sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Salários altos de banqueiros e CEOs, parte 1

A fúria da sociedade contra os salários exorbitantes dos executivos do sistema financeiro deu um salto discreto no pós-crise. A revolta é compreensível, convenhamos.

Mas por que esses caras ganham tanto? (na parte 2 vou responder se faz sentido conter os salários desses caras via lei ou coisa similar)

Tome três grandes economistas, FK, CT e CESG, como potenciais CEOs de bancos. CESG, óbvio, é o melhor economista entre eles, mas por uma pequena margem apenas, digamos 1%. Suponha que essa diferença de saber econômico signifique um lucro igualmente maior sobre uma dada base de ativos. Em um banco com 10 milhões em ativos, essa diferença se traduzirá em 100 mil a mais de lucro. Digamos que metade desse adicional de lucro volte ao bolso do CEO. CESG vai ganhar então 50.000 a mais que seus pares...

Essas diferenças modestas de salários predominavam nos anos 60. Mas agora imagine que os bancos são maiores, sei lá, pense em ativos de 1 bilhão. A mesma módica diferença de 1% de produtividade (na verdade a diferença entre CESG e os supracitados é bem maior) agora significa um delta de lucro muitíssimo grande para os acionistas. Se não erro nas contas, 10 milhões a mais. Usando a mesma regra de partilha -- pense num Nash Bargain com peso 1/2 para acionistas e CESG -- CESG vai então ganhar uns 5 milhões a mais que FK e CT (uma diferença justa).

A escala torna as habilidades únicas de CESG mais lucrativas sobre o ponto de vista dos acionistas...

Mais ainda, do lado negativo, como o potencial de estrago em cima de uma base de ativos tão grande é muito alto, é crucial que os acionistas deêm a CESG incentivos suficientes para ele não zoar o barraco, desviar um percentual da grana ilicitamente, etc. Um salário exorbitante ajuda também nessa dimensão, porque se for pego CESG ficará triste de perder uma renda gorda como essa.

Resumindo, o que parece explicar o salto nos salários dos grandes executivos nos últimos 40 anos foi o crescimento da escala das empresas, financeiras e não-financeiras. A resposta alternativa, de que as pessoas são muito gananciosas é imbecil, dado que o ser humano é ganancioso desde que surgiu na face da terra. Se você não quiser ir tão longe, seguramente há 40 anos atrás ele já era ganancioso, mas os salários dos CEOs de então eram bem mais baixos.

Lição de casa: explique por que os salários dos jogadores de futebol hoje em dia são muitos mais altos que antigamente. (Não, Ronaldinho não é mais financeiramente ambicioso que o Pelé)

7 comentários:

  1. Finally someone that makes good points. Hopefully FK and CT will never post again.

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  2. Ocorre que os mesmos incentivos para o cara não zoar o barraco por um lado podem fazer com que ele zoe por outro: com parte da remuneração atrelada ao valor da companhia no mercado, cria-se o incentivo para, dentro do prazo de validade dos stock options do executivo ou algo do tipo, ele fraudar balanços ou incorrer em operações que lucrem no curto prazo mas destruam a companhia ao longo do tempo - vide quase todos os bancos americanos e europeus nos últimos 20 anos. E outra pergunta que fica é porque os ganhos de escala com o aumento no tamanho das companhias são tão desigualmente distribuídos entre os funcionários - nunca os CEOs ganharam tanto no relativo com os blue/white collars.

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  3. O ponto crítico para mim é ganharem antecipadamente lucros bilionários que geralmente não se concretizam.

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  4. Chutando a Lata antecipou uma parte do que seria meu segundo Post. Voce está correto. Drunkeynesian, a primeira parte do seu comentário seria a segunda parte do meu segundo post. Já antecipou. Você está correto.

    Resta o crescimento do diferencial de salários entre colarinhos de várias cores. Toda a evidência empírica disponível sinaliza para diferencial de capital humano em um mundo de tecnologia da informação: ou seja, onde capital humano importa mais.

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  5. Extra-Post:

    Poxa Dudu, no Painel de sábado vc primeiro falou que tava mais longe dos keynesianos que dos austríacos mas emendou com um "mas nesse caso..."

    Alto lá, o seu senso de pragmatismo em tempos de crise nesse caso é muito keynesiano, até porque em momentos de boom quase todo mundo quer parecer com os austríacos, até alguns keynesianos...

    Fora a cornetada (que é só pra não perder o costume), muito boa a participação, como sempre muito didática! Até eu que não sei nada de economia pude aprender alguma coisa sobre como anda a crise aqui na Europa! :)

    Abraços

    Felipe Insunza

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  6. Felipe, mas é verdade! Não creio nas coisas que os keynesianos creem, que mais demanda agregada resolve problema de crescimento. Mas seria incorreto negar que a Alemanha gastar mais ajudaria no encaminhamento da crise nesse momento em que as outras economias apresentam deficits em conta corrente elevados.

    Abs

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