quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

PIBinho 5/4: CAGED, PNAD e PME


Os vários comentários me fizeram ir trabalhar um pouco:

1)      O emprego (formal) da PME tem a mesma cara do CAGED, mas é bem mais volátil, dando muitos alarmes falsos. O sinal recente, de que o formal está relativamente pior que o informal (da PME), é possivelmente só um ruído.

2)      De acordo com PNAD a formalização é processo lento e ainda tem muita coisa para acontecer. Grosso modo, a fração de informalidade caiu 1% ao ano na última década. Tratando “conta própria” como formal (parte é médico, e parte é vendedor de Mentex), ainda há 35% de informais.

3)      A queda do desemprego - de 4.5% entre 2001 e 2008 -, é fortemente superestimada pela amostra da PME, que olha só algumas regiões metropolitanas. Usando a PNAD e corrigindo para os efeitos de composição, essa redução dá uns 2%.

Com o usual risco de estar sendo teimoso, continuo achando que o CAGED é uma boa e a série de desemprego é uma cagada. 

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Pibinho 4/4: Crédito/Confiança


Acho essa teoria a menos ruim, talvez por que é a que o Chorinho escolhe. A produtividade do Brasil sempre foi uma porcaria, levando a um crescimento potencial de 3%. Cresceu bem mais no pré crise devido à expansão do crédito. Em 2011 o crédito teve um impacto bem negativo, mistura de ressaca com macroprudenciais. Depois, mais recentemente, apareceu uma tal de desconfiança do empresário. Mesmo com o consumo das famílias legal e a produtividade de sempre, o empresário não investiu. Espírito animal, de porco.

Sei lá, não gosto disso não. Anedoticamente a história era primeiro a crise na Europa. Depois que o empresário investiu muito em 2010, achando que o Brasil ia crescer 7,5% para sempre, e agora está muito recatado, preferindo atrasar os investimentos mesmo que perdendo dinheiro. Ou que a Dilma deixa todo mundo nervoso. Sei lá, não gosto disso, de novo. Se estivesse no sell side iria gostar, dá para contar cada história boa...

Uma crítica a essa teoria é que houve muita acumulação de capital em 2010, e por isso o investimento devia ser baixo em 2012. Mas o Chorinho faz essa conta direito, e diz que não. Outra crítica é que o câmbio é que determina o investimento. Essa relação depende do tipo de choque que causou a variação no câmbio, diz o Chorinho, isso não foi relevante dessa vez.

Como a teoria é de curto prazo, essa confiança do empresário deveria logo virar, e o país dar uma arrancada, ainda que temporária. A menos que o medo do racionamento postergue isso de novo. Ou que a Dilma vá a TV nacional desafiar quem está criticando o Governo, nervosa como um cachorro louco.

Pibinho 3/4: Desequilíbrio entre tradeables non-tradeables


Segundo essa segunda teoria, como o salário tem de ser igual, e o mercado de trabalho no setor de non-tradeables está apertado, fica impossível para os tradeables produzirem. I.e., a produtividade marginal do capital nesse setor é uma porcaria.

Empiricamente é consistente com o investimento baixo, indústria de lado, e com o mercado de trabalho apertado (para os que acreditam nisso). Nesse sentido, a teoria parece bem legal. Mas quando penso melhor passo a achar que devíamos poder analisar tudo pela ótica do câmbio excessivamente apreciado, e daí o caldo entorna.

Explico melhor: não vale fazer regressão a lá Pastore da produção industrial no seu custo unitário e outras variáveis e dizer que é o custo unitário que está derrubando a indústria. A questão é o que elevou o custo unitário. De acordo com essa lógica de tradables versus non-tradables, o que fez o custo unitário subir foi o câmbio.

Por outro lado, há a evidência do próprio Pastore que câmbio apreciado ajuda o investimento. Na verdade, a correlação entre investimento câmbio e importações ocorre num montão de países, e é bem compreendida desde que aprendemos a botar choque de produtividade num modelo dinâmico. Então, como decidir? O câmbio apreciado atrapalhou ou ajudou o investimento? E agora que o câmbio depreciou um pouco, o investimento vai voltar ou vai afundar (ou já afundou)?

