Continuando com tarefa de provar que a crise da Europa acabou, vou mostrar um exercício sobre a sustentabilidade da dívida da Itália. Na primeira figura, os dados passados e as hipóteses para o futuro.
Como não dá para ver nada, deixa eu escrever: 0,5% de crescimento, 2% de inflação, 5% de juro, 3% de superávit. Todas são super conservadoras, no sentido de que provavelmente serão muito melhores. Por exemplo, a promessa de superavit primário é de 4,4% já para 2013, e eles tem cumprido com as promessas. Crescimento de somente 0,5% é quase sacanagem. Juros de 5%, com o Dragui no controle, moleza.
Na segunda e terceira figuras uma decomposição dos efeitos sobre a variação da dívida/pib, e o perfil da própria dívida/PIB. Conclusão: a obóvia.
sexta-feira, 30 de março de 2012
quinta-feira, 29 de março de 2012
R.I.P.
O Relatório de Inflação Primestral está igual à Ata, com o
Banco Central trabalhando para a inflação de 2013 convergir para a nova meta. O
que me incomodou foi outra coisa, a falta de uma análise boa do crédito, onde o
BC tem vantagem comparativa.
Tenho matutado sobre o desempenho do crédito, que como o CT
comentou nesse post (é, eu sei, o link não funciona, ele esqueceu de
postar), está saindo com uma cara ruim. Se continuar assim, acho que o jogo da
inflação para 2013 pode virar.
O que está por trás desse crédito porcaria? É só um ruído ou
não? Eu não acho que tem nada a ver com a crise internacional, que já acabou. O
Bernanke me disse, quando escreveu os papers dele, que crédito é muito não-linear.
Com a mera lentidão do crescimento mundial não deveríamos ver o crédito
contrair por aqui. O Banco Central podia trabalhar um pouco nisso.
Não sei. Talvez seja mesmo o fim do processo de expansão que
tivemos nos últimos anos, com os bancos reduzindo oferta, ao ver o
endividamento excessivo dos demandantes.
quarta-feira, 28 de março de 2012
Alguns amigos do FK têm ideias exuberantes !
(mildly wonkish)
Eu adoro os modelos da tradição neoclássica, eles são elegantes e jogam alguma luz sobre importantes fenômenos econômicos. A revolução metodológica do Lucas, Prescott e cia é de imensa validade para o mundo acadêmico e o de policy.
Mas há limites, meu bom Pai. Se não puser limites na tigrada, a coisa toda, o arcabouço belo e útil, fica desacreditado para o mundo. Vejam o exemplo desse paper aqui: http://www.nber.org/papers/w17543.pdf
A ideia dos autores é a seguinte: reformas estruturais são particularmente boas em períodos recessivos, pois ao gerarem aumento esperado de renda do agente representativo no futuro, elas fazem com que esse agente incremente sua demanda por bens hoje, deslocando a demanda agregada e portanto tirando a economia da recessão....
É demais para mim. Quem compra isso? Se a Dilma anunciar reformas estruturais nos portos brasileiros e nos custos de cartório que travam a economia, você, antecipando os ganhos disso, começa já a consumir mais hoje, ajudando o combalido PIB desse trimestre? O modelo entrega mesmo esse resultado via efeito-renda, mas poxa vida...
Reformas estruturais são boas pois alavancam o PIB potencial de longo prazo. É por isso. Não precisa exagerar, já é suficientemente importante.
Eu adoro os modelos da tradição neoclássica, eles são elegantes e jogam alguma luz sobre importantes fenômenos econômicos. A revolução metodológica do Lucas, Prescott e cia é de imensa validade para o mundo acadêmico e o de policy.
Mas há limites, meu bom Pai. Se não puser limites na tigrada, a coisa toda, o arcabouço belo e útil, fica desacreditado para o mundo. Vejam o exemplo desse paper aqui: http://www.nber.org/papers/w17543.pdf
A ideia dos autores é a seguinte: reformas estruturais são particularmente boas em períodos recessivos, pois ao gerarem aumento esperado de renda do agente representativo no futuro, elas fazem com que esse agente incremente sua demanda por bens hoje, deslocando a demanda agregada e portanto tirando a economia da recessão....
É demais para mim. Quem compra isso? Se a Dilma anunciar reformas estruturais nos portos brasileiros e nos custos de cartório que travam a economia, você, antecipando os ganhos disso, começa já a consumir mais hoje, ajudando o combalido PIB desse trimestre? O modelo entrega mesmo esse resultado via efeito-renda, mas poxa vida...
Reformas estruturais são boas pois alavancam o PIB potencial de longo prazo. É por isso. Não precisa exagerar, já é suficientemente importante.
Corte Contraproducente de Gastos
A história que vou desmascarar é que um corte de gastos do Governo é contraproducente, que na verdade leva a uma piora da situação fiscal.
O argumento, de gente como Wolfgang Munchau, Martin Wolf e Dilma Rousseff, é
que um corte de gasto leva a uma queda no PIB. Com isso, a relação dívida sobre
PIB fica pior. Mas está errado.
Na figurinha ilustro como se comportam as séries no mundo
real. O eixo horizontal refere-se a tempo. O eixo vertical a alguma unidade
monetária. O experimento exógeno é cortar gastos do governo, a partir de um
certo momento. Com isso, o inicialmente PIB desaba, mas depois volta a crescer.
A relação dívida PIB piora no primeiro momento, mas depois começa a cair.
A lição é que não vale reclamar do ajuste no primeiro momento.
Há que se esperar um pouco, até que todos estejamos mortos, para ver os
verdadeiros efeitos do ajuste.
terça-feira, 27 de março de 2012
Back to the 80's
Para quem tem saudades
de algumas discussões do final dos anos 80, vale a pena ler este texto de José
Oreiro e Breno Lobo publicado ontem no Valor.
Aviso logo: não é tarefa fácil
entender as minúcias. Ainda assim, a valor de face os autores concluem que "a extinção
das LFTs [permite] a obtenção de um crescimento econômico mais estável e
patamares menores de inflação e de taxa de juros"
Ou seja, mudar de pós
para pré é verdadeiro Ovo de Colombo.
Tem também verdadeiros
clássicos dos anos 80 como "políticas de rendas" e "conflito
distributivo entre trabalhadores e capitalistas". As últimas discussões em que termos como estes apareceram custaram caríssimo para o Brasil. Vai saber ...
Mas mais importante foi
aprender que os resultados saíram de simulações com um "modelo dinâmico com
consistência entre estoques e fluxos" ou DSFC (naturalmente na sigla em
inglês).
Ignorante que sou, busquei no Google e apareceram inúmeros trabalhos de um grupo que se classifica como pós-keynesianos (nada a ver com a galera que prefere fazer parte do time de neo-keynesianos). Tem um tal de Dirk Bezemer
que diz que este pode ser o novo paradigma.
Dormi na aula do FK
tentando aprender o DSGE. Quem sabe encontro salvação no DSFC?
É mole?
Desemprego na Espanha
Vou tentar refutar os argumentos contrários a minha
conclusão de que a Crise do Euro - entendida como ruptura para mercados
financeiros - já acabou. Para começar, a história de que a situação atual é
politicamente insustentável. O dado preferido é que o desemprego na Espanha
para os com menos de 25 anos está em 50%. Tal nível supostamente implicaria em
uma revolução iminente.
