sexta-feira, 28 de setembro de 2012
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
Será que a Alemanha vai vazar?
Ouvi uma vez o argumento de que os créditos contabilizados no sistema de compensação europeu (TARGET2) eram um óbice à eventual decisão de saída da Alemanha (e de seus irmãos ricos, Finlândia, Luxemburgo e Holanda).
Os créditos monstruosos - coisa da ordem de 35% do PIB no caso da Alemanha - indicavam a imbricação entre "ricos" e "pobres" e mais do que ultrapassavam o ponto a partir do qual dívidas tornam-se problemas dos credores.
Sujeito simples que sou, aceitei imediatamente algo que me soava bastante intuitivo (também testemunhei gente mais inteligente do que eu caindo na armadilha). Errei mais uma vez.
O economista Paul De Grauwe e uma colega mostraram de forma simples e cristalina que o tamanho do problema do ponto de vista dos ricos é bem menor do que os créditos no TARGET2 (na verdade, o problema equivale "apenas" ao superávit em transações correntes acumulado - tenho um pouco de vergonha de ter que escrever esta obviedade).
Parênteses: tinha a intenção de reproduzir ipsis litteris o argumento n'O Consciência no início da semana mas descobri ontem que o Martin Wolf fez o serviço.
A ideia é banal: basta o Bundesbank converter Euros em Marcos apenas aos residentes alemães (talvez aos alemães não residentes também). Desse modo, por exemplo, um espanhol que depositou dinheiro em um banco alemão transformando-se em especulador com taxas de câmbio receberia no final o saldo em Euros (que, justamente, deveriam ser trocados por Pesetas).
A partir daí é muito simples concluir que a fragilidade da posição alemã é proporcional apenas à disposição do país em exportar liquidamente BMWs e afins - coisa que depende só da própria alemanha e que ela curte fazer apesar de ver os vizinhos destroçados.
Muito bem. Dá para concluir daí que a saída da Alemanha não é tão difícil como parece. E, a julgar pela atmosfera na Espanha, parece que o cenário está cada vez mais próximo.
Mas também dá para olhar o negócio sob o prisma Velhinha de Taubaté: se a Angela Merkel imprimir milhões de versões do texto do Paul De Grauwe e mandar um helicóptero distribuir na periferia pode ser que os fluxos especulativos diminuam e até que o público fique mais tranquilo na própria Alemanha, aumentando a chance de tudo dar certo.
É mole?
Os créditos monstruosos - coisa da ordem de 35% do PIB no caso da Alemanha - indicavam a imbricação entre "ricos" e "pobres" e mais do que ultrapassavam o ponto a partir do qual dívidas tornam-se problemas dos credores.
Sujeito simples que sou, aceitei imediatamente algo que me soava bastante intuitivo (também testemunhei gente mais inteligente do que eu caindo na armadilha). Errei mais uma vez.
O economista Paul De Grauwe e uma colega mostraram de forma simples e cristalina que o tamanho do problema do ponto de vista dos ricos é bem menor do que os créditos no TARGET2 (na verdade, o problema equivale "apenas" ao superávit em transações correntes acumulado - tenho um pouco de vergonha de ter que escrever esta obviedade).
Parênteses: tinha a intenção de reproduzir ipsis litteris o argumento n'O Consciência no início da semana mas descobri ontem que o Martin Wolf fez o serviço.
A ideia é banal: basta o Bundesbank converter Euros em Marcos apenas aos residentes alemães (talvez aos alemães não residentes também). Desse modo, por exemplo, um espanhol que depositou dinheiro em um banco alemão transformando-se em especulador com taxas de câmbio receberia no final o saldo em Euros (que, justamente, deveriam ser trocados por Pesetas).
A partir daí é muito simples concluir que a fragilidade da posição alemã é proporcional apenas à disposição do país em exportar liquidamente BMWs e afins - coisa que depende só da própria alemanha e que ela curte fazer apesar de ver os vizinhos destroçados.
