segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O lado realmente negativo das "políticas afirmativas"

A propósito do sempre polêmico tema das cotas, li um artigo interessante neste final de semana, no Wall Street Journal.

Também lá na matriz a discussão sobre a pertinência dessas medidas é normalmente focada na questão de saber se faz ou não sentido adotar políticas que poderiam ser consideradas discriminatórias contra brancos ou quaisquer fatias da população não contempladas.

Esse é o teor da controvérsia aqui na filial, como pode ser visto nesta matéria. Os opositores classificam a medida de injusta contra os não contemplados e os defensores falam em resgate de "dívida histórica".

A conjuntura eleitoral evidentemente ajuda muito a trazer lucidez e profundidade ao debate.

Um problema com este tratamento da questão é que, implicitamente, pressupõe-se que políticas desse tipo trazem apenas benefícios e poucos custos. Afora o rótulo pejorativo de "aluno ou funcionário de cota", normalmente se considera que cotas trazem apenas benefícios aos contemplados.

A pesquisa dos autores do artigo do WSJ mostra que não é bem assim.

A evidência americana revela que os beneficiados por preferências de quaisquer tipos - raciais, habilidades esportivas, conexões - são vítimas de efeitos perversos como: (i) desempenho muito abaixo da média, (ii) abandono de carreiras de "hard science", (iii) níveis elevados de auto-segregação no campus, (iv) auto-estima e confiança intelectual diminuída e (v) e dificuldade muito maior de aprovação em testes para obtenção de licenças (como o da OAB no Brasil).

Todos esses efeitos não soam pouco intuitivos para quem provavelmente pensou mais do que 10 minutos sobre a questão. A parte notável da evidência estatística é a constatação de que o inverso também é válido. Os problemas desaparecem para os mesmos estudantes quando eles entram em escolas em que o aluno mediano tem o mesmo nível de preparação acadêmica. Quando não há o problema que os autores classificam de "mismatch", os sintomas nocivos somem: aumenta a auto-confiança, a chance de escolha de carreira afinada com as aspirações, amizades e casamentos inter-raciais e etc.

Aprendi lendo este artigo, por exemplo, que a proporção de alunos hispânicos e negros que aspiram carreiras em áreas de engenharia e ciências é maior nos EUA - fato confirmado por diversos estudos feitos por psicólogos. Ao receber preferência em escolas de elite, eles têm dificuldade de acompanhar e tendem a migrar para áreas de "humanas" - cujos sistemas de avaliação são menos punitivos. O resultado distorcido é que os alunos brancos têm sete vezes mais chance de entrar em um curso de pós-graduação em engenharia e ciência.

Recomendo fortemente a leitura para quem quiser coletar dados para formar opinião sobre esse assunto delicado.

5 comentários:

  1. Olhei só "asfigura", mas acho que os argumentos não ficam em pé dois segundos...

    O jeito certo de avaliar se as políticas afirmativas favorecem ou não seus beneficiários não seria comparar a proporção de formandos brancos e negros COM políticas e SEM políticas?

    O gráfico fornecido indica que mais negros que entram na faculdade desejariam se formar em "sciences" do que realmente se formam, não que mais negros se formariam se não houvesse políticas.

    Isso aqui também parece besteira: "Over time, however, complacency and the rapid rise of the black upper middle class has changed that; in the 1990s, only 8% of black students at selective schools came from the "bottom half""... Ora, a "rápida ascensão da classe média alta negra" não tem nada a ver com essas políticas?

    É claro que ao longo dos anos a política pode ter o efeito de aumentar as diferenças socioeconômicas entre os negros, mas qual teria sido a alternativa: deixar que todos os negros continuassem pobres?

    De todo modo, que os americanos queiram rever agora estas políticas é problema deles. Mas a questão é: estão revendo porque elas não funcionaram ou porque elas cumpriram razoavelmente seu papel reduzindo as diferenças sociais e econômicas entre negros e brancos?

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  2. Resposta direta não há. O que há é a desnecessidade de implementarem aqui cotas para tudo, pouco importando o planejamento das coisas. Por exemplo, já há quem esteja se referindo ao Ministro Joaquim Barbosa do STF como "cotista". Cotista de quê? E por quê? Oras, porque só poderia chegar onde chegou, por ser negro, só pode ter sido por cota e não por mérito. Se assim for, os brancos são 100% cotistas. Pois, só se vê brancos em todos os cargos de alto nível e salário...Oras, estão transformando este País num verdadeiro hospício. O bom e velho investimento na Educação básica, universalizando-a do berçário ao Segundo Grau, inclusive o Segundo Grau Técnico, não teria melhor efeito? Ou teriam cotas também no ensino médio universal e de qualidade? Em suam, não sabem o que querem, mas, desde que dê votos, fazem.

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  3. Para o Delfim Bisnetto

    Walter Williams - Economista negro americano é contra as cotas raciais

    http://www.youtube.com/watch?v=dMsV6pzxybM

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  4. O fato de o cara ser negro é irrelevante para o debate.

    Eu não sou nenhum grande entusiasta do sistema de cotas, só acho que os argumentos contrários que conheço são fracos e geralmente tentam desviar a questão da desigualdade racial (que é o problema fundamental que as políticas visam combater) para a melhora relativa na vida dos negros.

    E daí que os negros americanos formariam a 14a ou 15a economia do mundo? O país como um todo é o primeiro...

    Também não adianta pegar pegar um ou outro cara que conseguiu ter sucesso sem cotas, seja na faculdade, seja no basquete. Esses caras são a exceção: política públicas têm que olhar pra média.

    Por outro lado, para um forte argumento a favor de políticas afirmativas, basta olhar para os tipinhos que aparecem nos vídeos sugeridos pelo YouTube. :P

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  5. Em tempo, vocês poderiam "liberalizar" os requisitos de comentário. Dá muito trabalho comentar aqui: tem que fazer login, ficar identificando letra distorcida...

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