terça-feira, 6 de março de 2012

Dilma versus Merkel; Bernake versus Draghi; Rogoff versus X

Post com passagens wonkish...

As duas primeiras duplas do título andam se bicando por conta dos efeitos de certas políticas monetárias sobre taxas de câmbio. O Bernanke reclama do kiwi (QE) europeu, enquanto o Brasil reclama de qualquer kiwi...

(Os economistas do governo brasileiro -- e aparentemente a presidente também -- andam tão estressados com os patamares em que o real vem sendo negociado que intervencionices adicionais no mercado de moedas têm alta chance de serem implementadas nas próximas semanas aqui em Pindorama)

Quem se sente lesado, clama por maior "coordenação das políticas monetárias". É uma terminologia deliciosa de pronunciar, soa sábio e altruista ao mesmo tempo. Evoca-se o glorioso encontro do G-20 em 2009, onde os líderes mundiais "mostraram que é sim possível desenhar políticas econômicas coordenadamente". Ingenuidade intelectual. Em 2009 houve forte grau de concordância sobre o que fazer porque quase todas as economias demandavam o mesmo tipo de resposta à crise que se instalava com virulência; não porque lá eram todos mais benevolentes com os outros e hoje repentinamente essa suposta amizade tenha desaparecido.

É lógico que há domínios de política econômica em que cooperação com o vizinho é benéfico para cada nação isoladamente, mas isso não invalida o ponto de que cada um pensa na relação custo/benefício própria. Resumindo o ponto com jargão acadêmico: em jogos não-cooperativos pode haver ganhos de coordenação; mas quando "desviar" for ótimo, não se deve esperar outra coisa.

Rogoff versus X

O Ken Rogoff (o FK chama ele de KR) tem dois papers importantes publicados em 1985. Muito conhecido é o do "tough central banker", no QJE, onde ele mostra a optimalidade de se delegar a política monetária a alguém mais durão do que a média da sociedade. Mas tem um outro legal no JIE, sobre....coordenação e guerras cambiais !! O ponto dele é que num mundo com dois países, quando ambos praticam expansão monetária coordenadamente e, portanto, a taxa de câmbio não se mexe, é menos custoso monetizar e assim há maior tentação para o BC doméstico inflacionar a economia (o que é ruim em média). Não ter coordenação é portanto bom nesse artigo!

Veja o seguinte detalhe: é menos custoso expandir quando o outro expande a moeda também pois assim a moeda local NÃO se deprecia. Depreciação da moeda é um custo, sim, um custo. No modelo do KR isso se deve ao fato das empresas importarem insumos de produção.

Minha pergunta: por que as pessoas se queixam justamente do contrário, que não coordenar é ruim porque o câmbio de quem não expandiu APRECIA?

a) Porque o mais importante nesse momento é pensar em demanda agregada
b) Porque a maioria dos analistas nunca pensa em impactos de oferta
c) Porque o lobby do setor de comercializáveis é desproporcionalmente forte
d) Porque com mercados incompletos apreciações temporárias da taxa de câmbio geram fechamento de fábricas rentáveis no médio prazo

Votem, por favor.

9 comentários:

  1. A resposta correta é B, sem sombra de dúvida

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  2. Eu acredito que todas explicam, mas eu ficaria com a (d). Infelizmente, a maioria dos analistas não entendem que apesar do fechamento de algumas fábricas no curto prazo, em geral as menos produtivas, um câmbio + apreciado possibilita a importação de bens de capital, aumentando, por conseguinte, a produtividade daquelas que sobrevivem.

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  3. A resposta correta é A, sem sombra de dúvida. Este governo pensa apenas na demanda e seu horizonte é de curto prazo.

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  4. A resposta correta é a opção secreta E: porque as pessoas gostam de reclamar. Se o câmbio sobe algumas pessoas reclamam, se cai outras pessoas reclamam e se ele fica estabilizado todo mundo fica entediado.

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  5. Vou com o Fábio, de "b". Mas não descartamos outras, como a "c" ...

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  6. Vou ser do contra e votar na A (com vontade e não só porque é a resposta que o professor quer, como fez o Madeira). 2,7% de crescimento do PIB em 2011? Pau na máquina!

    Tá, não é bem assim. Comentei esse post com um pouco mais de cuidado aqui: http://economiamarginal.blogspot.com/2012/03/ainda-sobre-o-cambio.html

    E fiquei com uma dúvida: se "é menos custoso monetizar", a decisão do Marco Aurélio Garcia - digo, do Tombini - de cortar os juros faz sentido? O risco, se entendi bem, é a inflação - mas no momento a inflação está em queda...

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  7. Certamente (c). Se fosse (d), deveríamos estar discutindo uma agenda de micro-reformas, e não política cambial. Gostaria de ver discussões mais inteligentes sobre este ponto.

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  8. A questão não é discutir política cambial, mas sim observar o movimento dos preços relativos.

    JP

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  9. Porque o lobby do setor de comercializáveis é desproporcionalmente forte (c), o governo vê como mais importante nesse momento pensar em demanda agregada (a). Sabendo disso, a maioria dos analistas nunca pensa em impactos de oferta (b).

    Ps: resposta de administrador

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