Na figura a série do desemprego total (curva azul) e do
desemprego para os com menos de 25 anos (vermelha). Em geral esse gráfico é
mostrado a partir de 2000, e mostra um aumento violento do desemprego. Eu, que
não gosto de torturar os gráficos, consegui dados a partir de 1986.
É verdade que o ponto atual é o mais alto da série. Mas
também é verdade que eles já aguentaram desemprego de 45% mais de uma vez no
passado. Para comparar, eu também coloquei o nível de desemprego nos EUA na
outra figura. Se eu só tivesse mostrado os dados americanos para o horizonte
após 1985 você teria a impressão que a situação nos EUA é análoga à da Espanha, ou talvez até pior.
Quanto ao nível, por mais que me doa, confesso que não sei
bem o que o número de desemprego significa na Espanha. Se eles ficam recebendo
seguro desemprego e trabalhando informalmente (o tamanho do mercado informal na
Espanha é próximo ao do Brasil), se há ajuda e transferências substanciais
ocorrendo, se eles são vagabundos. Mas concluo, sem sombra de dúvida, que mesmo
se esse nível de desemprego chegar a 60% não teremos problema algum.
Blog novo
Dica de blog:
http://whynationsfail.com/
Não é tão bom quanto o Consciência, mas é melhor que os outros todos do mundo
http://whynationsfail.com/
Não é tão bom quanto o Consciência, mas é melhor que os outros todos do mundo
segunda-feira, 26 de março de 2012
Stock-Watson e o BLUES
Nesta última peça, os dois melhores econometristas do mundo (sem contar a Vera) mostram que estão aprendendo com meu modelo BLUES. Os achados são:
1)
Não houve nada de qualitativamente diferente na
grande recessão. Tudo se comportou conforme o previsto, dado que os choques
foram maiores. O papo do CESG-KR de que essa foi uma crise financeira, e
portanto diferente das demais, não está com nada.
2)
Cinco choques explicam tudo: (i) produtividade,
(ii) política monetária, (iii) política fiscal, (iv) petróleo (cost-push na inflação),
e (v) crédito (incerteza entra aqui).
3)
“Jobless recovery” é outro papo furado. O que
está acontecendo é redução demográfica do número de trabalhadores e
estabilização na taxa de participação das mulheres. (Equivalentemente, a para
aumentar o PIB potencial temos de fazer as mulheres trabalharem mais.)
domingo, 25 de março de 2012
Inflação e competição externa????
Tem economista por aí, muitos aliás, incluindo uns parrudos, dizendo que a inflação dos bens industrializados está contida no Brasil por conta da concorrência que o produtor de bens comercializáveis enfrentra do produtor externo!
"A inflação de serviços é alta porque não tem concorrência internacional, mas a inflação de bens industriais está contida porque nesse caso tem concorrência de fora" é uma frase comumente encontrada nos cadernos de economia do fim de semana.
E, no entanto, qualquer um que passa por um bom curso de Introdução à Economia deveria saber que concorrência afeta nível de preços, não sua taxa de variação.
Num mundo com total abertura e competição internacional, se um país impulsiona demais sua demanda doméstica, mesmo que a inflação em dólares esteja tranquila, vai vivenciar inflação dos bens comercializáveis pesada porque a expansão monetária que gera o excesso de demanda vem acompanhada de depreciação cambial.
No Brasil de 2002 já tinha competição externa, mas quando o câmbio saltou para 4,0, a inflação dos bens importáveis bombou pesado.
Não é o grau de competição externa, é a variação do câmbio composta com a inflação em dólares, senhores economistas!
sexta-feira, 23 de março de 2012
Kiwi no Brasil
Tudo é possível, e já se começou a falar em QE (Quantitative
Easing) no Brasil. O suposto motivo é poder fazer politica monetária mais
expansionista sem ter o problema de reduzir a Selic mais do que o atualmente
possível, dada a regra da Poupança.
Note que é tudo análogo aos EUA, substituindo moeda por
poupança. Em vez do piso da nossa taxa
de nominal juros ser zero, ele é dado pela remuneração mínima da Selic que não
implicaria numa fuga dos títulos do Tesouro para a Poupança. Igual o Bernanke,
o Tombini compraria títulos de longo prazo, imprimindo dinheiro. E imagino que
ele também controlaria a quantidade de dinheiro de tal forma a manter a Selic
no patamar anunciado, de 9%.
Eu acho que seria um grande barato, um sinal inequívoco de
nosso desenvolvimento como nação. Também uma oportunidade única de testar a
teoria que de que a demanda dos títulos alguma hora se inverteria. Conforme
mais títulos de longo prazo são comprados (e mais moeda é impressa), a
expectativa de inflação sobe. Alguma hora esse aumento de expectativa de
inflação supera a redução na expectativa de juros reais, fazendo com que os
juros nominais subam. Isto é, a partir de um ponto, quanto mais títulos o
Tombini comprar, menores serão os preços desses títulos (maiores serão os juros
nominais).
Estou ansioso.
Inflação na filial
Aquele breakeven de inflação até 2020 recuou um pouco. Deve ter sido o efeito do preço da passagem aérea sobre o hiato do produto.
Inflação na matriz
Amiguinhos, vejam que gráfico fofo.
Trata-se da inflação americana implícita em preços de ativos - o chamado 5y5y Forward Breakeven inflation computado por método que supostamente corrige distorções, em um trecho da curva interessante. Nunca li o paper. Mas, julgando pela complicação imagino que os caras que fizeram devem ser bastante inteligentes. Além disso, e mais importante, o Bernake falou acompanha a figura religiosamente.
Chama atenção a estilingada na ponta, não? Será que a inflação que tinha que ter aparecido e ainda não apareceu vai aparecer?
Trata-se da inflação americana implícita em preços de ativos - o chamado 5y5y Forward Breakeven inflation computado por método que supostamente corrige distorções, em um trecho da curva interessante. Nunca li o paper. Mas, julgando pela complicação imagino que os caras que fizeram devem ser bastante inteligentes. Além disso, e mais importante, o Bernake falou acompanha a figura religiosamente.
Chama atenção a estilingada na ponta, não? Será que a inflação que tinha que ter aparecido e ainda não apareceu vai aparecer?
quinta-feira, 22 de março de 2012
Macro V
Queridos alunos, conforme combinado nos vemos na proxima quinta. Por culpa do CT ouvintes não serão mais permitidos no curso.
Good wine needs no bush
Aproveitando o embalo, o tempo passa e vamos esquecendo alguns teoremas. A idade traz tolerância e flexibilidade, estimulando a adoção de um enfoque "mais amplo" com relação a tudo. Dito isso, não é preciso ser um liberal do Séc. XVIII para concluir que essa história de proteger a indústria nacional do vinho é uma tremenda estupidez. Penalizar todos os consumidores por conta de uma meia dúzia de gatos pingados que não consegue ser competitiva já com uma cunha gigantesca é o fim de tudo. Será que este é um setor "estruturante"?
PS para a tigrada que desvaloriza o Consciência: o título é do Billy Shakespeare
PS para a tigrada que desvaloriza o Consciência: o título é do Billy Shakespeare
Star Trek e juro neutro
Ontem tomei uma bronca
do professor sobre minha ausência no blog. Agora ele está ensinando as maravilhas do
DSGE para os incautos da FEA. O Dudu anda usando a régua para coletar um
novo banco de dados que permitirá estimar com precisão o potencial de
crescimento do Brasil.
