sexta-feira, 27 de julho de 2012

Que Mário?

O Mário, aquele do BCE, disse ontem que fará o que for necessário para proteger a moeda comum. Os spreads do título de 10 anos da Espanha cairam 50 pontos base logo em seguida.

Esqueçam o esquálido ESM, o BCE é o único ator com poder de fogo suficiente para reverter as expectativas de default na Espanha. Se ele deixar claro um commitment para compra ilimitada de títulos, os juros caem mesmo. E aí pode ser, pode ser, que com as reformas em andamento a coisa não termine em vinagre (mas a Grécia sai).

O problema é que esse mesmo Draghi deixou claro em diversas outras ocasiões que as intervenções do BCE no mercado de títulos eram esporádicas e limitadas. Ele vai precisar, portanto, provar que mudou. E palavras não vão bastar nesse caso.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

kiwi não ajudará saúde dos americanos

As empresas americanas estão sentadas numa montanha de cash e não investem porque tem medo do penhasco fiscal. Os juros de 10 anos estão em ridículos 1,5%. Os bancos tem recursos e gostariam de emprestar, mas ninguém quer tomar emprestado. A expectativa de inflação de médio prazo está "de boa" (como dizem meus alunos), longe da deflação.

Em vista disso, para que serviria o kiwi de 7 de setembro anúnciado pelo fk?? Para derrubar o juro para 1,4%? O que isso resolveria?


sexta-feira, 20 de julho de 2012

Kiwi 3

Alguma hora mostro que o BLUES continua dizendo que a economia americana vai continuar patinando. Mantenho minha previsão que o Kiwi 3 será dia 7 de setembro. E para confundir, divido a figura abaixo, que o João Vaz me mandou, sobre o breakeven de inflação 5y5y (entre o ano 5 e 10).

Conjuntura no Séc. XXI

Apenas para ilustrar o blábláblá do Duzinho, com a colaboração sempre valiosa do impecável Carlos Urso, uma comparação entre Europa e China:


Lembrando que a produção industrial da Alemanha expandiu-se, em média, algo entre 6% e 7% ao ano nos últimos três meses. A nossa está parada há dois anos.

Conjuntura no século XV

Esse é um texto sobre conjuntura econômica, na virada do século XV

Até meados do século XV a China era tecnologicamente mais sofisticada que a Europa, tinha agricultura mais eficiente e possuía ampla frota de navios maiores e mais poderosos que as baracaças européias.
Mas na virada do século, a Europa inverteu o jogo: descobriu a América e começou a passar o Oriente na corrida do desenvolvimento. Por quê?

Tem gente que diz que foi porque o Renascimento Europeu incitou a descoberta e a pesquisa empírica -- o que não teria acontecido na China, que justamente nessa época voltou-se mais para dentro (mas isso suscita obviamente um segundo "por que?").

Na Europa, segundo alguns autores como o D.North, havia mais competição entre Soberanos, competição que teria favorecido a aceitação de ideias inovadoras que pudessem colocar um país à frente dos seus vizinhos rivais.... até a louca ideia de viajar na direção oeste num mundo que poderia ser quadrado com um puta de um penhasco no final acabou sendo aceita e financiada! Ok, mas por conta de ventos e distância, viajar do Mediterrâneo até a América era uma empreitada meio que tranquila expost...

Os chineses navegaram muito até a metade do século XIV, mas os povos e as condições das regiões que eles encontraram nas redondezas não eram lá essas coisas. Segundo o Ian Morris, autor do formidável "Why the west rules", eles, decepcionados, tomaram a decisão racional de parar de gastar dinheiro com essas incursões que não levavam a nada. De novo, os caras circularam bastante antes, foram sim ousados, mas no fim foram convencidos de que não valia a pena...tomaram a decisão racionalmente acertada!

E afinal, quais as chances de que um navio chinês terminaria aportando na América? Bem baixas, por conta da geografia, correntezas e ventos.

Os chineses não foram pouco ousados nem burros, eles foram racionais. Nada racional foi o Colombo, mas como ele estava perto da América, esse "erro" acabou virando o curso da história.




quarta-feira, 18 de julho de 2012

O FMI e a Austeridade do Governo Brasileiro

O Bráulio Borges acaba de chamar atenção para alguns números do último Monitor Fiscal preparado pelo FMI. O gráfico abaixo mostra a evolução do déficit público brasileiro com ajuste para o ciclo econômico - ou seja, levando em conta o fato de que as contas do governo variam com os vaivéns da economia.


Números positivos significam que as despesas são maiores do que as receitas e que, portanto, a política fiscal tem caráter expansionista. Ainda assim, é interessante observar que 2012 deverá fechar com um resultado atipicamente "austero".

