sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Campeões Nacionais

Para que o CESG não me demita, inaugurarei a nova fase de comentários com assunto que foge completamente à minha estreita zona de conforto. A chance de estar falando besteira é grande, mas a ideia do blog é justamente essa, não?

Muito bem. Vira e mexe leio estórias sobre o excesso de capacidade da siderurgia no Mundo - por exemplo, aqui. Nestes casos, preços baixinhos inviabilizam as operações menos eficientes e esta é a forma democrática do mercado recomendar aos empresários aplicar o dinheiro em outros setores.

De forma análoga, ouço frequentemente que a restrição de energia é um dos problemas que o Brasil terá que enfrentar para continuar crescendo. Salvo engano, no ano passado falava-se - com a confiança peculiar, a despeito da tragédia no Japão - em tocar projetos de energia nuclear, tralalá, trololó.

Beleza: invista no setor de energia e estará fazendo um bem ao país e a seu bolso.

Se eu fosse um estrategista - como o respeitado FK - recomendaria retirar recursos do setor siderúrgico e alocar recursos no setor elétrico. Felizmente, neste caso, o mundo está alocando pessoas direito e ninguém presta atenção em meus palpites para investimento em bolsa.

No dia 5 de setembro, o governo elevou a alíquota de importação de diversos produtos, incluindo a siderurgia. Fiz uma continha de padaria pegando três empresas do setor que vieram à minha cabeça. A moçada ganhou a bagatela de R$ 9,4 bilhões cinco dias após a medida - este número subestima a quantia real de dinheiro que mudou de mãos.

Naturalmente, diversos fatores têm contribuído para a oscilação das cotações de empresas do setor. Mas não resta dúvida que o fator determinante foi a canetada. No dia da medida protecionista, os papéis de uma empresa valorizaram 18%.

Quem compra os produtos do setor para produzir máquinas, veículos, edificações etc. ficou mais pobre.  Ou para falar o idioma moderno, perdeu.

Ou seja, o governo escolheu empobrecer uma parte da sociedade para enriquecer outra, beneficiando um setor que parece produzir em abundância no mundo.

No outro extremo, há o zum zum sobre as mudanças que estão sendo propostas para o setor elétrico. Ninguém ainda sabe ao certo e, de acordo com a presidente, a moçada está entendendo errado e exagerando no pessimismo.

Pode ser que sim. Mas, outra continha de padaria com meia dúzia de empresas do setor mostra o desaparecimento de mais de R$ 10 bi em apenas um dia. Li estimativas de números duas vezes maior. Ou seja, quem estava investindo neste setor crítico viu uma parcela importante do dinheiro desaparecer.

Na literatura, este tipo de política é batizada de escolha de campeões. Canetadas que fazem uma galera de sorte ganhar rios de dinheiro em detrimento da tchurma azarada. A longo prazo, esse tipo de arbitrariedade é associado a crescimento menor.

Certamente a história verdadeira deve ser muito mais rica em detalhes do que esta versão estilizada que estou contando. E, para ser sincero, tenho achado a gestão atual bem melhor do que a anterior quando se trata do futuro do país a longo prazo. Talvez eu seja um daqueles que está deixando a chefe irritada.

Agora, é duro engolir que esse tipo de volatilidade é só inguinoranssa dos investidores em entender o que se passa, não?

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