises que esses dois vieram a enfrentar?

No caso Japonês, má regulamentação bancária e bolha de real estate são os culpados. E no caso Coreano, o Moral Hazard associado ao câmbio fixo levou a um brutal endividamento em moeda estrangeira por parte do setor de bens comercializáveis, com receita em moeda local. Além desse perigoso descasamento de moeda, a dívida contratada era pesadamente de curto prazo (prazo no qual se acredita que o sistema de câmbio fixo será mantido), gerando também importante descasamento de prazo. Numa situação frágil como essa, basta uma lua diferente para disparar uma corrida financeira. Isso explica a catastrofe de 1997.

O primeiro desses dois riscos regulatórios de fato preocupa no caso Chinês, mas o governo vermelho dá sinais de que entende a natureza do problema e já trabalha para desinflar a bolha antes de ela tornar-se demasiadamente gorda. Leio com cauteloso otimismo o fato de os preços dos imóveis estarem caindo e as concessões de crédito se contraindo sem que isso tenha até aqui ocasionado um hard-landing para o agregado da economia. O segundo risco -- o do caso Coreano -- simplesmente não está lá.

A China é muito grande, e tem muita gente vivendo lá. Apenas essa estúpida evidência já deveria servir como advertência aos arautos do overinvestment. Colocando de outro modo: é mais difícil ter excesso de investimento em infra-estrutura em um país com essas características geográfica e populacional.

Esquecendo os inevitáveis ciclos, minha aposta é que a China vai continuar a crescer bem (na casa de uns 8% a 9% em termos de tendência) por uns 5 anos mais. Aí depois a coisa complica, na hora em que a renda per capita bater uns 12.000 dólares e o crescimento força-bruta via acumulação de capital começar a esbarrar pesado nos famigerados retornos decrescentes de escala.

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