segunda-feira, 18 de março de 2013

Os efeitos do não racionamento

A pedido, abaixo o texto que publiquei na revista da Avianca (www.aviancaemrevista.com.br). O JPE não para de me pedir papers, mas achei que a é Avianca é um outlet mais adequado para as minhas contribuições acadêmicas.


Efeitos do Não-Racionamento
Claro que não dá para ter certeza. Com uns 15% de chance teremos um racionamento de energia nos próximos dois anos. Mas com a probabilidade remanescente, de 85%, nada vai acontecer. Ou vai? Quais as consequências de não termos um racionamento?
Humor de São Pedro
Diz-se que meteorologistas servem para que os economistas tenham ter boa capacidade preditiva. Com isso em mente, eles dizem que as baixas temperaturas no Pacífico potencializam as correntes La Nina (associada a períodos de seca) e enfraquecem El Ninos (associados à chuva). Na prática, isso significa que teremos vários anos pela frente com pluviosidade abaixo do normal.  
Entramos em 2012 com os reservatórios cheios. Contando com o El Nino, o operador do sistema elétrico optou por usar a água acumulada, o que permitiu que a energia ficasse relativamente mais barata. Mas a chuva não veio, e agora, no começo de 2013, nossas reservas de água estão no osso.
Percebendo a nova realidade, o operador reagiu. Em vez de utilizar livremente a água acumulada, passou a gerar energia através das usinas térmicas, que queimam gás, carvão ou diesel. Com isso, a chance de ficarmos sem energia diminui, pois dependemos menos do volume de água. E se tivermos sorte, e passar a chover decentemente, os reservatórios voltam a encher. Lindo, tudo parece se resolver, mas não é bem assim. Ao tomar a decisão de despachar as usinas térmicas, o custo da energia sobe instantaneamente, e alguém vai ter de pagar a conta. O truque é não deixar isso muito explícito.
Melhor ser rico, inteligente e bonito do que pobre, burro e feio
Diante da inexorável realidade, de que São Pedro fez a energia ficar mais cara, há algumas alternativas de política econômica, com seus respectivos efeitos sobre inflação, atividade, emprego e popularidade eleitoral.
A solução ótima, que eu ensino na escola, é deixar o preço refletir livremente a situação de escassez. Isso significa fazer os empresários pagarem mais pela energia, forçando os mais ineficientes a cortarem produção. A inflação também subiria e, vendo os novos preços, as famílias consumiriam menos energia. De fato, esse caso corresponde a um racionamento, em que o preço força os agentes a se ajustarem à realidade. É claro que todos ficaríamos bravos com o Governo, mas o problema estaria de fato resolvido.
Outra solução é abaixar o preço da energia, e tentar convencer todo mundo que não há risco nenhum. Nessa situação, não somente o consumo residencial de energia sobe, mas até as indústrias mais ineficientes aproveitam para produzir o máximo possível. No primeiro momento a inflação cai, e a atividade e emprego permanecem sólidos.
Para fazer essa mágica, o Governo reduz as tarifas de energia, e posterga o reajuste das distribuidoras, embora elas estejam pagando caro pelo produto. Para garantir o equilíbrio econômico dessas, evitando que elas quebrem, o BNDES faz um empréstimo a juros bem módicos, e o Tesouro Nacional capitaliza o BNDES. Em outras palavras, e sem enrolação, o dinheiro das famílias, que está "guardado" no Tesouro, é utilizado para cobrir o rombo causado pelo consumo excessivo de energia das próprias famílias. Todos nós felizes, consumindo a vontade, porque não sabemos que vamos pagar a conta. E, enquanto isso, os reservatórios não enchem como o esperado e, quiçá, talvez esvaziem ainda mais.
Um final sem graça, e outro desgraçado
Com sorte, a mágica da energia barata mesmo sem água dura até a eleição. O Governo reeleito sobe o preço da energia, e nos faz pagar pelo que preferíamos não ter consumido. Com azar a chuva é tão pouca que o racionamento torna-se inevitável. Trocamos as lâmpadas, desligamos o microondas e encurtamos o banho quente.

3 comentários:

  1. Caro Fábio, acho que seu texto deveria levar em consideração o seguinte:
    -Baixa elasticidade preço da demanda por energia elétrica, principalmente das famílias;
    -O fato de que grande parte das indústrias já atua no mercado livre de energia, onde as condições de escassez serão refletidas (indústria de alúminio por exemplo já vem cortando a produção para vender contratos de energia negociados).

    Além disso, há fundamento para o risco de 15% de racionamento?

    Abraço,
    Thiago Caldeira

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  2. Tio Fabio,

    O twitter lhe aguarda. Sei que você é da época do nosso amigo Golfinho, mas acho que tem value lá. Experimenta!


    Abs!

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