quinta-feira, 22 de março de 2012

BNDES e juro neutro

(esse post contém brevíssimas passagens wonkish mais para o final)

Não sonhei mais uma vez que o BNDES tinha fechado, mas tudo bem.

A pergunta que faltou responder: o "juro neutro" (aquele animal que equilibra dinamicamente demanda com oferta e deixa inflação estável) cai com a queda do BNDES?

Como já disse antes de ontem, com o fim da poupança forçada para financiar empresários ricos via BNDES, ocorrem duas coisas: por um lado, quem toma baratinho grana no BNDES se defrontará com juros mais altos, mas por outro o nego que hoje toma empréstimo a taxas de juros no mercado privado terá acesso a taxas menores. O primeiro efeito leva, ele isoladamente, a um "juro neutro selic" menor, como têm dito o Pérsio e o Alex Schwartsman: fim do juro subsidiado faz com BC não precise pegar tão pesado com a Selic para manter a inflação sob controle. Mas o segundo efeito vai na direção contrária, e o pessoal está se esquecendo dele...

Qual dos dois efeitos prepondera? Teoricamente depende da concavidade da função demanda por investimentos das empresas, é essa concavidade que determina se a demanda por investimentos do primeiro grupo cai mais do que a sobre a do segundo.

O FK simulou um modelinho com essas ideias e disse que o juro neutro cai (no modelo dele juro neutro não exatamente a taxa escolhida pelo BC, mas a remuneração do capital em estado estacionário), mas bem pouco.

Um comentário:

  1. E ai Dudu.

    Mais algumas dúvidas. Pode haver de fato uma relação dos desembolsos do BNDES com o "enfraquecimento" do impacto da Selic sobre a inflação no curto prazo.

    Vale destacar que o BNDES financia investimento em expansão da capacidade, o que traz um reflexo de médio e longo prazo sobre a economia, o que de certo modo, impacta o produto potencial e, por conseguinte, a política monetária.

    Entretanto, fico me perguntando: a média das taxas de juros do BNDES de fato são menores daquelas que o mercado cobra. Isso em larga medida se deve aos financiamentos para infraestrutura, área social e inovação. Mas em alguns casos, como o financiamento para a indústria e comércio, a diferença é minima.

    O grande diferencial do BNDES, e isso se deve a poupança forçada do FAT, não se deve tanto as taxas de juros, mas sim a capacidade de emprestar em prazos superiores a 60 meses, chegando até a 120 meses. Ou seja, as empresas tem acesso a financiamento de longo prazo, principalmente as Pequenas e Médias Empresas.

    O mercado hoje só prove esse tipo de financiamento via debentures e ações. Os bancos comerciais fazem empréstimos, como já salientei, de no máximo 24 a 36 meses.

    O BNDES vai emitir debentures para capção no mercado com prazo de 4 anos, será que outro player no mercado que não seja o governo consegue captar a prazos maiores, mesmo no exterior?

    abs
    JP

    ResponderExcluir