Aproveito então para concluir o comentário sobre a questão do juro neutro. Revisando as metodologias propostas pelo
FK, há dois caminhos inconciliáveis. Num extremo encontram-se as
soluções que estruturam o problema de forma mais ou menos aderente com a
teoria, adotam uma série de hipóteses que tornam possível usar os dados disponíveis e
obtém respostas teoricamente robustas, mas inúteis e pouco críveis.
A outra opção é driblar
a teoria e usar técnicas que definem o juro neutro como sendo uma média da
sequencia de juros reais observados. O DSGWE é a versão mais tosca dessa família. Meu orientador torce o nariz por duas razões. Primeiro,
porque a média do juro real vem caindo e há inúmeras formas de caracterizar
esse comportamento. Segundo, porque a inflação efetiva tem superado persistentemente
a meta, sugerindo que o cômputo de uma média pode subestimar o juro neutro real.
Quando o problema não
tem solução, a melhor referência é o Capitão Kirk: mude o problema.
No nosso caso, uma
alternativa é: (i) construir um modelo simplesinho reproduzível por qualquer um em
que o juro neutro aparece como uma hipótese, (ii) usar o DSWGE ou coisa
semelhante para definir uma banda razoável de premissas para o juro neutro no
futuro, (iii) simular a trajetória da inflação.
Talvez você conclua - sem embromação do tipo "remuneração do capital em estado estacionário"
- que a premissa para o juro neutro seja de fato irrelevante no horizonte de
interesse. Talvez volte ao assunto.
BNDES e juro neutro
(esse post contém brevíssimas passagens wonkish mais para o final)
Não sonhei mais uma vez que o BNDES tinha fechado, mas tudo bem.
A pergunta que faltou responder: o "juro neutro" (aquele animal que equilibra dinamicamente demanda com oferta e deixa inflação estável) cai com a queda do BNDES?
Como já disse antes de ontem, com o fim da poupança forçada para financiar empresários ricos via BNDES, ocorrem duas coisas: por um lado, quem toma baratinho grana no BNDES se defrontará com juros mais altos, mas por outro o nego que hoje toma empréstimo a taxas de juros no mercado privado terá acesso a taxas menores. O primeiro efeito leva, ele isoladamente, a um "juro neutro selic" menor, como têm dito o Pérsio e o Alex Schwartsman: fim do juro subsidiado faz com BC não precise pegar tão pesado com a Selic para manter a inflação sob controle. Mas o segundo efeito vai na direção contrária, e o pessoal está se esquecendo dele...
Qual dos dois efeitos prepondera? Teoricamente depende da concavidade da função demanda por investimentos das empresas, é essa concavidade que determina se a demanda por investimentos do primeiro grupo cai mais do que a sobre a do segundo.
O FK simulou um modelinho com essas ideias e disse que o juro neutro cai (no modelo dele juro neutro não exatamente a taxa escolhida pelo BC, mas a remuneração do capital em estado estacionário), mas bem pouco.
Não sonhei mais uma vez que o BNDES tinha fechado, mas tudo bem.
A pergunta que faltou responder: o "juro neutro" (aquele animal que equilibra dinamicamente demanda com oferta e deixa inflação estável) cai com a queda do BNDES?
Como já disse antes de ontem, com o fim da poupança forçada para financiar empresários ricos via BNDES, ocorrem duas coisas: por um lado, quem toma baratinho grana no BNDES se defrontará com juros mais altos, mas por outro o nego que hoje toma empréstimo a taxas de juros no mercado privado terá acesso a taxas menores. O primeiro efeito leva, ele isoladamente, a um "juro neutro selic" menor, como têm dito o Pérsio e o Alex Schwartsman: fim do juro subsidiado faz com BC não precise pegar tão pesado com a Selic para manter a inflação sob controle. Mas o segundo efeito vai na direção contrária, e o pessoal está se esquecendo dele...
Qual dos dois efeitos prepondera? Teoricamente depende da concavidade da função demanda por investimentos das empresas, é essa concavidade que determina se a demanda por investimentos do primeiro grupo cai mais do que a sobre a do segundo.
O FK simulou um modelinho com essas ideias e disse que o juro neutro cai (no modelo dele juro neutro não exatamente a taxa escolhida pelo BC, mas a remuneração do capital em estado estacionário), mas bem pouco.
quarta-feira, 21 de março de 2012
Mantega e a intervenção não-esterilizada
Mesmo sem entender a fundo de economia, o Rajan diria que atual
intervenção cambial seria “não-esterilizada” se o Banco Central não estiver retirando
do mercado os Reais entregues em troca dos Dólares comprados. Acho que o Rajan se
confundiria, mas alguém um pouco melhor, como eu, poderia afirmar que, se este
for o caso, o efeito sobre a taxa de câmbio será efetivo e não somente provisório.
(Toda a discussão sobre a efetividade da compra de dólares pelo BCB só faz
sentido no caso da intervenção ser esterilizada).
No mundo atual, em que política monetária é feita com juros,
o papo do Rajan sobre a definição de esterilização é inútil. Eu, que sou bem melhor
que ele (como já havia dito), proponho uma definição bem mais útil. Se o Banco
Central abandonar sua politica monetária de meta inflacionária, e parar de elevar
os juros quando a inflação subir, as intervenções deixarão de ser
esterilizadas, e o Mantega terá controle pleno sobre o câmbio.
Inflação até 2020
A figura é análoga à que tinha mostrado para horizonte até 2014, mas agora é para 2020, e ainda mais impressionante. Em cima os juros nominais
e reais, embaixo a diferença dos dois (inflação implícita).
Sei que a liquidez dos papéis não é uma maravilha, que há
que se considerar um prêmio de risco, etc.. E vocês sabem que estou comprado em
inflação. Mas inflação em 6,2% por dez anos me surpreende.
terça-feira, 20 de março de 2012
O fim do BNDES
Eu sonhei que o BNDES tinha acabado.
Parecia tão real...mas quando o relógio despertou às 6hs e corri para ler as notícias percebi que tinha sido apenas um sonho mesmo. Naquele período que se segue ao despertar do corpo, essa confusão/ilusão é absolutamente normal: a mente ainda pensa estar no ambiente onírico por alguns minutos. Ao menos enquanto minha alegria durou, pude ver as consequências do fechamento do BNDES, e por isso resolvi escrever esse post.
Eu vi o que aconteceria com as taxas de juros de mercado se o BNDES acabasse: elas cairiam! Isso porque sem BNDES e FGTS/FAT parte não desprezível da poupança nacional passaria a tramitar via sistema bancário privado, aumentando a oferta de recursos e, por conseguinte, derrubando as taxas de juros aos tomadores finais no sistema privado. Assim, empresas hoje sem acesso ao funding subsidiado do BNDES tinham, no meu sonho, mais facilidade de tocar adiante projetos de investimento rentáveis. Sim, sim, quem hoje pega grana no BNDES precisaria pagar mais, mas por que mesmo isso seria ruim?? Se a lucratividade do projeto do sujeito for menor que o juro de mercado, o correto é ele realmente não investir, ora bolas!!
