Ouvi uma vez o argumento de que os créditos contabilizados no sistema de compensação europeu (TARGET2) eram um óbice à eventual decisão de saída da Alemanha (e de seus irmãos ricos, Finlândia, Luxemburgo e Holanda).
Os créditos monstruosos - coisa da ordem de 35% do PIB no caso da Alemanha - indicavam a imbricação entre "ricos" e "pobres" e mais do que ultrapassavam o ponto a partir do qual dívidas tornam-se problemas dos credores.
Sujeito simples que sou, aceitei imediatamente algo que me soava bastante intuitivo (também testemunhei gente mais inteligente do que eu caindo na armadilha). Errei mais uma vez.
O economista Paul De Grauwe e uma colega mostraram de forma simples e cristalina que o tamanho do problema do ponto de vista dos ricos é bem menor do que os créditos no TARGET2 (na verdade, o problema equivale "apenas" ao superávit em transações correntes acumulado - tenho um pouco de vergonha de ter que escrever esta obviedade).
Parênteses: tinha a intenção de reproduzir ipsis litteris o argumento n'O Consciência no início da semana mas descobri ontem que o Martin Wolf fez o serviço.
A ideia é banal: basta o Bundesbank converter Euros em Marcos apenas aos residentes alemães (talvez aos alemães não residentes também). Desse modo, por exemplo, um espanhol que depositou dinheiro em um banco alemão transformando-se em especulador com taxas de câmbio receberia no final o saldo em Euros (que, justamente, deveriam ser trocados por Pesetas).
A partir daí é muito simples concluir que a fragilidade da posição alemã é proporcional apenas à disposição do país em exportar liquidamente BMWs e afins - coisa que depende só da própria alemanha e que ela curte fazer apesar de ver os vizinhos destroçados.
Muito bem. Dá para concluir daí que a saída da Alemanha não é tão difícil como parece. E, a julgar pela atmosfera na Espanha, parece que o cenário está cada vez mais próximo.
Mas também dá para olhar o negócio sob o prisma Velhinha de Taubaté: se a Angela Merkel imprimir milhões de versões do texto do Paul De Grauwe e mandar um helicóptero distribuir na periferia pode ser que os fluxos especulativos diminuam e até que o público fique mais tranquilo na própria Alemanha, aumentando a chance de tudo dar certo.
É mole?
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