Abrindo parênteses, note-se que o FMI espera que o Brasil crescerá 2,5% neste ano. Se isso ocorrer será um milagre - veja artigo recente no Hora do Povo que mostramos no post anterior. Projeção mais razoável, de algo entre 1,5% e 2,0%, levaria a um déficit ajustado pelo ciclo ainda menor do que o apontado.

Isso quer dizer que o governo está "apertando o cinto", certo? Nãnãninãnina. Focando-se o comportamento do Governo Central, observa-se que as despesas incluindo transferências a Estados e Municípios seguem crescendo em ritmo anualizado entre 6% e 7%, já descontando o efeito da inflação - ritmo bem superior ao do crescimento da economia.

Uma explicação possível é o fato de FMI usar o conceito de Déficit Nominal - que inclui as depesas com juros. A queda expressiva dos juros - parte dela estrutural - representaria então uma "economia" de gastos. O problema é que, olhando os dados do BC, observo que a proporção de gastos com juros cresceu quase monotonicamente desde janeiro do ano passado, saindo de 3,4% do PIB para 4,4% do PIB em abril.

Não tem jeito, terei que consultar um economista para saber o que se passa. 

terça-feira, 10 de julho de 2012

Clipping

Para aqueles que ainda não sabem, a linha editorial d'O Consciência está passando por reformas. O CEO Fabio Kanczuk e a equipe inteira, hoje com 328 pessoas, estará reunida em um hotel nesta semana.

Enquanto os novos contornos não são estabelecidos, ao invés de propalar opiniões próprias, prefiro relatar aos leitores a opinião de terceiros.

É fácil porque o ofício de consultor torna obrigatório o acompanhamento sistemático dos melhores periódicos como, The Economist, Wall Street Journal, Financial Times e, naturalmente,


Contribuição do intimorato Carlos Urso.

Migração nos EUA

Eu li isso aqui e reproduzo as ideias, que nao sao minhas.

Os dados mostram que a migração nos EUA caiu pela metade nos últimos 20 anos, tendo se elevado um pouquinho no pós-crise. O que explica isso?
Eu conhecia a tese do casal que trabalha: é mais dificil migrar quando ambos estão empregados localmente. E como a participação da mulher no mercado cresceu, essa era a minha explicação favorita. Mas uma pesquisa recente citada na The Economist sugere que a queda na taxa de migração foi uniforme, ocorrendo tanto em famílias com 1 como com 2 adultos empregados.
A outra explicação, que me parece bem boa, é que os tipos de empregos estão agora mais bem distribuidos entre as regiões dos EUA, o que se deve ao aumento da participação dos não-comercializáveis no PIB. Isso ajuda a explicar, mas esbarra na dificuldade que a queda na migração bruta se deu em praticamente todos os setores.
Resta a terceira e curiosa explicação: como informar-se sobre as características dos diferentes lugares foi ficando menos custoso ao longo do tempo por conta da queda no preço real das passagens aéreas e da disseminação de um conjunto amplo de informações via internet, foi ficando menos necessário ir residir no lugar para aprender sobre suas preferências por viver nele. Aí nego pula menos por aí.

Quem disse que estudar economia é chato? Taxa de juro, inflação, etc é bem chato mesmo, mas teoria economica de verdade é bem divertido.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Demanda ou Oferta?

Consigo comprar a tese do Paulo Krugman de que no mundo há problema de demanda. Quando o setor privado corre para se desalavancar após farra de consumo com dívida, o setor público precisa gastar esse dinheiro poupado pelo privado para impedir uma recessão vigorosa na qual todos os setores aumentam a poupança simultaneamente.

Mas não me parece que insuficiência de demanda seja o problema por aqui, na terra papagalis. O consumo vem forte, 4% nos dois últimos trimestres. A inflação vai ficar acima de 4.5%. Não tem cara de problema de demanda isso não.

Ainda assim, a resposta de política econômica vem carregada de medidas de incentivo de demanda.

Uma agenda clara visando melhorar o ambiente de negócios e destravar o investimento público, alavancar para a oferta crescer, não está na pauta. Isso sim é uma piada.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Campeões (inter) nacionais

Contas benevolentes mostram que se o governo tiver como meta para o setor automotivo taxas de crescimento semelhantes à média da última década, atingiremos padrão norte-americano de saturação em menos de três anos (evidentemente fazendo os ajustes devidos para nível e distribuição de renda).

Para conseguir o que pelas vias naturais seria improvável são necessárias injeções cavalares de adrenalina, geralmente pela isenção de impostos.

Muito bem. Com este pano de fundo, é bastante agradável ler esta história no Estadão dando conta de que cada emprego gerado pelo setor custou 1 milhão à viúva e nem toda a grana foi investida no país - mais um belo hit da política industrial voltada a setores com "cadeia produtiva densa".

Parabéns ao sindicato.