terça-feira, 20 de março de 2012

O fim do BNDES

Eu sonhei que o BNDES tinha acabado.

Parecia tão real...mas quando o relógio despertou às 6hs e corri para ler as notícias percebi que tinha sido apenas um sonho mesmo. Naquele período que se segue ao despertar do corpo, essa confusão/ilusão é absolutamente normal: a mente ainda pensa estar no ambiente onírico por alguns minutos. Ao menos enquanto minha alegria durou, pude ver as consequências do fechamento do BNDES, e por isso resolvi escrever esse post.

Eu vi o que aconteceria com as taxas de juros de mercado se o BNDES acabasse: elas cairiam! Isso porque sem BNDES e FGTS/FAT parte não desprezível da poupança nacional passaria a tramitar via sistema bancário privado, aumentando a oferta de recursos e, por conseguinte, derrubando as taxas de juros aos tomadores finais no sistema privado. Assim, empresas hoje sem acesso ao funding subsidiado do BNDES tinham, no meu sonho, mais facilidade de tocar adiante projetos de investimento rentáveis. Sim, sim, quem hoje pega grana no BNDES precisaria pagar mais, mas por que mesmo isso seria ruim?? Se a lucratividade do projeto do sujeito for menor que o juro de mercado, o correto é ele realmente não investir, ora bolas!!

Pude ver no meu sonho o aumento da produtividade total da economia brasileira que resultaria de um fechamento do BNDES! O motivo eu (e tantos outros) já sabia antes mesmo de adormecer, e é o seguinte: hoje, uma empresa em posse de um projeto com taxa de retorno baixa (pense numa empresa pouco produtiva), mas com acesso às portas do BNDES, consegue viabilizar seu investimento enquanto outras, com taxa de retorno mais alta (empresas mais produtivas), porém sem acesso ao BNDES, deixam de investir por conta dos juros altos que predominam fora do "mundo BNDESiano". Isso gera uma produtividade total menor. A literatura econômica tem até um nome bonitinho para o fenômeno: "misallocation".

Isso para não falar da questão da desigualdade implícita aqui: o BNDES tributa os pobres ao remunerar sua poupança INVOLUNTÁRIA a taxas abaixo das de mercado, e pega essa grana para emprestar barato aos nossos ricos empresários.....chega a ser triste (não me lembro agora se chorei no sonho ou não, mas devo ter chorado sim)

E o juro neutro, ele cai com o fim do BNDES? Economistas bons como Pérsio Arida e Alex Schwartsman estão convencidos que sim. Será? Vou tentar sonhar com isso essa noite para ter uma boa resposta amanhã.

3 comentários:

  1. Dudu

    Acho legal voce discutir este tema. É relevante para sociedade.

    Mas lanço ai algumas perguntas sobre o seu post:

    1 - Se o FAT em um passe de mágica acabasse, o mercado financeiro estaria livre para utilizar esse recurso de maneira mais "eficiente". Entretanto, pergunto qual é o incentivo que os bancos comerciais teriam em disponibilizar recursos com retornos superiores a 60 meses considerando taxas de juros reais de curto prazo pós-fixadas ainda elevada em termos mundiais?

    2 - Até que ponto o prazo médio de captação dos bancos brasileiros é superior a 60 meses? O rating dos bancos brasileiros melhoraram muito nos últimos anos, mas ainda não somos triplo A, a ponto de captarmos mundialmente recursos volumosos com prazos de 120 meses.

    3 – Se desconsiderarmos os bancos públicos poderíamos dizer que no Brasil temos ausência de poder de monopólio dos bancos comerciais?

    4 - Até que ponto os recursos do FAT se converteria em poupança e não em consumo? Voce esta assumindo que os trabalhadores poupariam este recurso independente de ser compulsório ou não.

    5 - Não existem falhas de mercado? Ainda mais no mercado financeiro em que é nítido os problemas ligados à informação e colateral. Como definir os colaterais? Grandes projetos de infraestrutura (energia, transporte, saneamento, etc.) seriam sempre levados à frente pelo setor privado?

    6 – Podemos afirmar, como você assume, que atualmente somente empresas pouco eficientes e com TIR baixa têm acesso ao BNDES? As taxas de inadimplência do BNDES são baixíssimas. Será que o mercado é tão melhor em selecionar empresas mais eficientes? O mercado está imune à seleção adversa?

    7 – O mercado hoje prove financiamento às empresas. Se você fizer uma breve pesquisa, vai observar que o prazo máximo de carência e amortização, em média, não ultrapassa a 24 meses. Ou seja, não se diferencia o que é giro e o que é investimento fixo. Agora pegue imóveis e carros. O financiamento é superior a 60 meses. Mas observe, há colateral e outra, nosso “maravilhoso” judiciário, neste caso, é rápido em executar as garantias. Mas o mesmo não é válido para uma fábrica cheio de empregados.

    Abs
    JP

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  2. professor,
    alguns argumentam que mesmo se ocorrese o seu sonho de término do BNDES, a maior oferta de recursos para o sistema bancário não resultaria em queda do custo do crédito de longo prazo. Motivo: o sistema bancario brasileiro é pouco competitivo em função de sua estrutura oligopolística.

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  3. Joao, seu comentario vira sob a forma de um post futuro, dada a extensao.

    Madeirao, esse argumento eh comum e equivocado.

    Abra lá o Varian, pegue o caso de um monopolio, desloque a curva de custo marginal desse monopolista para baixo e voce notará que o que ocorre eh aumento da oferta e preço mais baixo, mesmo com essa estrutura de mercado. Mercados nao-competitivos significam que o nivel do preco eh alto e a quantidade eh sub-otima, mas nao significa que essas variaveis nao reajam a alteracoes (deslocamentos das curvas).

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