quarta-feira, 13 de junho de 2012

Da eficiência e dos direitos humanos (história real)

Em setembro do ano passado, tratei neste post dos custos da ineficiência, inspirado pelo martírio de quem ouve a frase "devido ao reposicionamento da aeronave no pátio, seu embarque será agora realizado pelo portão de número tal".

Volto aqui ao tema da eficiência, mais uma motivado pela sempre fascinante experiência de frequentar nossos aeroportos.

Ontem, voltamos eu e um colega de Brasília. Assim que a aeronave foi reposicionada no pátio, embarcamos às 17:00. O piloto informou que o tempo em São Paulo estava bom.

Lá pelas 18:15, o piloto disse que iniciaria "uma órbita" porque Congonhas estava fechado devido à forte neblina. Passaram-se mais ou menos 30 minutos e veio novo comunicado. Congonhas permanecia fechado e Guarulhos estava abarrotado.

Desfecho: pousaríamos em Viracopos.

Até aí, normal. São Paulo merece algo mais decente do que Guarulhos - além de mais uns dois ou três estádios de futebol - mas a Infraero ou seja lá quem for não tem controle sobre o clima.

Intuindo que a história seria boa, comecei a monitorar rigorosamente o tempo.

Às 18:56 havíamos pousado em Campinas. O avião encontrava-se estacionado em um canto do aeroporto, atrás de uma aeronave da Gol, aguardando instruções para o desembarque.

Às 20:21 (isso mesmo) o Supremo Tribunal Federal expediu liminar exigindo que os gestores (não sei se Infraero, gestores privados ou um misto dos dois) se pronunciassem. Fomos informados que seria impossível sair do avião no lugar em que ele se encontrava estacionado.

Neste momento, o piloto informou que havia uma fila de 9 aviões parados aguardando a deliberação do comando do aeroporto. Façamos uma conta de padaria: mais ou menos 100 a 150 pessoas por avião totalizando 1000 infelizes. Isso mesmo: mil almas sentadas observando o aeroporto funcionar normalmente e os gênios pensando em uma forma de permitir o desembarque.

Uns 15 ou 20 minutos depois, o piloto informa que, após conversar com os colegas, propuseram a seguinte solução: se não é possível desembarcar onde estamos, o que vocês acham de reservar um espaço para que os aviões se desloquem um a um, permitindo o desembarque sequencial dos nove ou sei lá quantos aviões?

Afinal, afora o pequeno detalhe de 1000 gatos pingados presos, a movimentação do aeroporto parecia normal. Diversos aviões de carga e da Azul pareciam pousar e decolar normalmente.

Neste ponto só posso especular: a gestão deve ter dito que a solução proposta pelos pilotos parecia complexa demais, mas prometeu meditar com carinho, raciocinando que, se não era possível desembarcar onde os aviões estavam, era forçoso reconhecer que deveria haver um deslocamento para que o desembarque fosse possível.

Nesse momento havia boatos no avião de gente desembarcando em Uberlândia.

Às 21:12, o piloto disse haver "luz no fim do túnel". Após intervenção do Exército, das Nações Unidas e do Chuck Norris, o comando chegou à conclusão de que a idéia dos pilotos fazia de fato sentido e faríamos um rodízio para desembarcar, contendo assim os focos de social unrest que estavam surgindo.

Uns 20 minutos depois (!), vi o avião da Gol passando à esquerda do nosso avião. Às 21:59, o piloto mandou todo mundo tomar assentos porque começariam os procedimentos para deslocar o nosso avião para o local do desembarque - lembre-se que éramos o segundo avião de uma fila de, no mínimo, nove aviões. Imaginem o desespero da turma lá atrás.

Às 22:24 havia entrado em um ônibus para Congonhas. Naturalmente, o motorista fez um caminho esdrúxulo e perto da meia noite começou um zum-zum no ônibus. Passageiros afirmavam que o cidadão desconhecia a rota para Congonhas - achei isso um pouco de sacanagem. Mas, de fato, estávamos em uma quebrada no coração do Brooklin.

Felizmente a primavera árabe foi contida e aos quinze minutos do dia de hoje estava no estacionamento.

*  *  *

Pêlamordedeus. A moçada simplesmente não tem plano B. A gestão do aeroporto não tem capacidade de improvisar um esquema para retirar as pessoas de um avião em tempo decente.

Ronaldo e Pelé, vocês têm certeza que vai dar certo?

Lado bom: li dois terços do último livro do Krugman. Recomendo

6 comentários:

  1. Bizarro.

    Tem um "onde" repetido no parágrafo que começa com "Neste ponto só posso especular..."

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  2. phoda

    o livro do paulo k. eh uma repeticao das coisas do blog dele. ou seja, foi ainda pior do que voce mesmo pensa a sua estadia sinistra no aviao

    amém

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  3. Se te ver na sala de embarque não entro no avião

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  4. Caro Nabuco, é possível que eu não esteja na sala de embarque apenas por não ter me dado conta de um "reposicionamento".

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  5. Sou a favor de mais focos de social unrest. Tobias.

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