quarta-feira, 20 de junho de 2012

Será que o câmbio vai voltar?

Discípulo da Velhinha de Taubaté que sou, mantenho premissas relativamente benignas para o cenário econômico de forma geral - reconheço que a tese pessimista é bastante forte, mas ela sempre é.

Dito isso, estou preocupado com a aposta cambial que emplaquei neste post. Lembrando, "vendi" USD a 1,99 (com stop em 2,13). O chute não foi para o espaço em poucos dias como o do nosso guru FK. Ainda assim, a dinâmica recente não parece promissora.

O Akihiro Ikeda ensinou nos anos 80 que não é legal fazer regressões "de burro com pata de burro". Não quero que ele pense que esqueci a lição, mas a melhor forma de avaliar os vaivéns do câmbio é relacioná-lo com os determinantes usuais na frequência diária - preços de commodities, valor efetivo do USD contra uma cesta, diferencial de juro e percepção de risco.

Parênteses: se um dia as regressões espúrias e outras barbaridades econométricas forem abolidas por lei, creio que não restará um consultor ou economista de mercado fora das grades. Tem uma turma que, prevendo o final trágico, está institucionalizando a picaretagem sob a forma de DSGEs.

Voltando à vaca fria, a figura abaixo mostra a taxa cambial (linha vermelha), a taxa cambial explicada estatisticamente pelos "fundamentos" (linha verde) e a taxa cambial que provavelmente estaríamos observando se o juro não tivesse caído desde julho (linha azul).


Até mais ou menos o final do ano passado, a Mãe Dinah que soubesse o que ocorreria com os preços de commodities, juros, valor do dólar no mundo e percepção de risco conseguiria fazer uma boa previsão do preço do USD em Reais. Nos últimos meses, a coisa mudou.

Os fundamentos continuaram a explicar grosso modo a direção do câmbio, mas a parcela não explicada está girando entre 15 e 20 centavos. Quase certamente a diferença está associada às medidas de contenção de fluxos e de operações com derivativos introduzidas pelo governo.

Muito bem. Se acreditarmos na Velhinha e admitirmos que a percepção de risco voltará ao normal e os preços de commodities e o dólar no mercado internacional se comportarão de forma coerente, o modelito tabajara prevê que a taxa de câmbio estará pouco abaixo de 2,00 no final do ano (bem acima do que estava pensando quando propus a aposta).

A questão pode ser ainda mais complexa. Conversando com uma tchurma de fora ontem, parece que a percepção com relação ao Brasil tem mudado para pior com o intervencionismo e caráter bastante discricionário da gestão recente da política cambial.

Se esta suspeita for correta, o eventual relaxamento das restrições impostas pode não reverter - ao menos imediatamente - o estrago feito.

Resumindo: o risco do cenário externo, o fato de que os juros baixos estão aí para ficar e a parte permanente do estrago feito pela "Guerra Cambial" tornam temerária a minha aposta.

7 comentários:

  1. A piora da percepção com relação ao Brasil não deveria se refletir na percepção de risco e portanto ser captado pelo modelo?

    Creio que usou uma medida de risco global para evitar a endogeneidade.

    Como medida de preço de commodities, usou o dólar australiano (AUD)?

    Para o diferencial de juros, o swap 360 se relaciona com juros internacionais?

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  2. Será que a percepção, negativa, não seria mais a percepção político-administrativa?
    E dentro desta a percepção de que Executivo, Fazenda e BC estão atuando em linha?
    E a linha estaria sendo puxada para expansão fiscal e monetária?
    E que, mesmo assim, as projeções seriam de inflação mais alta do que a evolução do PIB?

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  3. Rafael, usei VIX e AUD para evitar endogeneidade. É curioso ver que o resíduo é ortogonal ao EMBI; as medidas deveriam ter impacto. As oscilações relevantes do diferencial de juro neste horizonte têm sido determinadas pelo nosso swap. Versões com o swap americano ou até mesmo média de swaps relevantes produzem resultados semelhantes.

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  4. Como temos dados de fluxo cambial diário, será que a saída do lado financeiro teve impacto?

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  5. Os testes que fiz com o fluxo mostram que estes dados não ajudam a entender a movimentação do câmbio em alta freqüência. É contraintuitivo. Os traders que conheço dão muito peso ao fluxo.

    Se não estou enganado, o FK apresentou uma vez um estudo na Casa das Garças com a conclusão de que fluxo não serve para nada. Naquela época ele era economista. Como agora ele é trader, talvez tenha mudado de opinião.

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  6. Agora que sou trader tenho a mesma opinião de antes. Mas não conto para ninguém.

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