Muito bem. Dá para concluir daí que a saída da Alemanha não é tão difícil como parece. E, a julgar pela atmosfera na Espanha, parece que o cenário está cada vez mais próximo.
Mas também dá para olhar o negócio sob o prisma Velhinha de Taubaté: se a Angela Merkel imprimir milhões de versões do texto do Paul De Grauwe e mandar um helicóptero distribuir na periferia pode ser que os fluxos especulativos diminuam e até que o público fique mais tranquilo na própria Alemanha, aumentando a chance de tudo dar certo.
É mole?
Férias coletivas para o pessoal do COPOM?
Hoje saiu o RTI.
Segundo o BC, no cenário em que o juro fica em 7,5%, a inflação de 2013 é 4.9%
No cenário em que o juro sobe para quase 9%, ela fica em 4.8% em 2013.
Game over.
Dado esse estado de extrema tranquilidade da inflação e dada a insensibilidade da inflação aos juros, proponho férias coletivas para o pessoal do COPOM, afinal todos somos humanos.
Segundo o BC, no cenário em que o juro fica em 7,5%, a inflação de 2013 é 4.9%
No cenário em que o juro sobe para quase 9%, ela fica em 4.8% em 2013.
Game over.
Dado esse estado de extrema tranquilidade da inflação e dada a insensibilidade da inflação aos juros, proponho férias coletivas para o pessoal do COPOM, afinal todos somos humanos.
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Você conhece alguém na Goldman, ou no Estadão?
Eu gosto de ler o Estadão, quando dá tempo.
Hoje no caderno de economia saiu um negócio totalmente errado. O assunto é a queda de 50% nas taxas dos cartões de crédito. Reproduzo: "Nas contas dos analistas da Goldman...Eles mostraram uma preocupação com o risco de uma seleção adversa, com atração de clientes problemáticos à procura de melhores condições de financiamento, o que pode elevar os custos de crédito" (pag.B5)
É O CONTRÁRIO, pai do Céu...
Quando o juro cai, a composição do pool de tomadores de recursos melhora, pois bons devedores que optavam por não pegar crédito a taxas mais altas, com juro menor sentem-se mais dispostos a tal. Assim, a qualidade média da carteira melhora e a inadimplência cai. É quando os juros sobem que ocorre a seleção adversa, pois os juros mais altos afastam os bons tomadores mas não os que planejam dar calote ou têm em mente investir o recurso em algo bem arriscado (taxa de retorno esperado elevada, mas altíssima variância).
Por favor, alguém faria o obséquio de comunicar isso aos repórteres do Estadão e ao pessoal da Goldman? Pode também recomendar a leitura de um livro de Introdução à Economia? Pode ser o meu livro de Introdução? Aí eu ganho uns dois reais por ter escrito esse post. Obrigado.
Hoje no caderno de economia saiu um negócio totalmente errado. O assunto é a queda de 50% nas taxas dos cartões de crédito. Reproduzo: "Nas contas dos analistas da Goldman...Eles mostraram uma preocupação com o risco de uma seleção adversa, com atração de clientes problemáticos à procura de melhores condições de financiamento, o que pode elevar os custos de crédito" (pag.B5)
É O CONTRÁRIO, pai do Céu...
Quando o juro cai, a composição do pool de tomadores de recursos melhora, pois bons devedores que optavam por não pegar crédito a taxas mais altas, com juro menor sentem-se mais dispostos a tal. Assim, a qualidade média da carteira melhora e a inadimplência cai. É quando os juros sobem que ocorre a seleção adversa, pois os juros mais altos afastam os bons tomadores mas não os que planejam dar calote ou têm em mente investir o recurso em algo bem arriscado (taxa de retorno esperado elevada, mas altíssima variância).
