quarta-feira, 16 de maio de 2012

Transição para o New Drachma


Suponha que a Troica (Banco Central Europeu, FMI e Conselho Europeu) param de suportar a Grécia, e que o BCE também opte por cortar a liquidez aos bancos gregos, quiçá porque seus títulos deixaram de servir como colateral. O Niko e outros gregos que estavam dormindo finalmente decidem sacar seus Drachmas dos bancos. Essa corrida é suficiente para criar falta de liquidez necessária, levando a quebra do sistema financeiro grego.

Antecipando-se a quebra, o Governo grego decide utilizar seu estoque de papel higiênico que, após ser carimbado, dá origem ao New Drek. Declara feriado bancário para dar tempo de carimbar bastantes rolos. Na segunda-feira, os bancos abrem e estão dispostos a dar Dreks para quem quiser sacá-los. Quantos centavos de Euro vai valer cada Drek? Antes disso, quantos Dreks o Governo vai trocar por cada Euro que o Niko (achava que) tinha?

Antes de responder é legal pensar sobre todos os contratos. Considerando-se que o Drek vai valer muito menos que o Euro (em termos reais, não nominais), quem está endividado em Euros, e terá receitas futuras em Drek, está quebrado. Juridicamente vai ser aquela confusão, pois contratos que foram escritos em Euros não podem ser simplesmente transformados. Assim, na prática eles continuam válidos. A mudança de Euro para Drek só vai ocorrendo paulatinamente, conforme o Niko precisa de papel moeda. Os contratos vão sendo renegociados, conforme os credores se dão conta que os devedores não têm chance de pagar a quantia inicial.

Num mundo em que não há fricção, em que não há problema algum já por hipótese, o surgimento do Drek corresponde a uma imensa transferência de recursos dos credores para os devedores. Depois dessa transferência ter sido percebida, o que ocorre instantaneamente, bola para frente, e a economia começa a funcionar normalmente. A graça é abandonar esse mundo imaginário, e tentar bolar alguma alternativa que minimize os custos de transacionais. Isso pode feito se o Governo tentar coordenar as expectativas, tentar direcionar os agentes econômicos para alguma relação entre dreks e euros. Se todo mundo concordar que uma dívida de X euros deve ser trocada por Y dreks, a transição fica mais rápida e suave.

A mesma lógica pode ser aplicada para o sistema de preços. Lembro das histórias do Leijonhufvud sobre a Argentina hiperinflacionária, de lojas que ficavam fechadas por falta de preço. Quando o Niko for comprar sua spanakotyropita na primeira esquina, vai ter problema em usar seus Dreks. Enquanto a taxa de câmbio não for encontrada, a confusão e os custos econômicos correm soltos.

Cansei. Volto depois sobre a determinação dessa taxa de câmbio.

2 comentários:

  1. Não entendo porque "quem está endividado em Euros, e terá receitas futuras em Drek, está quebrado".
    Se a sorveteria deve 10 mil euros e vende o sorvete por 1 euro. E se o cambio vai para 5 dreks/euro, por exemplo. Então a sorveteria terá uma dívida de 50 mil dreks e venderá o sorvete por 5 dreks. Não muda nada.

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  2. No seu exemplo, a sorveteria venderia muito menos sorvete se decidisse mesmo cobrar 5 dreks/sorvete. Para realmente entender o que ocorre vc precisa considerar dois setores, tradeables e nontradeables, analisar o preço entre eles (o cambio real), e notar que os gregos vão ficar bem mais pobres após a desvalorização

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