terça-feira, 27 de março de 2012

Desemprego na Espanha


Vou tentar refutar os argumentos contrários a minha conclusão de que a Crise do Euro - entendida como ruptura para mercados financeiros - já acabou. Para começar, a história de que a situação atual é politicamente insustentável. O dado preferido é que o desemprego na Espanha para os com menos de 25 anos está em 50%. Tal nível supostamente implicaria em uma revolução iminente.

Na figura a série do desemprego total (curva azul) e do desemprego para os com menos de 25 anos (vermelha). Em geral esse gráfico é mostrado a partir de 2000, e mostra um aumento violento do desemprego. Eu, que não gosto de torturar os gráficos, consegui dados a partir de 1986.

É verdade que o ponto atual é o mais alto da série. Mas também é verdade que eles já aguentaram desemprego de 45% mais de uma vez no passado. Para comparar, eu também coloquei o nível de desemprego nos EUA na outra figura. Se eu só tivesse mostrado os dados americanos para o horizonte após 1985 você teria a impressão que a situação nos EUA é análoga à da Espanha, ou talvez até pior.

Quanto ao nível, por mais que me doa, confesso que não sei bem o que o número de desemprego significa na Espanha. Se eles ficam recebendo seguro desemprego e trabalhando informalmente (o tamanho do mercado informal na Espanha é próximo ao do Brasil), se há ajuda e transferências substanciais ocorrendo, se eles são vagabundos. Mas concluo, sem sombra de dúvida, que mesmo se esse nível de desemprego chegar a 60% não teremos problema algum.



2 comentários:

  1. A crise na Espanha tem se manifestado nos mercados via valor relativo. Dá uma olhada no ratio IBEX / S&P500, era maior que 8 há um ano e hoje está em 5,7. Acho que ainda tem muita coisa mal precificada no balanço de bancos de lá, resta saber em que ritmo isso vai ser reconhecido e se o mercado vai ou não testar o preço dos bonos.

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  2. Bem, sinto-me compelido a comentar esse post, com mais de 1 ano e meio na Espanha e estando abaixo de 25 anos, ainda. Alguns fatos e opiniões pra tentar confirmar o argumento do FK:

    1. A Espanha é um dos países em que os jovens deixam a casa de seus pais mais tarde. Muito pais não se queixam disso, então eles tem um colchão. Isso pode explicar muita gente falando que está procurando emprego mas de fato está em casa comendo tortilha e fazendo botelhão a partir de sexta (beber na rua). Por isso também acho que nem com 80% vai haver revolução!
    2. Com o Boom imobiliário que teve aqui, já ouvi muitas histórias de gente que deixou os estudos pra ser pedreiro e ganhar uma fortuna. Ontem, ao contrário, saiu um pesquisa falando que universitários estão buscando emprego no setor de Limpeza em Madrid. Ou seja, pode ser que os viúvos da construção agora tenham se dado conta que a coisa mudou ou tão precisando de pasta mesmo. (Aquí está cheio de viúvo de carreiras, o cara que falar “Eu sou soldador e essa é minha profissão”, sendo inflexível. Aliás recomendo um filme chamado Lunes Al Sol sobre isso)
    3. É muito barato viver aqui. Com os pais pagando então quase não há custos. Quase todos os jovens estão em universidades mas nenhum tomou dívida pra isso, como nos EUA, então eles não preciiiiiisam de verdade de Emprego.
    4. Aqui se vc quiser ficar estudando ad infinitum o governo vai te ajudando. Qualquer mané faz um/dois/tres mestrados picareta em algo completamente irrelevante de um ano ou mesmo um doutorado. Esse pessoal normalmente sai pro mercado de trabalho pensando que está superqualificado com 22-25 anos. Onde estagío todos os estagiários tem mestrado e nenhum deles deve ser contratado ao final do contrato, por exemplo. Isso explicaria um matching ruim, pois há muita formação e nada de experiência. Além disso, fazer um contrato estável aqui deve ser pior que casar então as empresas evitam a todo custo.
    5. O inglês sofrível dos locais explicaria parte do matching ruim também. Explicaria também a pouca migração dos jovens.
    6. Do lado da demanda posso dizer o que experimento na pele: realmente tá osso! Não sei explicar porque. Acho que há pouco espírito de inovação dentro das empresas. Até para ser garçom te pedem uns 5 anos de experiência, ou seja, com tanto “velho” experiente na praça (25% da população total desempregada, acho), para quê contratar um jovem? É arriscado em crise, eles diriam!
    7. Demitir na Espanha é um tormento, então abrir uma vaga para alguém melhor ou com a cabeça mais fresca fica difícil também.
    8. Espanhóis gostam de reclamar por definição, principalmente bebendo cerveja no bar e vivendo de verba pública. Certeza que uns 50% desses jovens que dizem que estão procurando emprego mandam menos de 2 CVs por mês.
    9. A situação ainda vai piorar bastante antes de melhorar. Com a reforma laboral em votação, todas as empresas estão esperando ver o que vai sair daí. Tem uma confusão de tipos de contrato aquí que te juro não entendo.
    10. Faz um tempo saiu na The Economist um gráfico mostrando que a Espanha é o país onde mais gente qualificada trabalha em coisas pouco qualificadas. Pode ser que a riqueza daqui seja ilusória (os Fundos Estruturantes da UE deixaram um legado de infra-estrutura que certamente tá anos-luz a frente da mentalidade do Espanhol médio) e que emprego mesmo seja colhendo maça e cortando carne. O problema é que os jovens não devem ter se tocado ainda e acham que todos podem ser economistas, analistas políticos, publicitários, etc.

    Desde que cheguei aqui queria entender qual é a desses números e estou com o Kanczuk que revolução aqui nem com 90% no “paro”.

    Abraços,

    Felipe Insunza (teoricamente nos desempregados abaixo de 25 anos, heheheh)

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