Pude ver no meu sonho o aumento da produtividade total da economia brasileira que resultaria de um fechamento do BNDES! O motivo eu (e tantos outros) já sabia antes mesmo de adormecer, e é o seguinte: hoje, uma empresa em posse de um projeto com taxa de retorno baixa (pense numa empresa pouco produtiva), mas com acesso às portas do BNDES, consegue viabilizar seu investimento enquanto outras, com taxa de retorno mais alta (empresas mais produtivas), porém sem acesso ao BNDES, deixam de investir por conta dos juros altos que predominam fora do "mundo BNDESiano". Isso gera uma produtividade total menor. A literatura econômica tem até um nome bonitinho para o fenômeno: "misallocation".
Isso para não falar da questão da desigualdade implícita aqui: o BNDES tributa os pobres ao remunerar sua poupança INVOLUNTÁRIA a taxas abaixo das de mercado, e pega essa grana para emprestar barato aos nossos ricos empresários.....chega a ser triste (não me lembro agora se chorei no sonho ou não, mas devo ter chorado sim)
E o juro neutro, ele cai com o fim do BNDES? Economistas bons como Pérsio Arida e Alex Schwartsman estão convencidos que sim. Será? Vou tentar sonhar com isso essa noite para ter uma boa resposta amanhã.
Parecia tão real...mas quando o relógio despertou às 6hs e corri para ler as notícias percebi que tinha sido apenas um sonho mesmo. Naquele período que se segue ao despertar do corpo, essa confusão/ilusão é absolutamente normal: a mente ainda pensa estar no ambiente onírico por alguns minutos. Ao menos enquanto minha alegria durou, pude ver as consequências do fechamento do BNDES, e por isso resolvi escrever esse post.
Eu vi o que aconteceria com as taxas de juros de mercado se o BNDES acabasse: elas cairiam! Isso porque sem BNDES e FGTS/FAT parte não desprezível da poupança nacional passaria a tramitar via sistema bancário privado, aumentando a oferta de recursos e, por conseguinte, derrubando as taxas de juros aos tomadores finais no sistema privado. Assim, empresas hoje sem acesso ao funding subsidiado do BNDES tinham, no meu sonho, mais facilidade de tocar adiante projetos de investimento rentáveis. Sim, sim, quem hoje pega grana no BNDES precisaria pagar mais, mas por que mesmo isso seria ruim?? Se a lucratividade do projeto do sujeito for menor que o juro de mercado, o correto é ele realmente não investir, ora bolas!!
Pude ver no meu sonho o aumento da produtividade total da economia brasileira que resultaria de um fechamento do BNDES! O motivo eu (e tantos outros) já sabia antes mesmo de adormecer, e é o seguinte: hoje, uma empresa em posse de um projeto com taxa de retorno baixa (pense numa empresa pouco produtiva), mas com acesso às portas do BNDES, consegue viabilizar seu investimento enquanto outras, com taxa de retorno mais alta (empresas mais produtivas), porém sem acesso ao BNDES, deixam de investir por conta dos juros altos que predominam fora do "mundo BNDESiano". Isso gera uma produtividade total menor. A literatura econômica tem até um nome bonitinho para o fenômeno: "misallocation".
Isso para não falar da questão da desigualdade implícita aqui: o BNDES tributa os pobres ao remunerar sua poupança INVOLUNTÁRIA a taxas abaixo das de mercado, e pega essa grana para emprestar barato aos nossos ricos empresários.....chega a ser triste (não me lembro agora se chorei no sonho ou não, mas devo ter chorado sim)
E o juro neutro, ele cai com o fim do BNDES? Economistas bons como Pérsio Arida e Alex Schwartsman estão convencidos que sim. Será? Vou tentar sonhar com isso essa noite para ter uma boa resposta amanhã.
Em Defesa do BCB
A economia é como um
transatlântico, não como uma lanchinha. A presença de contratos e custos de
ajustamento faz com que mudanças nos preços e nos investimentos aconteçam aos
poucos. Há muita inércia. Aquilo que ocorreu no passado imediato tem
importância imensa no futuro, o que faz com que as variações sejam suaves.
É normal dirigir um
transatlântico com manobras suaves, virando aos poucos a direção. Numa
lanchinha é possível dar cavalo de pau, fazer curvas agudas. O motorista pode
mover bruscamente a direção que a lanchinha responde. Em contraste, se o motorista
do transatlântico virar agressivamente sua direção o navio simplesmente o ignora.
Alguém que esteja observando o transatlântico nem perceberá se o motorista está
bêbado.
segunda-feira, 19 de março de 2012
Okun e PIB Potencial Americano
Na figura a relação entre crescimento do PIB (real, anual) e
variação aritmética da taxa de desemprego americano (no ano). O ponto vermelho é o
último dado.
A argumento do pessoal é que a reta que liga as duas taxas
(Okun) esteja mudando mais para baixo, da linha contínua para a pontilhada, ou
algo assim. Nesse caso, quando o desemprego se estabilizar, o PIB potencial (cruzamento
da reta com ordenada) será mais baixo do que o usual.
(Dá também para montar a história de forma mais formal,
propondo que o crescimento é função do crescimento potencial e da variação do desemprego.
Estimar incluindo lags e tendência, etc.. Além disso, há razões para crer que o PIB potencial está caindo, tal como a menor taxa de participação no mercado de trabalho, devido ao envelhecimento e aposentadoria prematura dos trabalhadores.)
sexta-feira, 16 de março de 2012
"Item 35"
O item 35 da Ata do copom divulgada ontem fez uma coisa inédita: afirmou onde a Selic vai parar: "um pouco acima do mínimo histórico (8,75%)". Quer dizer, 9%.
Isso não é meta de juro? Falar onde a Selic vai parar soa como meta de juro para mim.
Eles não deveriam ter escrito que "a Selic vai parar onde ela tornar o equilíbrio entre oferta e demanda compatível com a meta de 4,5%" ?? Não é esse o objetivo?
Pergunto-me, contudo, se devo acreditar num banco central que aparentemente muda de objetivo declarado a toda hora...meu Deus, que confusão.
Isso não é meta de juro? Falar onde a Selic vai parar soa como meta de juro para mim.
Eles não deveriam ter escrito que "a Selic vai parar onde ela tornar o equilíbrio entre oferta e demanda compatível com a meta de 4,5%" ?? Não é esse o objetivo?
Pergunto-me, contudo, se devo acreditar num banco central que aparentemente muda de objetivo declarado a toda hora...meu Deus, que confusão.
quinta-feira, 15 de março de 2012
O Rajan me ligou
Ele pediu para eu sugerir ao FK a leitura disso aqui
http://beta.project-syndicate.org/commentary/democratic-inequality
Esse post do Rajan tem várias ideias legais, começando pelo argumento não convencional que a queda da poupança em alguns distritos norte-americanos no pré-crise estave associada a aumentos da desigualdade local. O rico fica mais rico, o cara mais pobre que mora meio perto quer imitar os hábitos de consumo do primeiro e para isso toma mais empréstimo com base na sua casa. Ah, e os legisladores dos lugares com maior desigualdade ajudam essa dinâmica votando leis de liberalização financeira que facilitem a alavancagem das famílias.
http://beta.project-syndicate.org/commentary/democratic-inequality
Esse post do Rajan tem várias ideias legais, começando pelo argumento não convencional que a queda da poupança em alguns distritos norte-americanos no pré-crise estave associada a aumentos da desigualdade local. O rico fica mais rico, o cara mais pobre que mora meio perto quer imitar os hábitos de consumo do primeiro e para isso toma mais empréstimo com base na sua casa. Ah, e os legisladores dos lugares com maior desigualdade ajudam essa dinâmica votando leis de liberalização financeira que facilitem a alavancagem das famílias.
quarta-feira, 14 de março de 2012
Breakeven Inflation até 2014
Na parte de cima da figura a Pré e NTNB com vencimento em torno
de agosto/2014, a primeira indica os juros nominais e a segunda os juros reais.
