quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

(jan/2012) Chorinho, Hiato, IPCA 2012, Breakeven

Hiato no CHORINHO (23/01/2012)


Por que você subestimou a inflação de 2011? Foi a surpresa no álcool? Acho que não, foi nos serviços. O salario subiu muito mais do que você pensava, impactando os bens não comercializáveis. Um caso clássico de excesso de demanda, hiato do produto excessivamente positivo.

Eu acho que você vai errar de novo em 2012, porque está calculando o hiato errado.

Calcular hiato não é mole não. O hiato deve conter somente choques de demanda. Choques de oferta fazem o PIB e a inflação se moverem em direções opostas (correlação negativa), e não fazem parte do hiato (e sim do PIB potencial). Assim, para calcular corretamente o hiato, você precisa extrair somente um choque dos dados, algo equivalente a um problema de identificação.

Na figura eu coloquei duas medidas de hiato. Ambas são consistentes com o mesmo cenário para o PIB de 2012, mas elas usam metodologias diferentes. Uma é o custo marginal, obtido através do Chorinho. Outra é o clássico filtro HP. O resultado é que o hiato e menor do que você pensa, e a inflação vai aparecer antes do que você espera.

Como eu sei que o CHORINHO está extraindo o hiato correto?  Não sei, mas pelo menos ele esta fazendo as perguntas certas. A metodologia é convoluta, verdade, assim como identificação econométrica. Mas não tem outro jeito.

 "Ah, mas eu uso função de produção". Não resolve nada, muito pelo contrário. E para piorar, você esta usando utilização de capacidade instalada em vez de utilização do capital, fazendo dupla contagem no insumo trabalho, e calibrando tudo errado.

A única solução é você se matricular no meu curso, quintas feiras de manhã na FEA, a partir de março. Dai todos os seus problemas estarão resolvidos. E de troco você também vai aprender outras coisas importantes, tais como o sentido da vida.



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Custo Marginal (27/01/2012)



Um blog light, já que é sexta-feira. A pergunta é: O que é esse Custo Marginal, que serve como medida de Hiato do Produto?


Num modelo DSGE (dynamic stochastic general equilibrium) há uma economia artificial, com famílias, firmas, governo, etc. O problema de maximização de lucro das empresas é dividido em duas partes. A primeira envolve uma escolha de quanto capital e mão-de-obra alocar (obtenção da função de custo). A segunda uma escolha de preço, dada a curva de demanda pelo produto, e alguma restrição que coloca rigidez na marra (aquela maluquice do Calvo).


Nesse mundo, o custo marginal é o conceito relevante para indicar pressão inflacionária. Se forem feitas algumas hipóteses, tais como função de produção Cobb-Douglas, o custo marginal se transforma em custo unitário do trabalho (unit labor cost). Mais algumas hipóteses heroicas, tal como a que a economia tem de ser fechada e sem capital (sem comércio exterior e sem investimento), e o custo unitário do trabalho se transforma em “hiato do produto”, definido como a diferença do PIB observado e o PIB que ocorreria se não houvesse rigidez nos preços.


Dada essa visão geral, eu gostaria de ter alguma medida direta de custo unitário do trabalho em vez do PIB filtrado. Já tentei isso com dados da Indústria, e ficou uma porcaria mesmo na época em que a indústria era relevante para sentir a economia. (Minha sensação é que nos últimos anos ficou muito difícil olhar para a economia sem incluir o varejo).


Então, o que eu faço é utilizar somente dados agregados (PIB, investimento, consumo, etc., juros, inflação e emprego) para estimar os parâmetros do DSGE, e obter o custo marginal. Agora fazemos isso com técnicas bayesianas, apertando o botão do dynare. Se você não está acostumado com isso, mas conhece VARs (vector autoregressions) estruturais, é parecido. Uma vez que os problemas das famílias, firmas, governo, etc. são resolvidos (o que pode necessitar iteração de Bellman), o modelo DSGE fica igual um VAR, em que os parâmetros estão restritos por condições teóricas.

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Breakeven de Inflação (30/01/2012)


Na figura a inflação implícita nos preços de mercado (diferença entre juros nominal e juros real) para diferentes períodos. (Para calcular, o Júlio considera os cupons das NTNBs, fita uma curva suave usando uma metodologia genética, etc., e outras frescuras...). O chato é que essas inflações não estão baixas quando comparadas com seu histórico.




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Comprando Breakeven (31/01/2012)



O Antoninho de Botucatu voltou a me perturbar. Gostaria de dizer que estava com saudades.

Na parte de cima da figura o yield da NTNB com vencimento em maio/2013, e o yield da curva Pré para final de abril/2013 (ODJ3). Esses são os juros reais e nominais daqui até a data. Na parte de baixo a diferença entre as duas taxas, útil para comparar com o passado. Na verdade, o certo é fazer juros compostos (dividir uma pela outra), o que dá um breakeven (inflação implícita) de uns 5,6%.

Minha operação é comprar a NTNB e tomar o Pré. Com isso, estou apostando que a inflação será maior do que a precificada.

Antoninho, eu até acho que vai haver momento melhor para entrar, mas você me irritou o suficiente, e não consegui resistir. Por sinal, seu comentário de que o upside da operação é só de 0,5% - já que eu acho que a inflação será 6% - só seria relevante se eu não pudesse alavancar. Como eu sou grande como o Verde, dá para alavancar várias vezes sem custo algum. Com isso, estou multiplicando upside (e também o downside) da minha aposta.







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