Por favor, alguém faria o obséquio de comunicar isso aos repórteres do Estadão e ao pessoal da Goldman? Pode também recomendar a leitura de um livro de Introdução à Economia? Pode ser o meu livro de Introdução? Aí eu ganho uns dois reais por ter escrito esse post. Obrigado.
terça-feira, 25 de setembro de 2012
It's the stock, stupid !
Uma conversa outro dia sobre operações monetárias heterodoxas (kiwis)
-- a merda dessas operações é que quando o FED parar de comprar, vai ter um spike nas taxas, você vai ver!
-- não creio....que modelo você tem na cabeça pra dizer isso?
-- modelo, modelo, pára com essa bobagem de economista, é o fluxo que dá a taxa e ponto final!
-- por que então oscilações de déficit público não tem impacto discernível na taxa de juro paga pelo FED? Nenhum paper acha isso nos dados, lamento te informar.
-- paper, paper, se nao tá em paper então é errado?
-- well...
-- explica aí então essa teoria tua vai!
-- nao é minha, é do Tobin, um cara que ganhou o nobel. dado os fatores que afetam a decisao de alocação de portfolio, configuram-se as demandas de mercado por diferentes classes de ativos. agora, se o governo retira do mercado parte dos treasuries, por exemplo, a oferta desse bicho se reduz para um patamar menor. mesma demanda e menor oferta aumenta o preço, ou seja, caem os juros. então o fluxo é importante apenas na medida que ele impacta o estoque daquele tipo de ativo. se o governo simplesmente pára de comprar titulos adicionais, o estoque NÃO se reduz, a relação entre oferta e demanda se mantém e assim o juro não dispara. sacou?
-- entao a queda dos juros tampouco tem a ver com os "kiwis"?
-- os kiwis afetaram percepção de ruptura financeira e assim mudaram os parametros que determinam as demandas relativas pelos ativos, então eu não tiraria essa conclusão não. além disso, os kiwis foram tão expressivos que afetaram a oferta de treasuries de modo expressivo sim.
-- caramba, não to entendendo direito então..
-- vai ler o paper do Tobin e depois a gente conversa, ok?
-- tá bom, mas para com essa coisa de minúsculas, cacete, você não é o valter hugo mãe.
-- a merda dessas operações é que quando o FED parar de comprar, vai ter um spike nas taxas, você vai ver!
-- não creio....que modelo você tem na cabeça pra dizer isso?
-- modelo, modelo, pára com essa bobagem de economista, é o fluxo que dá a taxa e ponto final!
-- por que então oscilações de déficit público não tem impacto discernível na taxa de juro paga pelo FED? Nenhum paper acha isso nos dados, lamento te informar.
-- paper, paper, se nao tá em paper então é errado?
-- well...
-- explica aí então essa teoria tua vai!
-- nao é minha, é do Tobin, um cara que ganhou o nobel. dado os fatores que afetam a decisao de alocação de portfolio, configuram-se as demandas de mercado por diferentes classes de ativos. agora, se o governo retira do mercado parte dos treasuries, por exemplo, a oferta desse bicho se reduz para um patamar menor. mesma demanda e menor oferta aumenta o preço, ou seja, caem os juros. então o fluxo é importante apenas na medida que ele impacta o estoque daquele tipo de ativo. se o governo simplesmente pára de comprar titulos adicionais, o estoque NÃO se reduz, a relação entre oferta e demanda se mantém e assim o juro não dispara. sacou?
-- entao a queda dos juros tampouco tem a ver com os "kiwis"?
-- os kiwis afetaram percepção de ruptura financeira e assim mudaram os parametros que determinam as demandas relativas pelos ativos, então eu não tiraria essa conclusão não. além disso, os kiwis foram tão expressivos que afetaram a oferta de treasuries de modo expressivo sim.
-- caramba, não to entendendo direito então..
-- vai ler o paper do Tobin e depois a gente conversa, ok?
-- tá bom, mas para com essa coisa de minúsculas, cacete, você não é o valter hugo mãe.