Na parte de baixo a diferença das duas, que indica a inflação (breakeven inflation), com o usual caveat de que não estou fazendo a conta
direitinho. Veja como subiu no último mês: uns 40 bps (de 5,8% para 6,2%) num negócio quase sem volatilidade.
Eu havia comprado o breakeven
até 2013 em 30/janeiro (neste post), que também está subindo um pouco, mas nem se compara. Como
se diz no meio, eu acertei o cenário mas errei no instrumento (i.e., sou um
gênio e não sou culpado de não ter ganho dinheiro).
Moeda e Inflação IV
Tive ideia genial, até mesmo para os meus elevados padrões. Havia
mostrado nesse post a usual correlação entre moeda (M1) e inflação (CPI) para
longos horizontes de tempo (10 anos). Nas referidas figuras do Mervyn cada observação
corresponde à história de um país deferente. Mas por que não fazer o mesmo estudo
para um só país, utilizando diferentes intervalos no tempo? Tenho certeza que ninguém
nunca pensou nisso.
Na figura, o crescimento de M1 e inflação (CPI) para a
economia dos EUA no tempo. Cada pontinho corresponde a uma década, terminada
naquele ano. O gráfico se inicia no ponto 1969, mostrando a inflação e
crescimento da moeda na década que termina em janeiro de 1969. E daí vai, mês a
mês, até a década que termina em janeiro de 2012.
Até os 1980s está legal. Nesta fase sabemos que os agregados
monetários abandonaram os economistas. A partir de 1993, a inflação fica
ancorada no intervalo entre 2% e 4% enquanto a moeda pula pra lá e pra cá.
Desde 2008 o Bernanke está fazendo a moeda crescer em média
12% ao ano (não mostrado no gráfico). Com isso podemos concluir que, se o
tsunami monetário continuar, a inflação dos EUA atingirá um nível próximo a
terça-feira, 13 de março de 2012
Tamanho importa?
Algumas pessoas vivem dizendo que os economistas acadêmicos se debruçam quase somente sobre temas longe do mundo real, mas isso obviamente não é verdade.
Veja-se a título de ilustração esse artigo seminal de pesquisa sobre os determinantes empíricos do desenvolvimento: https://helda.helsinki.fi/bitstream/handle/10138/27239/maleorga.pdf
Usando técnicas estatísticas apropriadas, o sujeito chega à conclusão de que existe uma relação de U-invertido entre tamanho médio de pênis e desenvolvimento econômico de um país. Onde o pênis da galera é muito pequeno, a economia não se desenvolve; mas bilaus muito extensos tão pouco conduzem a altos níveis de renda por habitante, tudo o mais constante, claro.
Duas possíveis teorias explicam essa evidência empírica robusta. A primeira é que tamanho de bilau está associado a testosterona e essa por sua vez à disposição de assumir riscos. Nos lugares de gente do bilau curto, a baixa presença de testosterona significa aversão ao risco grande, uma certa pusilanimidade. Portanto, investe-se e empreende-se pouco, o que deprime o desenvolvimento. Mas, por outro lado, muita confiança e, portanto, excesso de investimento (associados aos penis longos demais) pode gerar overinvestment e crises que derrubam o PIB.
O outro canal ligando comprimento de pênis à renda per capita "na parte errada da curva de laffer (ou seja do pênis comprido demais)" é o seguinte: é possível que a utilidade marginal da renda seja decrescente no cumprimento do pênis, e que no âmbito do tradeoff clássico lazer x consumo, nos países de bilau mais comprido escolha-se em equilíbrio trabalhar menos horas.
Aparentemente, tamanho importa, mas a relação não é linear.
Veja-se a título de ilustração esse artigo seminal de pesquisa sobre os determinantes empíricos do desenvolvimento: https://helda.helsinki.fi/bitstream/handle/10138/27239/maleorga.pdf
Usando técnicas estatísticas apropriadas, o sujeito chega à conclusão de que existe uma relação de U-invertido entre tamanho médio de pênis e desenvolvimento econômico de um país. Onde o pênis da galera é muito pequeno, a economia não se desenvolve; mas bilaus muito extensos tão pouco conduzem a altos níveis de renda por habitante, tudo o mais constante, claro.
Duas possíveis teorias explicam essa evidência empírica robusta. A primeira é que tamanho de bilau está associado a testosterona e essa por sua vez à disposição de assumir riscos. Nos lugares de gente do bilau curto, a baixa presença de testosterona significa aversão ao risco grande, uma certa pusilanimidade. Portanto, investe-se e empreende-se pouco, o que deprime o desenvolvimento. Mas, por outro lado, muita confiança e, portanto, excesso de investimento (associados aos penis longos demais) pode gerar overinvestment e crises que derrubam o PIB.
O outro canal ligando comprimento de pênis à renda per capita "na parte errada da curva de laffer (ou seja do pênis comprido demais)" é o seguinte: é possível que a utilidade marginal da renda seja decrescente no cumprimento do pênis, e que no âmbito do tradeoff clássico lazer x consumo, nos países de bilau mais comprido escolha-se em equilíbrio trabalhar menos horas.
Aparentemente, tamanho importa, mas a relação não é linear.
Impacto do Irã sobre a Bolsa
No outro post disse
que 1% de queda no volume de petróleo implica em redução de PIB americano de
1%. Uma análise meia boca mostra que 1% de queda no PIB americano implica em
queda no S&P500 de uns 7%, e consequentemente uma queda no Bovespa de 10%.
No final, após todo o enrolation, tenho que 1% a menos na quantidade de petróleo leva a 10% de queda no Bovespa.
Legal, mas quanto é
que a produção de petróleo irá cair? Vou lhe dar algumas informações:
a)
O Irã
produz uns 5% do Petróleo Mundial
b)
Mas o Irã
pode fechar o estreito de Hormuz, por onde passam 20% do petróleo
c)
A Arábia
saudita, que produz 12% do petróleo, consegue fazer com que 6% consigam ser
exportados via tubulação, sem passar por Hormuz.
d)
Atualmente,
a Arábia Saudita pode expandir sua produção somente em 1,5% do volume mundial (e é o único país com capacidade ociosa)
e)
A IEA (international Energy Agency, composta dos países do bem, como por exemplo a América) tem reservas suficientes para 4
meses de petróleo.
f)
Devido ao
uso de um cimento especialmente duro (que ironicamente é uma das únicas coisas
que o Irã sabe fazer bem), para atingir o bunker em que se está enriquecendo unânio
é necessário arma atômica.
g)
O embargo
ao Irã está de fato incomodando, levando a falta de alguns alimentos e inflação.