Minha opinião é que essa teoria ainda não está bem articulada. Continuo esperando que alguém me convença. Do meu lado, digo que houve períodos em que o Chorinho apontou que choques que causaram apreciação (depreciação) no câmbio foram relevante para o PIB. A época do sapo barbudo que ia defaultar foi uma dessas. Mas agora o câmbio não está sendo importante.

Pibinho 2/4: Incorporação de trabalhadores / produtividade


De acordo com essa teoria, durante os últimos anos havia uma massa de pessoas dormindo, que foram incorporadas ao mercado de trabalho. Como esse processo acabou, o PIB vai agora crescer menos.

Evidência são as series do mercado de trabalho do IBGE, sobretudo a do desemprego. Mas eu acho essas series uma porcaria. Eu gosto do CAGED, acumulado sobre um estoque, mesmo sendo só setor formal. Ele faz muito mais sentido desde 2000, e esta agora fazendo outro movimento consistente, indicando que o mercado de trabalho desaqueceu forte, em linha com o PIB.

Usando o CAGED não dá para dizer que houve exaustão na incorporação de trabalhadores, e que havia um bando de desempregados. Não dá nem para dizer que o mercado de trabalho está bem apertado. Eu sei que é idiossincrasia minha, mas sou eu que estou escrevendo.

Outra versão da mesma teoria, ao menos sob o ponto de vista lógico e matemático, é a de que houve uma queda de produtividade, devido às maluquices do governo. Mas ela não tem boa evidência empírica, que eu saiba.

Em ambos casos, a teoria deve ser classificada como de longo prazo. Ela implica que o juro neutro caiu (e que talvez a política monetária não esteja estimulativa), e que o Brasil não vai crescer nada para sempre.

PIBinho 1/4: Introdução


Esses comentários interessantes (ainda que anônimos) são animadores, e têm me forçado a pensar mais sobre as razões para nosso PIBinho dos últimos dois anos. Ainda confuso, mas tentando listar as possíveis teorias. E para poder ver suas implicações, classificá-las como curto ou longo prazo.

A ideia básica é que se a teoria for de curto prazo (um fenômeno de duração de menos de 2 anos), o PIB vai logo voltar a crescer forte, ainda que por um momento breve (crescer mais que 4%, por um período de 4 trimestres, em algum ponto de 2013 ou 2014). Se for de longo prazo, o PIB ficará crescendo pouco (menos que 3%) para sempre (nos próximos 3 anos).

Escolha sua ponta, claro que não vale ficar no meio dessas duas alternativas. Depois vemos quem ganhou, daqui a dois anos, se eu ainda estiver vivo.

Aqui vão três teorias, nos próximos três posts.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Ata com Lucidez

Choque de oferta, coincide com meu diagnóstico, e portanto está certo. Nada a ver com PIB de longo prazo, exaustão do processo de incorporação de empregados, ou elevação do custo unitário do trabalho na indústria devido à exuberância dos non-tradeables. Em vez disso um choque temporário, talvez confiança do empresário, sei lá. Continuo achando que a economia surpreender para cima.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Bernanke contra Mantega



(hat tip Nuno Sampaio e Drunkeynesian)

PIB potencial baixo e juros neutros altos


Sei lá qual a sua nomenclatura. Se vc acha que PIB potencial e juros neutros (ou naturais) são conceitos de longo prazo (baixa frequência), que não se movem muito com o tempo, provavelmente está se embaralhando sobre o atual estado da nossa economia.

Tenho escutado que o PIB potencial caiu e que a inflação está elevada porque os juros neutros são mais altos. Mas sei que, no longo prazo, crescimento menor é consistente com juros menores (os juros estão ligados ao crescimento tecnológico e parâmetros das preferências tais como elasticidade de substituição e impaciência). Assim, se o crescimento (de longo prazo) é mais baixo, os juros neutros também são mais baixos. Se a economia está sobreaquecida pela prática de juros abaixo do neutro, o crescimento devia estar imenso. Se o novo crescimento potencial é baixo, daí os juros estão muito elevados.

Ou vc pode abandonar essa história de longo prazo, pensar em juros neutros e PIB potencial como conceitos de curto prazo, e daí fica tudo legal. O PIB de longo prazo continua o mesmo, em torno de 3%, a economia está crescendo 1% porque sofreu um choque de oferta, os juros neutros (não inflacionários) ficarão mais baixos, e os juros praticados estão estimulando a economia.

Manual do Policymaker

Conseguiu me fazer retomar o blog (hat tip João Vaz)