quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A defesa de doutorado do pupilo do FK, parte 2

Esse é um post técnico. Recomendo pular.

Conversei com o pupilo do FK, o FG. Curiosamente, ele não se mostrou arrogante. Ainda não sei se ele de fato não é, ou como nos modelos de assimetria informacional ele está tentando sinalizar um tipo que ele não é. Equilíbrio de pooling ou separador? Ainda não dá para saber...mas a gente descobre no "segundo período".

Bom, o FG disse que o resultado de choque de produtividade levando a menor emprego vale mesmo em modelos sem rigidez de preços e concorrência monopolística. E ele disse que no modelo dele custo marginal e demanda agregada têm ambos elasticidade unitária ao choque de produtividade, o que invalida meu argumento (releiam o meu "ps" naquele post).

O resultado esquisito vem de alguma coisa bizarra na oferta de trabalho, não da demanda por trabalho. Essa última se desloca para direita após um choque de produtividade, como esperado.

Do lado da oferta de horas trabalhadas a coisa é mais nuançada. Num modelo onde a utilidade do lazer não é separável e log, vai ter efeito renda atuando: o nego mais rico após o choque de produtividade vai querer consumir mais e, se a utilidade marginal do lazer for crescente no consumo, ele também vai querer ofertar menos trabalho. Com habit persistence, a coisa também vai na mesma direção: o choque de produtividade eleva a riqueza, mas a persistência do hábito leva-o a não consumir muito mais. Aí o efeito-renda desemboca todo na escolha por mais lazer. Com custos de ajustamento no estoque de capital, a coisa se magnifica, pois nesse caso usar a renda extra para aumentar muito a poupança é algo custoso, então a escolha passa a ser diminuir a oferta de horas de trabalho.

Note-se que os mecanismos descritos acima significam que o desemprego pós-choque de produtividade não é algo ruim, não vem de uma ineficiência da estrutura de mercado ou de rigidezes quaisquer, mas de hipóteses sobre a forma da função de utilidade. Não tem nada que o governo possa fazer para melhorar a economia nesse caso. E o equilíbrio é pareto ótimo.

Eu acho esses resultados derivados diretamente de penduricalhos na forma da função de utilidade algo meio esquisitos. Mas tem gente que gosta...

10 comentários:

  1. The only reason you guys are writing these posts is to show other people the sophisticated things you thought about. I’m forced to conclude that both CESG and FG are as arrogant as FK. It is an amazing accomplishment. Congratulations.
    When I think about it, it’s good that CT is still asleep. I can’t take so much shit at once.

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  2. Antoninho, i guess things will get much worse when (and if) CT finally decides to work a bit on this blog. He is as arrogant as me, but not as smart.

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  3. Estou com inveja e resolvi participar de discussão tão bela...
    Apesar do pedido de CESG para tomar parte no ataque à FG, não o farei. Não tenho cacife para tanto e sempre prefiro o lado da Suíça.
    Minha postagem vai mais na linha de comentário/dúvida/observação.
    Me ocorreu algo durante a referida defesa de tese do FG, mas não lembro por que acabei não falando.
    Por favor lembrem que sou leigo no plano desses modelos.
    Nos EUA desde de 2008 observamos exatamente isso, não? O desemprego explodiu e a produtividade cresceu muito. Mas acho que as razões são bem diferentes. Evolução tecnológica “forçada” para diminuir custos de produção. Estou errado? Isso conversa de alguma forma com os modelos em questão? Não é, afinal, um choque exógeno de produtividade...
    No final das contas ainda não entendi se o resultado em discussão (aumento do desemprego devido ao aumento de produtividade) é teórico (sai dos parâmetros do modelo) ou empírico (e o modelo é calibrado para que chegue lá).
    Até,
    AB

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  4. Não sei bem dos detalhes do modelo em questão, mas faço a seguinte observação: os alemães aumentaram a sua produtividade e o resultado não foi desemprego e sim trabalherem menos. Então essa é a questão: o fato de se trabalhar menos (horas de trabalho, já que pensar cansa), porque você é mais produtivo isso signfica que houve desemprego?

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  5. chutando a lata, vc acertou na lata.
    eh isso, nesses modelos sem fricções nem dá para falar em desemprego...caem as horas trabalhadas. o ponto eh que no modelo rbc mais simples, elas sobem porque o efeito-substituicao do salário mais alto predomina.

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  6. Acaua, estamos aqui numa discussao teorica mesmo, tentando entender o que causa o fato empirico. esse fato empirico existe fora do ambiente de um modelo metido no matlab

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  7. vendo outros modelos dsge, parece que esse resultado do FG não é tão estranho. ainda não vi o CHORINHO que o FK recomendou. mas, o SAMBA (que também tem habit persistence) apresenta o mesmo resultado, ao menos para o primeiro período. no longo prazo, o efeito do choque permanente no emprego é positivo. quando se trata de choque transitório, aí só tem a ponta negativa do curto prazo.

    abs

    BWL

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  8. Oi Bruno
    sim, eles têm o mesmo resultado..
    o que é ou não estranho é um debate a parte, mas arrisco dizer que um Prescott da vida vai achar estranho.

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  9. Caro CESG,

    Na verdade, eu acho que esse resultado aparece mesmo em um modelo RBC padrão. O que acontece é que na parametrizacao típica o efeito substituicao domina e a quantidade ofertada de trabalho aumenta. Os penduricalhos só magnificam esse efeito.

    Mas o interessante é que isso aparece em modelos de rigidez de preco mais naturalmente (grosso modo, quando a demanda esta fixa a produtividade aumenta, vc precisa de menos trabalhadores no curto prazo). E mais do que isso, o pessoal tem usado exatamente essa predicao para distinguir empriricamente o RBC de um modelo com rigidez de preco.

    O Gali acha evidencia disso usando VAR, i.e., aumento de produtividade reduzindo horas. Kimbal e cia construindo mais diretamente medidas de produtividade acham o mesmo resultado. Valerie Ramey fala da morte do modelo RBC e flutuacoes devido a produtividade. Então, parece que esse resultado tem mais suporte empírico que o próprio RBC plain vanilla.

    Abs,

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    1. Exato, Dejanir, pela hipotese de utilidade log e separavel mata-se o efeito-renda. Sim, e a rigidez, como vc notou, acentua a coisa pelo mecanismo que eu tinha descrito no primeiro post.
      Estamos 100% de acordo.
      Mas se estamos falando de choques, eu não consigo acreditar muito na importancia pratica da coisa, contudo. Não consigo acreditar que o efeito-renda prevalece.
      Ao longo das décadas, é verdade que alguns países nos últimos 30 anos foram ficando mais produtivos e reduzindo bem horas trabalhadas. Mas teve aumento brutal da tributacao..
      Abraços para o Daron.

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