Conjuntura às vezes cansa, e como estou muito cansado hoje resolvi apresentar aqui um modelo curioso que sugere que "ação afirmativa" (programas que favorecem minorias) pode ser algo bom em termos sociais.
Claro, qualquer ação para ajudar minorias -- negros, azuis, amarelos, etc -- carrega custos associados, principalmente, à ausência do critério meritocrático. Então cada caso merece análise especial. Meu propósito aqui, no entanto, é apenas colocar no debate um ingrediente teórico a mais.
Modelo de racismo estatístico
Hipoteses:
(a) Entre os motoristas de taxis, há inicialmente um pequeno percentual de pessoas racistas.
(b) Na população de negros e brancos esperando táxis, o percentual de ladrões é inicialmente idêntico, x%.
Conclusões
1. mesmo motoristas não racistas evitarão pegar passageiros negros ("racismo estatístico").
2. se o governo pudesse forçar todos motoristas a não rejeitarem passageiros negros (ação afirmativa), todos ganhariam.
Explicação
Se um pequeno número de motoristas rejeita alguns negros, o que ocorre? Os negros honestos, cansados de esperar, preferirão outro modo de transporte, como ônibus, metro ou carro. Mas os negros ladrões continuarão esperando os taxistas não racistas pararem, dado que seu propósito é justamente assaltá-los. Do seu lado, os brancos honestos não precisam esperar tempo excessivo, então esses seguem usando normalmente o táxi. E claro, o mesmo vale para os brancos ladrões, que estão ali justamente para roubar. O racismo de alguns motoristas então altera, com o tempo, o mix (honestos versus ladrões) entre os negros que pegam táxi, mas não afeta o mix (honestos versus ladrões) dos brancos que pegam táxi. Portanto, em equilíbrio, esse problema de seleção adversa faz com que seja de fato maior a probabilidade de um motorista ser assaltado ao pegar um passageiro negro, pois os negros honestos, cansados de esperar, estão sub-representados nessa amostra. Assim, mesmo motoristas não racistas vão parar menos para os negros, agravando o problema inicial. Note-se que o percentual de ladrões é igual nas duas populações: o que muda por conta do racismo inicial é que os negros ladrões estão sobre-representados na amostra de pessoas esperando táxis.
Se todos os taxistas fossem obrigados por decreto a parar para os passageiros negros, os negros honestos nesse modelo gradualmente voltariam a pegar táxi, diluindo a representatividade dos negros bandidos na amostra para o mesmo percentual de brancos bandidos. Nesse exemplo, portanto, tal medida de ação afirmativa faz todo sentido!
Interessante. Faz sentido sim. Ou faria, exceto por ter lembrado amigo de muito bom humor.
ResponderExcluirNos tempos em que nem ônibus paravam nos pontos onde haviam muito passageiros negros esperando-os, ele refletia.
Dizia que não acreditava que o Brasil era um País racista. Só que, caso fosse sequestrado e as autoridades fossem avisadas, com certeza teria uma certa dificuldade em provar que não era o bandido sequestrador.
Difícil saber o que um sistema de ações afirmativas poderia resolver em casos assim. Mas, ele também dizia que havia um método científico para resolver tais coisas.
Era algo simples e direto: na dúvida, sempre atire no preto.
Com nuances. Se fossem dois pretos, atire sempre no mais preto.
Mas daí vem a economia comportamental: com ato de decretar que os taxistas parassem para todos os negros, criar-se-ia uma repercuçao e provavelmente a parcela negra e bandida em geral saberia da presa facil e o percentual de negros bandidos aumentaria em relaçao ao percentual inicial.
ResponderExcluir