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
Geografia
Mexico is the new China.
China is the new Russia.
Russia is the new Europe.
Europe is the new Japan.
Japan is the new…?
Japan is the new…?
Target de PIB nominal
Esse argumento eh do Haldane, do BoE.
Quando o policymaker não tem muita certeza sobre a natureza do choque macroeconomico -- oferta ou demanda -- meta de PIB nominal é uma boa. Suponha uma meta de 5%. Se a deficiência for de demanda, a política monetária leva o país a um crescimento, digamos, de 3,5% e uma inflação de 1,5%. Se a deficiência for de oferta, o país termina com uma inflação de 3,5% e um crescimento de 1,5%. De todo modo, a inflação fica em patamar razoável.
Ela fica mais volátil que no sistema de metas de inflação, contudo. Mas no sistema de metas de inflação, se o policymaker acha que tem um problema de oferta e ele está errado, a economia sofre à toa, diz o argumento. Mas o meu ponto é: aí, nesse caso, a inflação ficará abaixo da meta no fim do dia e o policymaker reverte curso depois. O que eu não entendo no ponto do Haldane é o seguinte: no sistema de metas de PIB nominal o cara também precisa ter uma idéia da natureza do problema para calibrar a política de juros voltada para atingir um certo alvo de PIB nominal, certo? Por exemplo, se não tiver um problema de demanda e ele baixar os juros, vai correr o risco de o PIB nominal ficar mais elevado que a meta de PIB nominal. Do mesmo jeito que no sistema de metas. Me parece que essa minha crítica não é válida no caso em que a teoria quantitativa funciona perfeitamente e a velocidade de circulação é constante. Aí, de fato, determinando M, determina-se PY e ponto final....
Quando o policymaker não tem muita certeza sobre a natureza do choque macroeconomico -- oferta ou demanda -- meta de PIB nominal é uma boa. Suponha uma meta de 5%. Se a deficiência for de demanda, a política monetária leva o país a um crescimento, digamos, de 3,5% e uma inflação de 1,5%. Se a deficiência for de oferta, o país termina com uma inflação de 3,5% e um crescimento de 1,5%. De todo modo, a inflação fica em patamar razoável.
Ela fica mais volátil que no sistema de metas de inflação, contudo. Mas no sistema de metas de inflação, se o policymaker acha que tem um problema de oferta e ele está errado, a economia sofre à toa, diz o argumento. Mas o meu ponto é: aí, nesse caso, a inflação ficará abaixo da meta no fim do dia e o policymaker reverte curso depois. O que eu não entendo no ponto do Haldane é o seguinte: no sistema de metas de PIB nominal o cara também precisa ter uma idéia da natureza do problema para calibrar a política de juros voltada para atingir um certo alvo de PIB nominal, certo? Por exemplo, se não tiver um problema de demanda e ele baixar os juros, vai correr o risco de o PIB nominal ficar mais elevado que a meta de PIB nominal. Do mesmo jeito que no sistema de metas. Me parece que essa minha crítica não é válida no caso em que a teoria quantitativa funciona perfeitamente e a velocidade de circulação é constante. Aí, de fato, determinando M, determina-se PY e ponto final....
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Qual é o seu monopólio favorito? O meu é o Controlar
Me lembro de ter lido em um dos livros do Robert Barro um artigo em que ele pedia aos leitores para escolher aquele que, em sua opinião, seria o monopólio americano favorito. Não me lembro direito qual a escolha do Barro. Vou procurar.
O critério é simples: monopólio bom é aquele que você gostaria de ser dono.
Lembrei-me dessa história agorinha mesmo porque estou preenchendo os dados para fazer a inspeção veicular referente a 2012.
De início é bom esclarecer que acho boa a ideia de monitorar os veículos para melhorar a qualidade do ar. Acho também excelente passar a tarefa ao setor privado que, certamente, é mais capaz do que o setor público para tocar o negócio de forma eficiente.
