Efeitos do Não-Racionamento
Claro
que não dá para ter certeza. Com uns 15% de chance teremos um racionamento de
energia nos próximos dois anos. Mas com a probabilidade remanescente, de 85%,
nada vai acontecer. Ou vai? Quais as consequências de não termos um
racionamento?
Humor
de São Pedro
Diz-se
que meteorologistas servem para que os economistas tenham ter boa capacidade
preditiva. Com isso em mente, eles dizem que as baixas temperaturas no Pacífico
potencializam as correntes La Nina (associada a períodos de seca) e enfraquecem
El Ninos (associados à chuva). Na prática, isso significa que teremos vários
anos pela frente com pluviosidade abaixo do normal.
Entramos
em 2012 com os reservatórios cheios. Contando com o El Nino, o operador do
sistema elétrico optou por usar a água acumulada, o que permitiu que a energia
ficasse relativamente mais barata. Mas a chuva não veio, e agora, no começo de
2013, nossas reservas de água estão no osso.
Percebendo
a nova realidade, o operador reagiu. Em vez de utilizar livremente a água
acumulada, passou a gerar energia através das usinas térmicas, que queimam gás,
carvão ou diesel. Com isso, a chance de ficarmos sem energia diminui, pois
dependemos menos do volume de água. E se tivermos sorte, e passar a chover
decentemente, os reservatórios voltam a encher. Lindo, tudo parece se resolver,
mas não é bem assim. Ao tomar a decisão de despachar as usinas térmicas, o
custo da energia sobe instantaneamente, e alguém vai ter de pagar a conta. O
truque é não deixar isso muito explícito.
Melhor
ser rico, inteligente e bonito do que pobre, burro e feio
Diante
da inexorável realidade, de que São Pedro fez a energia ficar mais cara, há
algumas alternativas de política econômica, com seus respectivos efeitos sobre
inflação, atividade, emprego e popularidade eleitoral.
A
solução ótima, que eu ensino na escola, é deixar o preço refletir livremente a
situação de escassez. Isso significa fazer os empresários pagarem mais pela
energia, forçando os mais ineficientes a cortarem produção. A inflação também
subiria e, vendo os novos preços, as famílias consumiriam menos energia. De
fato, esse caso corresponde a um racionamento, em que o preço força os agentes
a se ajustarem à realidade. É claro que todos ficaríamos bravos com o Governo,
mas o problema estaria de fato resolvido.
Outra
solução é abaixar o preço da energia, e tentar convencer todo mundo que não há
risco nenhum. Nessa situação, não somente o consumo residencial de energia
sobe, mas até as indústrias mais ineficientes aproveitam para produzir o máximo
possível. No primeiro momento a inflação cai, e a atividade e emprego
permanecem sólidos.
Para
fazer essa mágica, o Governo reduz as tarifas de energia, e posterga o reajuste
das distribuidoras, embora elas estejam pagando caro pelo produto. Para
garantir o equilíbrio econômico dessas, evitando que elas quebrem, o BNDES faz
um empréstimo a juros bem módicos, e o Tesouro Nacional capitaliza o BNDES. Em
outras palavras, e sem enrolação, o dinheiro das famílias, que está
"guardado" no Tesouro, é utilizado para cobrir o rombo causado pelo
consumo excessivo de energia das próprias famílias. Todos nós felizes,
consumindo a vontade, porque não sabemos que vamos pagar a conta. E, enquanto
isso, os reservatórios não enchem como o esperado e, quiçá, talvez esvaziem
ainda mais.
Um
final sem graça, e outro desgraçado
Com
sorte, a mágica da energia barata mesmo sem água dura até a eleição. O Governo
reeleito sobe o preço da energia, e nos faz pagar pelo que preferíamos não ter
consumido. Com azar a chuva é tão pouca que o racionamento torna-se inevitável.
Trocamos as lâmpadas, desligamos o microondas e encurtamos o banho quente.