Conclusão: O potencial de confusão e queda de
produção de petróleo é imenso. É fácil construir cenários em que a bolsa cai
30%. Mas dado que não há alternativa militar de baixo risco, o mundo terá que
aprender a conviver com um Irã com bomba atômica. E a bolsa não vai cair nada.
segunda-feira, 12 de março de 2012
Impacto Econômico do Petróleo
Sei, a pergunta já
está velha, mas após ler a pesquisa do JPMorgan e Goldman, chegar a conclusão
de que eles não entendem a diferença entre oferta e demanda e não apreciam o
poder da não-linearidade, resolvi intervir. O mundo precisa que O Consciência
esclareça mais um tema.
Na tabela cálculos de
elasticidade de demanda por gasolina e petróleo. Eu gosto do valor de 0,07. Ele
significa que se o volume (físico) de petróleo cair 1%, por exemplo porque
Israel jogou uma bomba no Irã, o preço irá subir uns 15%.
O melhor mapeamento do
preço para o PIB ainda é o do Hamilton 2003, cuja resposta impulso, no caso
mais extremo de não-linearidade, coloquei na outra figura. Em palavras, 10% de
aumento permanente de petróleo leva a uma queda no nível do PIB americano de 1%
(após 7 trimestres). No caso atual, em que a não-linearidade não se aplica em
toda extensão, porque o petróleo já estava muito caro em 2008, eu sugiro
utilizar um multiplicador de 0,7. Assim, o aumento do preço de 10% leva a uma
queda no PIB de 0,7%.
O resultado final é
que uma redução de 1% na quantidade de petróleo implica em queda do PIB de 1% (i.e., 15*0.7).
Eu volto alguma hora para dizer o que vai acontecer com a Bolsa.
domingo, 11 de março de 2012
Termodinâmica para Economistas II (meio complicado)
É verdade que Economia é sobre alocação. Mas ela envolve
também a alocação feita para se produzir bens. Assim, ao resolver um modelo, além
de descobrir para quem vai cada fatia da torta também temos de encontrar o
tamanho da torta. Consequentemente, diferentes equilíbrios econômicos podem ter
mais ou menos energia. Por isso é que a resposta ao post anterior foi “não”.
Suponha que através de suas operações Banco Central Europeu
fará com que a Europa trabalhe e produza mais. Daí, a arrecadação com imposto
inflacionário poderá ser menor do que o bailout (ajuda) feita à Itália. Em
outras palavras, a quantidade de energia perdida na Itália não tem de ser
integralmente recuperada com inflação, porque mais energia foi inserida no
sistema.
Essa lógica está por traz do argumento de armadilha de liquidez (liquidity trap) do Paulo Krugman. Esse sujeitinho acredita que não haveria custo algum se o Banco Central for “crivelmente irresponsável”, porque isso reduziria ineficiência criada pela impossibilidade dos juros nominais serem negativos. A economia se recuperaria e todos sairíamos ganhando.
Como sempre não há nenhuma inconsistência teórica no argumento do Paulo. Mas, também como sempre, ele está errado e eu estou certo.
sexta-feira, 9 de março de 2012
Eu e a Selic
Eu às vezes acertava a Selic no passado. Agora não consigo mais. Fiquei mais burro repentinamente (vejam que esse é um argumento de variação, não de nível), ou a função objetivo do BC está esquisita?
A inflação de curto prazo está tranquila, é verdade, mas e a meta de 4,5% que o Tombini jura de pé junto que persegue? Nesse passo, em 2013 a inflação estará lá perto dos 6%...ah, é verdade que eu mesmo já disse que não tem mais isso de meta de 4,5%....acho que estou com sono.
O governo odeia real forte, e isso poderia ter motivado a acelerada na queda do juro, mas o real até que perdeu um pouco recentemente (vou ter que comprar menos livro na Amazon...)
O governo se preocupa bem com a atividade, mas esse dado de produção industrial de janeiro foi muito influenciado por um evento automobilístico/mineralístico específico, então fico pensando que esse não pode ter sido o "trigger" também.
Caramba, estou muito confuso. Acho que vou começar a dizer que tem meta de juro. É isso, para o próximo jornalista que me ligar vou dizer que tem meta de juro sujeito à restrição da inflação não passar de 6,5%. Aí quando ele me perguntar qual é a meta de juro eu desligo o telefone.
quinta-feira, 8 de março de 2012
Indústria vai mal pero no mucho
O Chico é um dos mestres
do DSGE. Ganhou o prêmio Álvaro Zini junto com o FK por introduzir a
metodologia no Brasil em artigo seminal para a revista American Economic
Review Estudos Econômicos.
Mas também domina a
arte do DSGWE. Hoje cedo, mostrou-me este gráfico. As curvas mostram a evolução
da produção industrial total e excluindo a produção de caminhões.
A partir de janeiro,
as montadoras têm sido obrigadas a produzir caminhões com motores menos poluentes,
mas mais caros. Reagindo à mudança, pisaram no acelerador nos meses finais de
2011, acumulando estoques (dá para demonstrar este ponto graficamente também).
É interessante notar
que, sem este ruído, a produção parece estar reagindo na margem. Vai ser duro segurar a inflação que vem por aí - no Brasil e no Mundo - com toda essa avalanche monetária.
PS: não esqueci da resposta que devo ao FK.
quarta-feira, 7 de março de 2012
Call de Câncer
Abaixo o preço de um título emitido pela Petróleos de
Venezuela S.A.. Uma rigorosa analise estatística sugere que ele se comporta
como uma opção de compra sobre a próstata do Hugo. Ainda estou estudando se vale
a pena.
Termodinâmica para Economistas
Eu sempre acho útil pensar em crises usando a primeira lei
da termodinâmica de conservação de energia. Por exemplo, suponha que num
primeiro momento os gregos gastaram mais do que tinham, se endividando. No
momento seguinte, alguém terá de pagar: (i) os próprios gregos podem consumir
menos do que ganham, (ii) os troianos, que foram bobos de comprarem a dívida
grega, tomam um calote nos seus títulos, e (iii) todos os europeus, sofrendo
repressão financeira e pagando mais impostos, inflacionário ou não.
A primeira pergunta interessante é o que ocorrerá no caso da
Itália. Minha leitura, vocês sabem, é que o Banco Central Europeu está
discretamente salvando a Itália. Com isso, hoje os europeus já estão recebendo
juros reais negativos (nos títulos alemães) e, no futuro, vão aprender o que é imposto
inflacionário.
A segunda pergunta é: será que a quantidade paga com
repressão mais imposto inflacionário é igual à quantidade de dívida italiana
que desapareceu? Isto é, será que a lei da termodinâmica pode ser aplicada à
Economia?
terça-feira, 6 de março de 2012
Menos Duas Metodologias para Juro Neutro
Em sua provocadora estreia, o CT (i) colocou-se cético com
relação aos modelos DSGE e reclamou que eu não expliquei bem porque nesses
modelos o juro neutro não é muito importante, e (ii) resmungou sobre minhas
complicadas explicações, que deixam o blog chato. Fiquei matutando como
satisfazer (i) e (ii) simultaneamente na minha réplica, e não cheguei a
conclusão alguma.