Agora, porque diabos o governo concedeu um monopólio a uma empresa ao invés de fazer concessões a diversas empresas, como parece ser o caso em países sérios?
Quando o monopólio é natural, uma forma de minimizar os danos é fazer um processo competitivo de outorga de concessões. Isso é um "second best". Como a inspeção não é um monopólio natural - na verdade, há outras empresas que têm o equipamento para fazer testes antes da inspeção para quem quiser - perde-se uma chance de saber o custo marginal verdadeiro.
Não vou nem falar aqui do fato de que as corroças não precisam fazer a inspeção, que todos os dias tomamos belas baforadas de caminhões que parecem estar pegando fogo e que, no início, o dinheiro era devolvido para quem não apresentava problemas.
A solução ótima é tão simples e tão evidente que não dá para não pensar que estamos tratando aqui de mais uma maracutaia para onerar desnecessariamente o contribuinte.
O critério é simples: monopólio bom é aquele que você gostaria de ser dono.
Lembrei-me dessa história agorinha mesmo porque estou preenchendo os dados para fazer a inspeção veicular referente a 2012.
De início é bom esclarecer que acho boa a ideia de monitorar os veículos para melhorar a qualidade do ar. Acho também excelente passar a tarefa ao setor privado que, certamente, é mais capaz do que o setor público para tocar o negócio de forma eficiente.
Agora, porque diabos o governo concedeu um monopólio a uma empresa ao invés de fazer concessões a diversas empresas, como parece ser o caso em países sérios?
Quando o monopólio é natural, uma forma de minimizar os danos é fazer um processo competitivo de outorga de concessões. Isso é um "second best". Como a inspeção não é um monopólio natural - na verdade, há outras empresas que têm o equipamento para fazer testes antes da inspeção para quem quiser - perde-se uma chance de saber o custo marginal verdadeiro.
Não vou nem falar aqui do fato de que as corroças não precisam fazer a inspeção, que todos os dias tomamos belas baforadas de caminhões que parecem estar pegando fogo e que, no início, o dinheiro era devolvido para quem não apresentava problemas.
A solução ótima é tão simples e tão evidente que não dá para não pensar que estamos tratando aqui de mais uma maracutaia para onerar desnecessariamente o contribuinte.
domingo, 16 de setembro de 2012
Eu não entendi o que o Mantega falou
O ministro deu entrevista para o Estadão no Domingo.
Tem uma coisa que ele disse que eu não consegui entender. Instado sobre as pressões inflacionárias que podem surgir quando a economia acelerar no último trimestre com um mercado de trabalho apertado, ele disse que não tem problema não porque quando a economia aquecer a produtividade sobe. Ele disse também que a produtividade está crescendo mais rápido que os salários...
Um modelo novo keynes tradicional diz que o custo marginal sobe com o nível de produção e aí os preços aceleram mais e não menos quando a demanda agregada reganha tônus. O que será que ele quis dizer? Que quando a demanda aquece os produtores ficam mais eficientes? Parece que foi isso....mas alguém conhece alguma evidência / modelo com essa curiosa tese?
Tem uma coisa que ele disse que eu não consegui entender. Instado sobre as pressões inflacionárias que podem surgir quando a economia acelerar no último trimestre com um mercado de trabalho apertado, ele disse que não tem problema não porque quando a economia aquecer a produtividade sobe. Ele disse também que a produtividade está crescendo mais rápido que os salários...
Um modelo novo keynes tradicional diz que o custo marginal sobe com o nível de produção e aí os preços aceleram mais e não menos quando a demanda agregada reganha tônus. O que será que ele quis dizer? Que quando a demanda aquece os produtores ficam mais eficientes? Parece que foi isso....mas alguém conhece alguma evidência / modelo com essa curiosa tese?
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Campeões Nacionais
Para que o CESG não me demita, inaugurarei a nova fase de comentários com assunto que foge completamente à minha estreita zona de conforto. A chance de estar falando besteira é grande, mas a ideia do blog é justamente essa, não?
