Esse é um post técnico. Recomendo que seja pulado.
O FG é o mais novo pupilo do FK. A exemplo do seu mestre, ele é esperto como economista mas peca pelo excesso de arrogância intelectual. Na defesa de doutorado do FG apareceu um resultado curioso: um choque de produtividade levando a aumento do desemprego e queda do emprego. Na hora, ficamos todos meio sem entender direito de onde vinha esse resultado, até porque não era o foco da tese e assim havíamos passado por cima da coisa na hora da leitura.
O modelo que o FG usa é um com preços rígidos a la Calvo e concorrência monopolística a la Blanchard e Kiyotaki. Nesses modelos, deslocamentos da demanda agregada podem aumentar o bem-estar porque devido à estrutura de mercado assumida o ponto ótimo para cada firma está na interseção da curva de custo marginal com a de receita marginal, e não com a demanda pelo seu bem (que é em parte função da renda agregada, em parte função do preço relativo de cada firma). Isso implica no seguinte: para as firmas que não reajustam preços nominais naquele instante do tempo, a maior demanda agregada diminui o triângulo de ineficiência (se a firma pudesse reajustar seu preço a todo instante isso não seria verdade). Em outras palavras, no novo ponto de equilíbrio, a distância entre preço e custo marginal é menor, mas como o preço ainda supera o custo marginal se o choque inicial for modesto, ocorre que a firma aumenta a produção após um choque de demanda. Por isso, aliás, é que a política monetária tem efeito.
Pois bem, imaginemos agora um choque de produtividade que desloque a renda total imediatamente para cima. Isso vai deslocar a demanda agregada, pois Yd = Y, e consequentemente a demanda por todos os bens das diversas firmas em concorrência monopolística. Lembrem-se de que para algumas delas os preços estão fixos. Se o choque de produtividade/renda for grande, é possível que ele leve a demanda pelo bem de algumas firmas para um valor onde o custo marginal supera o preço (que não se move e foi fixado alguns períodos atrás). Mas essa firma, claro, nunca aumentará a produção para cima do ponto onde P=Cmg.
Assim, no fim das contas, algumas firmas aumentam a produção "em menor escala". Se essas forem muitas -- e isso depende da calibração de parâmetros do modelo -- poderemos ter um choque inicial de produtividade muito amplo mas com aumento restrito da produção (de novo, por conta do preço rígido). A consequência óbvia é que o emprego pode mesmo se reduzir. Volto a enfatizar que com preços livres isso não ocorreria (a ideia que um choque de produtividade hicks-neutro num mundo de preços flexíveis aumenta desemprego é imbecil e se baseia na falácia de que a firma não responde a um aumento da sua lucratividade contratando mais insumos).
ps. o resultado depende também da elasticidade do custo marginal, pois apesar do FG não ter explicado direito, eu suponho que o choque de produtividade desloque os custos marginais para baixo, tornando mais provável que na nova configuração o preço ainda siga acima do custo marginal para um certo número de firmas.
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