quinta-feira, 21 de junho de 2012

A piada do Mantega

Segundo o Estadão, um ministro considerou "piada" a projeção de crescimento do PIB do Credit Suisse (prêmio para quem descobrir qual). Segundo a instituição financeira - que tem pesquisa econômica reconhecidamente de primeira linha - a economia brasileira crescerá 1,5% em 2012.

Segundo o ministério, o PIB crescerá 4,0%.

Em geral, quando uma autoridade fica nervosa com algum "absurdo" é porque o absurdo não é tão absurdo. Vide, por exemplo, as reações indignadas dos envolvidos em lambanças no Distrito Federal, mesmo diante de fotos, gravações, filmes, detalhes, nomes, endereços, hologramas, etc.

Muito bem. A figura mostra o crescimento econômico acumulado desde o final de 2010 em países selecionados. Não fosse uma coisa chamada Crise Européia, nossa posição pouco lisonjeira seria desastrosa. Para se ter uma idéia, o G20 (praticamente o mundo) acumulou crescimento de 4,1% no período. O desempenho brasileiro, de 1,6%, puxou a média mundial para baixo.

Crescemos em ritmo maior do que o da Zona do Euro neste período porque o desempenho da periferia foi patético. Países que também deveriam sofrer com taxas cambiais apreciadas (o eterno vilão por aqui) - como Alemanha, Austrália, Canadá, Colômbia, Chile, Peru e Noruega - deram um banho no Brasil.

A figura abaixo é a verdadeira piada de mal gosto que o ilustre ministro deveria comentar.



Agora, vamos analisar a "piada" que, supostamente, o Credit Suisse está contando. Dado o desempenho brilhante da economia brasileira até o primeiro trimestre e supondo que, por um milagre, o crescimento anualizado seja de 2,0% no segundo e de 4,0% no segundo semestre, a expansão média em 2012 será exatamente igual à do Ministro da Fazenda, certo?

Errado. Este cenário aparentemente otimista produz a "piada" que o Credit Suisse está contando. Não há mágica. Alunos que já tiraram zero na primeira prova sabem que para passar de ano com média 5,0 precisarão tirar 10,0 na segunda prova. Essa verdade óbvia foi jogada no lixo pela autoridade.

Agora vamos analisar a outra piada. Quanto terá que ser o crescimento no segundo semestre para que o PIB de 2012 seja 4,0% maior do que o do ano passado, como prevê candidamente o Ministro da Fazenda (supondo agora 3% no segundo trimestre porque estamos no mundo do faz de conta).

Resposta: 17% ao ano!!!!!!!!!!

Se o Brasil experimentar reversão expressiva, talvez o número não seja tão forte porque, certamente, haverá revisão para trás dos fatores sazonais. Detalhes à parte, o fato é que ao invés de tratar a questão de forma serena, explicando à dona de casa que o número do Credit Suisse reflete na verdade uma visão relativamente otimista para o futuro, o misnistro perdeu mais uma vez uma bela oportunidade de ficar quieto.


É aquela coisa, o mundo nos brinda com Messis e Jadsons. Dourar a pílula é parte do trabalho de um Ministro da Fazenda. A arte é fazer isso da forma correta, com equilíbrio, para manter a credibilidade do posto. Coisa que, justiça seja feita, o Presidente do Banco Central tem executado com maestria.

3 comentários:

  1. Mas, como o BC estaria em maestria, se ao que parece, atua em linha com o Executivo e com a Fazenda?
    Não faz o contraponto de politica monetária à expansão fiscal do Executivo e Fazenda.
    Aliás, um crescimento de 17% no segundo semestre, faria sair do papel vários trens de alta velocidade e ao menos um trem-bala.

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  2. Dawran, tendo a concordar com você. Mas é preciso levar em consideração que o BC acertou na avaliação que fizera em agosto do ano passado.

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  3. A política econômica está confusa - assim como as circunstâncias. Refiro-me mais à postura. O Tombini tem pegada de presidente do BC. É sério e tudo mais.

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