Muito bem. Vira e mexe leio estórias sobre o excesso de capacidade da siderurgia no Mundo - por exemplo, aqui. Nestes casos, preços baixinhos inviabilizam as operações menos eficientes e esta é a forma democrática do mercado recomendar aos empresários aplicar o dinheiro em outros setores.
De forma análoga, ouço frequentemente que a restrição de energia é um dos problemas que o Brasil terá que enfrentar para continuar crescendo. Salvo engano, no ano passado falava-se - com a confiança peculiar, a despeito da tragédia no Japão - em tocar projetos de energia nuclear, tralalá, trololó.
Beleza: invista no setor de energia e estará fazendo um bem ao país e a seu bolso.
Se eu fosse um estrategista - como o respeitado FK - recomendaria retirar recursos do setor siderúrgico e alocar recursos no setor elétrico. Felizmente, neste caso, o mundo está alocando pessoas direito e ninguém presta atenção em meus palpites para investimento em bolsa.
No dia 5 de setembro, o governo elevou a alíquota de importação de diversos produtos, incluindo a siderurgia. Fiz uma continha de padaria pegando três empresas do setor que vieram à minha cabeça. A moçada ganhou a bagatela de R$ 9,4 bilhões cinco dias após a medida - este número subestima a quantia real de dinheiro que mudou de mãos.
Naturalmente, diversos fatores têm contribuído para a oscilação das cotações de empresas do setor. Mas não resta dúvida que o fator determinante foi a canetada. No dia da medida protecionista, os papéis de uma empresa valorizaram 18%.
Quem compra os produtos do setor para produzir máquinas, veículos, edificações etc. ficou mais pobre. Ou para falar o idioma moderno, perdeu.
Ou seja, o governo escolheu empobrecer uma parte da sociedade para enriquecer outra, beneficiando um setor que parece produzir em abundância no mundo.
No outro extremo, há o zum zum sobre as mudanças que estão sendo propostas para o setor elétrico. Ninguém ainda sabe ao certo e, de acordo com a presidente, a moçada está entendendo errado e exagerando no pessimismo.
Pode ser que sim. Mas, outra continha de padaria com meia dúzia de empresas do setor mostra o desaparecimento de mais de R$ 10 bi em apenas um dia. Li estimativas de números duas vezes maior. Ou seja, quem estava investindo neste setor crítico viu uma parcela importante do dinheiro desaparecer.
Na literatura, este tipo de política é batizada de escolha de campeões. Canetadas que fazem uma galera de sorte ganhar rios de dinheiro em detrimento da tchurma azarada. A longo prazo, esse tipo de arbitrariedade é associado a crescimento menor.
Certamente a história verdadeira deve ser muito mais rica em detalhes do que esta versão estilizada que estou contando. E, para ser sincero, tenho achado a gestão atual bem melhor do que a anterior quando se trata do futuro do país a longo prazo. Talvez eu seja um daqueles que está deixando a chefe irritada.
Agora, é duro engolir que esse tipo de volatilidade é só inguinoranssa dos investidores em entender o que se passa, não?
Muito bem. Vira e mexe leio estórias sobre o excesso de capacidade da siderurgia no Mundo - por exemplo, aqui. Nestes casos, preços baixinhos inviabilizam as operações menos eficientes e esta é a forma democrática do mercado recomendar aos empresários aplicar o dinheiro em outros setores.
De forma análoga, ouço frequentemente que a restrição de energia é um dos problemas que o Brasil terá que enfrentar para continuar crescendo. Salvo engano, no ano passado falava-se - com a confiança peculiar, a despeito da tragédia no Japão - em tocar projetos de energia nuclear, tralalá, trololó.
Beleza: invista no setor de energia e estará fazendo um bem ao país e a seu bolso.
