quarta-feira, 24 de julho de 2013

A tese do B.Caplan, no brilhante The Myth of Rational Voter

Suponha que as pessoas tenham preferencias sobre beliefs. Digamos que há um beneficio psicologico em dizer que comercio com os imperialistas norte-americanos é danoso ao Brasil...

A demanda psicológica por pontos de vista irracionais, como qualquer demanda, depende do preço que voce paga por essas crenças. Qual o preço individual de ser contra o livre comércio?? É ZERO. Como suas preferências individuais não são pivotais numa eleição, o preço é zero pois sua crença imbecil (mas psicologicamente agradável) não afeta policy. Bom, então, com preço zero voce vai se saciar de irracionalidade. Aplique o argumento para todos e temos um equilibrio final bem complicado: o eleitorado demandando politicas burras e os politicos, em parte, respondendo a isso (não responde, para sorte nossa, totalmente pois muitos entendem que agradar a crença errada do eleitor mediano pode afundar a economia e assim atrapalhar a reeleição).

É similar a um problema de "commons"...cada um não internaliza o custo social de suas crenças erradas sobre o funcionamento da economia.

A democracia funciona mal, segundo o Caplan, não por um problema de agência tradicional, como afirmam 99% dos economistas. Mas porque o eleitor mediano não paga o custo de nutrir crenças erradas sobre uma porrada de coisa.

Veja que o argumento todo usa micro tradicional, chicago-style. Apenas adiciona uma demanda por crenças. Note por fim que não é estranho a mesma pessoa não aceitar que um salário mínimo mais alto prejudica os mais pobres e na hora de preencher um formulário de emprego onde se pergunta expectativa de salário, moderar no número para não ser rejeitado com certeza. No primeiro caso, não custa nada ser racionalmente irracional!

Livro genial

6 comentários:

  1. O problema é quando alguns eleitores irracionais chegam ao posto de formadores de opinião, mas ainda acham que o preço é zero. É o nascimento de um técnico heterodoxo de destaque, que será mais adiante um forte candidato para assessorar o governo com as brilhantes ideias do irracionário coletivo. Após a implementação de suas políticas, o irracionalzinho de merda se depara com o preço monstruoso da sua imbecilidade e logo põe a culpa em outro... no câmbio.

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  2. esse foi o melhor book review que já li, muito bom!

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  3. Temos os eleitores que reelegem um candidatos porque não conseguem aceitar psicologicamente que votaram errado na eleição anterior. Mesmo inundados de evidências e fatos sobre a péssima qualidade do candidato, é difícil mudar de idéia. Aceitar que errou dói.

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  4. Bem diferente da lógica que impera na relação entre morador e síndico, onde todos demandam menor taxa condominial em primeiro lugar.
    Sem falar que a aridez do empirismo e a moderação pegam mal entre latino-americanos.

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  5. "When the people want the impossible, only liars can satisfy them" Tomas Sowell

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  6. Fala, Dudu.

    Teoria bacana sim, mas como o Caselli da LSE pontua, um livro que se propoe a explicar o pq a democracia escolhe mal suas politicas deveria aprofundar alguns pontos.

    Cito alguns apenas para ilustrar:
    [1] Pq essas tais crencas erradas que nao impoe custo as pessoas persistem em existir e o pq elas nao sao suprimidas por boas crencas?

    [2] Pq existe uma sensacao de que esta tudo indo pelo buraco a todo minuto? Ou seja, se os politicos sao apenas buscadores de votos e implementam so mas politicas, pq eh que a coisa nao implode? Eh aqui que o Caplan se complica um pouco. Ele, so pra encurtar a explicacao, diz que a percepcao do eleitorado eh fairly accurate e que no final isso eh uma fonte de cobranca. Mas ele havia dito que o eleitorado sistematicamente erra suas percepcoes sobre o estado da economia...

    [3] Se estamos falando de crencas boas e ruins, como saber se a crenca que nos (supostamente sabidos) eh que temos as boas crencas? Ele da um exemplo anti-foreign bias. Abertura comercial eh algo que a populacao nao gosta e os economistas gostam. No entanto, nem os economistas concordam 100% nisso. Eu tendo a achar que eh otimo, mas se olharmos as estrategias de paises desenvolvidos, vemos que muitos sao fechados e protecionistas. E se existe esse papo mesmo de conflito de crencas, pq a crenca boa nao esta prosperando na populacao?

    [4] Qual eh o contra exemplo que temos em termos de nao-democracias prosperando ou entao que um colegiado eh escolhido pra fazer a constituicao (a la Stuart Mill)? Nesse ultimo caso, o colegiado estaria sob o spot da sociedade e nao teria o problema de pivotalidade. Caso da Islandia, por exemplo.

    Nem mencionei aqui o papo sobre "de onde as crencas vem" pq achei isso um papo filosofico (o Hume trata legal disso...)

    Sincerely,
    Your former intern

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