Daí fui buscar o tal mendigo na Praça da Sé para ver se ele
me ajudava. Encontrei um sujeito estrábico, sentado sobre uma caixa de papelão, vestindo um agasalho da UCLA, folhando um livrinho cinza, cheio de fórmulas. Não sei se era ele ou não. (CT: coloquei
a foto dele abaixo para ver se vc o reconhece). Meio de mau-humor com minha
interrupção, ele manteve um olho nas equações e com o outro me olhou, e disse: “For
every complex problem there is an answer that is clear, simple, and wrong.”
Armado com essa máxima, cheguei a uma solução para o
problema colocado pelo CT. Vou retirar duas das metodologias antes propostas
para calcular juro neutro:
(-5) Esqueça o DSGE como possiblidade. Lembrei-me que na
metodologia do Laubach e Williams (2003), citada antes, o juro neutro também é
praticamente irrelevante para projeção de inflação. Isto porque, assim como num
DSGE, nessa metodologia a projeção depende da pré-filtragem dos dados. O DSGE só serve para tornar essa outra metodologia mais robusta e bem fundamentada, mas isso não importa.
(-4) Esqueça também a metodologia de ignorar as equações e
somente filtrar o juro real observado no passado. Por que? Pois estou
desconfiado que o DSGWE do CT vai utilizar alguma variante dessa técnica, e quero evitar
qualquer constrangimento.
Dilma versus Merkel; Bernake versus Draghi; Rogoff versus X
Post com passagens wonkish...
As duas primeiras duplas do título andam se bicando por conta dos efeitos de certas políticas monetárias sobre taxas de câmbio. O Bernanke reclama do kiwi (QE) europeu, enquanto o Brasil reclama de qualquer kiwi...
(Os economistas do governo brasileiro -- e aparentemente a presidente também -- andam tão estressados com os patamares em que o real vem sendo negociado que intervencionices adicionais no mercado de moedas têm alta chance de serem implementadas nas próximas semanas aqui em Pindorama)
Quem se sente lesado, clama por maior "coordenação das políticas monetárias". É uma terminologia deliciosa de pronunciar, soa sábio e altruista ao mesmo tempo. Evoca-se o glorioso encontro do G-20 em 2009, onde os líderes mundiais "mostraram que é sim possível desenhar políticas econômicas coordenadamente". Ingenuidade intelectual. Em 2009 houve forte grau de concordância sobre o que fazer porque quase todas as economias demandavam o mesmo tipo de resposta à crise que se instalava com virulência; não porque lá eram todos mais benevolentes com os outros e hoje repentinamente essa suposta amizade tenha desaparecido.
É lógico que há domínios de política econômica em que cooperação com o vizinho é benéfico para cada nação isoladamente, mas isso não invalida o ponto de que cada um pensa na relação custo/benefício própria. Resumindo o ponto com jargão acadêmico: em jogos não-cooperativos pode haver ganhos de coordenação; mas quando "desviar" for ótimo, não se deve esperar outra coisa.
Rogoff versus X
O Ken Rogoff (o FK chama ele de KR) tem dois papers importantes publicados em 1985. Muito conhecido é o do "tough central banker", no QJE, onde ele mostra a optimalidade de se delegar a política monetária a alguém mais durão do que a média da sociedade. Mas tem um outro legal no JIE, sobre....coordenação e guerras cambiais !! O ponto dele é que num mundo com dois países, quando ambos praticam expansão monetária coordenadamente e, portanto, a taxa de câmbio não se mexe, é menos custoso monetizar e assim há maior tentação para o BC doméstico inflacionar a economia (o que é ruim em média). Não ter coordenação é portanto bom nesse artigo!
Veja o seguinte detalhe: é menos custoso expandir quando o outro expande a moeda também pois assim a moeda local NÃO se deprecia. Depreciação da moeda é um custo, sim, um custo. No modelo do KR isso se deve ao fato das empresas importarem insumos de produção.
Minha pergunta: por que as pessoas se queixam justamente do contrário, que não coordenar é ruim porque o câmbio de quem não expandiu APRECIA?
a) Porque o mais importante nesse momento é pensar em demanda agregada
b) Porque a maioria dos analistas nunca pensa em impactos de oferta
c) Porque o lobby do setor de comercializáveis é desproporcionalmente forte
d) Porque com mercados incompletos apreciações temporárias da taxa de câmbio geram fechamento de fábricas rentáveis no médio prazo
Votem, por favor.
As duas primeiras duplas do título andam se bicando por conta dos efeitos de certas políticas monetárias sobre taxas de câmbio. O Bernanke reclama do kiwi (QE) europeu, enquanto o Brasil reclama de qualquer kiwi...
(Os economistas do governo brasileiro -- e aparentemente a presidente também -- andam tão estressados com os patamares em que o real vem sendo negociado que intervencionices adicionais no mercado de moedas têm alta chance de serem implementadas nas próximas semanas aqui em Pindorama)
Quem se sente lesado, clama por maior "coordenação das políticas monetárias". É uma terminologia deliciosa de pronunciar, soa sábio e altruista ao mesmo tempo. Evoca-se o glorioso encontro do G-20 em 2009, onde os líderes mundiais "mostraram que é sim possível desenhar políticas econômicas coordenadamente". Ingenuidade intelectual. Em 2009 houve forte grau de concordância sobre o que fazer porque quase todas as economias demandavam o mesmo tipo de resposta à crise que se instalava com virulência; não porque lá eram todos mais benevolentes com os outros e hoje repentinamente essa suposta amizade tenha desaparecido.
É lógico que há domínios de política econômica em que cooperação com o vizinho é benéfico para cada nação isoladamente, mas isso não invalida o ponto de que cada um pensa na relação custo/benefício própria. Resumindo o ponto com jargão acadêmico: em jogos não-cooperativos pode haver ganhos de coordenação; mas quando "desviar" for ótimo, não se deve esperar outra coisa.
Rogoff versus X
O Ken Rogoff (o FK chama ele de KR) tem dois papers importantes publicados em 1985. Muito conhecido é o do "tough central banker", no QJE, onde ele mostra a optimalidade de se delegar a política monetária a alguém mais durão do que a média da sociedade. Mas tem um outro legal no JIE, sobre....coordenação e guerras cambiais !! O ponto dele é que num mundo com dois países, quando ambos praticam expansão monetária coordenadamente e, portanto, a taxa de câmbio não se mexe, é menos custoso monetizar e assim há maior tentação para o BC doméstico inflacionar a economia (o que é ruim em média). Não ter coordenação é portanto bom nesse artigo!
Veja o seguinte detalhe: é menos custoso expandir quando o outro expande a moeda também pois assim a moeda local NÃO se deprecia. Depreciação da moeda é um custo, sim, um custo. No modelo do KR isso se deve ao fato das empresas importarem insumos de produção.
Minha pergunta: por que as pessoas se queixam justamente do contrário, que não coordenar é ruim porque o câmbio de quem não expandiu APRECIA?
a) Porque o mais importante nesse momento é pensar em demanda agregada
b) Porque a maioria dos analistas nunca pensa em impactos de oferta
c) Porque o lobby do setor de comercializáveis é desproporcionalmente forte
d) Porque com mercados incompletos apreciações temporárias da taxa de câmbio geram fechamento de fábricas rentáveis no médio prazo
Votem, por favor.
segunda-feira, 5 de março de 2012
Diagnóstico Superficial Gráfico Without Embromation
O FK informou que o seu
DSGE – o Chorinho – dispensa um grande dissabor da profissão: adivinhar o juro
neutro, ou seja, aquele que é compatível com taxa de inflação estável.