Se eu fosse um estrategista - como o respeitado FK - recomendaria retirar recursos do setor siderúrgico e alocar recursos no setor elétrico. Felizmente, neste caso, o mundo está alocando pessoas direito e ninguém presta atenção em meus palpites para investimento em bolsa.
No dia 5 de setembro, o governo elevou a alíquota de importação de diversos produtos, incluindo a siderurgia. Fiz uma continha de padaria pegando três empresas do setor que vieram à minha cabeça. A moçada ganhou a bagatela de R$ 9,4 bilhões cinco dias após a medida - este número subestima a quantia real de dinheiro que mudou de mãos.
Naturalmente, diversos fatores têm contribuído para a oscilação das cotações de empresas do setor. Mas não resta dúvida que o fator determinante foi a canetada. No dia da medida protecionista, os papéis de uma empresa valorizaram 18%.
Quem compra os produtos do setor para produzir máquinas, veículos, edificações etc. ficou mais pobre. Ou para falar o idioma moderno, perdeu.
Ou seja, o governo escolheu empobrecer uma parte da sociedade para enriquecer outra, beneficiando um setor que parece produzir em abundância no mundo.
No outro extremo, há o zum zum sobre as mudanças que estão sendo propostas para o setor elétrico. Ninguém ainda sabe ao certo e, de acordo com a presidente, a moçada está entendendo errado e exagerando no pessimismo.
Pode ser que sim. Mas, outra continha de padaria com meia dúzia de empresas do setor mostra o desaparecimento de mais de R$ 10 bi em apenas um dia. Li estimativas de números duas vezes maior. Ou seja, quem estava investindo neste setor crítico viu uma parcela importante do dinheiro desaparecer.
Na literatura, este tipo de política é batizada de escolha de campeões. Canetadas que fazem uma galera de sorte ganhar rios de dinheiro em detrimento da tchurma azarada. A longo prazo, esse tipo de arbitrariedade é associado a crescimento menor.
Certamente a história verdadeira deve ser muito mais rica em detalhes do que esta versão estilizada que estou contando. E, para ser sincero, tenho achado a gestão atual bem melhor do que a anterior quando se trata do futuro do país a longo prazo. Talvez eu seja um daqueles que está deixando a chefe irritada.
Agora, é duro engolir que esse tipo de volatilidade é só inguinoranssa dos investidores em entender o que se passa, não?
FK, o retorno
O leitor deve estar perguntando: qual o sentido de colocar uma foto do FK em um post - ainda mais uma foto antiga, tirada em Jackson Hole no ano passado?
Duas razões:
1. O CESG ameaçou expulsar-me do blog; disse que não aguenta mais carregar o peso sozinho, postando historinhas tipo fraconomics;
2. Achei que ele tinha razão e entrei no blog para dar uma conferida. Foi com grande satisfação que constatei o que pode ser a volta do FK.Uma coisinha aqui, outra ali, sem o viço do passado, é claro, mas enquanto há vida ...
Vou tentar postar algo menos inútil hoje no final do dia.
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Ex-presos e negros
Quando um empregador sabe que um candidato à vaga na sua empresa passou um tempo preso na cadeia, ele tende a rejeitar o cara. Essa dificuldade de um ex-infrator encontrar emprego decente após cumprir sua pena é um incentivo perverso para o cara voltar ao crime, o que obviamente é ruim para a sociedade como um todo. Então há um grande debate sobre se deve ou não ser possível/legal para um empregador demandar o histórico criminal dos candidatos.
O problema social de não se poder demandar o histórico criminal de um sujeito é que isso pode gerar aumento de discriminação em outras dimensões.
Os dados sugerem que há uma maior proporção de negros com histórico de criminalidade, comparativamente aos brancos. Se o empregador não puder ter acesso ao histórico de criminalidade na hora de contratar, ele vai forçosamente usar essa informação sobre a proporção de negros infratores na população total de infratores como instrumento, e tenderá assim a favorecer alguém branco na hora da contratação, ainda que ele não seja em si preconceituoso em suas preferências. Em outras palavras, ele praticará discriminação estatística, prejudicando os negros. Em resumo: na tentativa de ajudar o ex-infrator, essa lei acaba prejudicando os negros.
