É possível perder controle sobre a inflação mesmo com a
presença de grande capacidade ociosa? Sim.
No arcabouço tradicional (Curva IS, Curva de Phillips e
Taylor Rule), estamos acostumados que hiato do produto negativo (ociosidade)
implica em menos inflação. Mas escondida nessa sabedoria está a hipótese de que
a política do Banco Central obedece ao Princípio de Taylor, de elevar os juros
nominais mais do que o aumento da inflação. Se esse princípio não for
satisfeito, mesmo que o Banco Central esteja reagindo ao hiato, o equilíbrio
“colapsa”. Podemos interpretar isso como uma situação em que as expectativas
dos agentes sobre o futuro levam imediatamente a hiperinflação hoje.
Embora menos elegante que esse meu argumento, o artigo do
Leeper (http://www.nber.org/papers/w16799)
explora o caso em que a economia tem problemas fiscais que, no limite,
implicarão no uso de inflação para fazer o ajuste. Na figura, a curva negra
indica um caso que em 2040 o Governo passa a necessitar de 8,5% de inflação
para equilibrar suas as contas (via imposto inflacionário).
A curva vermelha é
que é interessante. Ela é construída num exemplo em que a política monetária
sempre é ativa (i.e., sempre satisfaz o Princípio de Taylor), mas em que os
agentes econômicos colocam uma pequena probabilidade de que poderão
eventualmente passar por uma situação de problema fiscal (em que a política
monetária ficaria passiva). Essa expectativa sobre o futuro contamina o
presente, fazendo a inflação já começar a subir hoje. E isso pode ocorrer mesmo
que no longo prazo a política monetária volte a ser ativa.
Bonitinho, não?
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