Animado, perguntei ao mestre
como o DSGE consegue a proeza. Afinal, penso que para saber se o juro está alto
ou baixo é preciso ter uma base de comparação.
Ela pode ser explícita,
sob a forma de uma premissa para o juro neutro, ou estar escondida de alguma
forma nas entranhas do método usado para prever a inflação como função da
política monetária.
Vejam a resposta: “a
explicação está intimamente ligada ao processo utilizado nas projeções feitas
através de um modelo DSGE, que está baseado numa utilização consistente dos
choques previamente estimados”.
As lições do FK são para mim verdades (quase) inquestionáveis. Como a resposta deixou uma sensação estranha, corri para a Praça da Sé, selecionei aleatoriamente 100 pessoas e perguntei a elas o que acharam da explicação.
Para a minha surpresa, 96 selecionaram a opção “cristalina como a água benta da Catedral”. Três escolheram a alternativa “ligeiramente confusa”. Um mendigo optou por “sbiriguda veniale la supercazzola prematurata con doppio scappellamento a destra e guida a sinistra, oppure tarapia tapioco come se fosse antani”.
Ainda, o mendigo aproveitou para dizer que ele tem achado o Consciência um pouco complicado e, por isso, tem preferido folhear a Econometrica.
Atendendo ao mendigo, estréio na nova casa tratando do juro neutro a partir de um arcabouço que considero bastante útil: o Diagnóstico Superficial Gráfico without Embromation – ou, para simplificar, DSGE.
Medite um pouco sobre as características da figura abaixo, com a trajetória recente do juro real e, no próximo capítulo, vamos aplicar o DSGE.
CBO vs BLUES (Expectativas Irracionais)
Na figura, a projeção
do PIB feita pelo CBO (Congressional Budget Office), órgão apartidário responsável
por projeções de orçamento, lá na matriz. Os valores são trimestrais
anualizados, do cenário denominado de “baseline”. O barato é olhar a queda no
primeiro tri de 2013, que se deve à hipótese de grande aperto fiscal, tanto
aumento de impostos como queda de gastos.
O CBO chega nesse resultado através de um “raciocínio keynesiano”.
Assume um PIB potencial (o qual por sua vez é calculado a partir de hipóteses
de produtividade, força de trabalho, etc) e subtraem o efeito da política
fiscal (utilizando um multiplicador). Como o grosso do ajuste fiscal ocorre no primeiro
tri de 2013, a redução do crescimento do PIB fica concentrada nesse período. Se
o Congresso conseguir postergar o ajuste por mais um ano, o CBO lhe dirá que a
queda no crescimento também foi adiada.
O BLUES, meu sensacional modelo DSGE para os EUA, também
tenta capturar o efeito do aperto fiscal, mas com metodologia bem melhor. Os
agentes econômicos inteligentes antecipam a política fiscal, e já reduzem o
investimento agora. (Tecnicamente, a dívida do governo é uma variável de estado,
e os impostos e gastos do governo são funções dessa dívida). Como consequência, mesmo se o
Congresso postergar o ajuste fiscal, o crescimento americano será medíocre pela
antecipação do que virá no futuro.
sexta-feira, 2 de março de 2012
KR Plagiando CESG
Esse tal de Keneth leu o post do CESG e o roubou, sem dar o devido crédito:
http://www.project-syndicate.org/commentary/rogoff90/English
http://www.project-syndicate.org/commentary/rogoff90/English
Ganho das NTNBs longas
Com o fechamento do mês tive agradável surpresa: ganhei um
dinheirão nas minhas NTNBs longas. Fiquei me perguntando por que os juros reais
de longo prazo caíram. Sempre achei que eles
são altos demais, que alguma hora vão convergir aos padrões internacionais, mas
porque agora?
A figura a curva azul mostra os juros reais nos próximos
dois anos. A curva vermelha mostra os juros reais nos cinco anos seguintes a
partir do quinto ano (i.e., os juros médios entre o quinto e décimo ano).
Note que o movimento foi nos juros curtos, não longos. Política
monetária, não convergência aos padrões internacionais. Ainda não foi dessa vez
que convergimos. E mais uma vez eu ganhei por pura sorte.
quinta-feira, 1 de março de 2012
CACs (cláusula de ação coletiva)
Não há como responder com certeza a pergunta que o mercado hoje se faz: "havendo o parlamento grego aprovado a tal cláusula de ação coletiva, podem os que investidores privados que não participarem do swap de dívida soberana acionarem os CDS"?
Eu acho que sim, que podem e que vão acionar, mas como vai ter um rolo jurídico aqui, é difícil ser categórico sobre o resultado final. Mas vai ter bagunça.
Para mim, que gosto mais de teoria e menos de conjuntura, o mais interessante é entender se as CACs ajudam ou não o emissor a se financiar mais barato. A resposta não é óbvia, dado a existência de dois efeitos opostos. O ponto é o seguinte: a dívida com CAC minimiza os custos associados à turbulência gerada por um default, dado que o problema de coordenação na renegociação com os credores no período que se segue ao anúncio do calote é bem menos agudo. Isso vem para o bem e para o mal. Por um lado, o fato de acordos pós-default serem mais céleres com CACs do que sem elas minimiza os custos de desorganização econômica que o devedor sofre quando aplica o calote, o que por sua vez aumenta o valor do seu ativo ex-ante. Mas, por outro, ao diminuir o sofrimento associado ao default, as CACs o tornam uma opção mais atraente para o devedor. Ah, e o credor obviamente entende isso.
Qual efeito prevalece?
O Eichengreen e o Mody sugerem nesse artigo (http://www.nber.org/papers/w7458) que depende do rating de crédito do emissor. Para um nego com baixo rating de crédito, predomina o "efeito picareta", e os juros são mais altos, enquanto para emissores vistos como de menor risco, predomina o outro e os juros são menores.
Eu acho que sim, que podem e que vão acionar, mas como vai ter um rolo jurídico aqui, é difícil ser categórico sobre o resultado final. Mas vai ter bagunça.
Para mim, que gosto mais de teoria e menos de conjuntura, o mais interessante é entender se as CACs ajudam ou não o emissor a se financiar mais barato. A resposta não é óbvia, dado a existência de dois efeitos opostos. O ponto é o seguinte: a dívida com CAC minimiza os custos associados à turbulência gerada por um default, dado que o problema de coordenação na renegociação com os credores no período que se segue ao anúncio do calote é bem menos agudo. Isso vem para o bem e para o mal. Por um lado, o fato de acordos pós-default serem mais céleres com CACs do que sem elas minimiza os custos de desorganização econômica que o devedor sofre quando aplica o calote, o que por sua vez aumenta o valor do seu ativo ex-ante. Mas, por outro, ao diminuir o sofrimento associado ao default, as CACs o tornam uma opção mais atraente para o devedor. Ah, e o credor obviamente entende isso.
Qual efeito prevalece?
O Eichengreen e o Mody sugerem nesse artigo (http://www.nber.org/papers/w7458) que depende do rating de crédito do emissor. Para um nego com baixo rating de crédito, predomina o "efeito picareta", e os juros são mais altos, enquanto para emissores vistos como de menor risco, predomina o outro e os juros são menores.
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