O problema social de não se poder demandar o histórico criminal de um sujeito é que isso pode gerar aumento de discriminação em outras dimensões.
Os dados sugerem que há uma maior proporção de negros com histórico de criminalidade, comparativamente aos brancos. Se o empregador não puder ter acesso ao histórico de criminalidade na hora de contratar, ele vai forçosamente usar essa informação sobre a proporção de negros infratores na população total de infratores como instrumento, e tenderá assim a favorecer alguém branco na hora da contratação, ainda que ele não seja em si preconceituoso em suas preferências. Em outras palavras, ele praticará discriminação estatística, prejudicando os negros. Em resumo: na tentativa de ajudar o ex-infrator, essa lei acaba prejudicando os negros.
terça-feira, 11 de setembro de 2012
OMT
Para os alemães, OMT significa "Outrageous Monetary Transactions".
A imprensa e boa parte do establishment político caiu matando em cima da decisão do BCE de monetizar problemas fiscais de países membros. Pergunto: faz sentido puxar tanto a corda assim? Não é pior no médio prazo para o futuro da União Européia deixar o pessoal alemão tão p. da vida? 53% de um grupo de entrevistados na Alemanha gostaria de ver a corte suprema lá rejeitar o ESM. Isso deveria preocupar.
A imprensa e boa parte do establishment político caiu matando em cima da decisão do BCE de monetizar problemas fiscais de países membros. Pergunto: faz sentido puxar tanto a corda assim? Não é pior no médio prazo para o futuro da União Européia deixar o pessoal alemão tão p. da vida? 53% de um grupo de entrevistados na Alemanha gostaria de ver a corte suprema lá rejeitar o ESM. Isso deveria preocupar.
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
Pena de morte
Ando lendo de madrugada um livro do Harold Winter, sobre economia do crime.
To no capítulo de "pena de morte". Ele levanta a seguinte questão: para um cara que já matou 3, qual o deterrent effect da pena de morte?
"Na margem", matar o quarto tem custo quase zero (talvez aumente um pouco a chance do cara ser pego, então não é zero).
Para remediar isso ele propõe gradações na maneira de implementar a pena de morte, tipo assim: matou 1, morte por injeção; dois, por enforcamento; três, por choque elétrico; quatro, ......
To no capítulo de "pena de morte". Ele levanta a seguinte questão: para um cara que já matou 3, qual o deterrent effect da pena de morte?
"Na margem", matar o quarto tem custo quase zero (talvez aumente um pouco a chance do cara ser pego, então não é zero).
Para remediar isso ele propõe gradações na maneira de implementar a pena de morte, tipo assim: matou 1, morte por injeção; dois, por enforcamento; três, por choque elétrico; quatro, ......
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
OMT e acesso ao mercado primário
O Draghi diz que o OMT - “Outright monetary transaction”, novo nome
do SMP, programa para compra de títulos dos soberanos periféricos – só atuará
em países que estão com acesso no mercado primário, ou pelo menos “regaining
market access”. Mas, dada a comunicação entre os mercados primário e
secundário, imagino que vai ficar fácil para Portugal começar a emitir títulos
agora. Nem se diga Irlanda.
Tombinão, já deu, se quiser pode parar
Li
a ata buscando algum comentário que justificasse a confiança do BC sobre recuperação
da atividade. Ele sabia do PIB de merda quando escreveu o “máxima parcimônia”.
Não encontrei nada, nenhuma justificativa, somente um negócio de concessão de
serviços públicos estimulando o investimento, que não vale nada. Minha
conclusão é que a parada na queda dos juros é política, i.e., a missão
política foi cumprida.
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Assinar:
Postagens (Atom)