sexta-feira, 27 de abril de 2012

Descompressão no Crédito Europeu


Eu sou um daqueles que acredita que a atual recessão na Europa tem mais a ver com a contração no crédito do que com o aperto na política fiscal. Na figura, o resultado da última pesquisa do BCE sobre empréstimo bancário, mostrando melhora expressiva.

Não sei bem se foi por causa da LTRO. Talvez o layout rosinha d'O Consciencia tenha influenciado, vou trocar isso agora.

Quando tiver menos sono vou trabalhar no REQUIEM, meu sensacional DSGE para Europa. Minha projeção, que já era menos pior que a do consenso, vai menos piorar ainda mais.



quarta-feira, 25 de abril de 2012

Sorriso Colgate

Uma das tarefas difíceis de quem trabalha como consultor é explicar as vantagens de se usar um modelo para públicos de outras áreas. É comum, por exemplo, ouvir que a melhor forma de se prever o desempenho de um setor é confiar no "feeling" de quem está em contato com o mercado. Como o Madeira ensinou, a única pessoa que ganha dinheiro de verdade com feeling é o Morris Albert.


Não é fácil convencer um cidadão que trabalhou com soja a vida inteira de que, no final do dia, o mercado de soja tem mais semelhanças do que diferenças em relação a, digamos, o mercado de motocicletas. Usar um modelo para retirar da análise o que é comum a todos os setores (sensibilidades a preços, atividade econômica, etc.) limita de forma interessante o escopo para as análises mais qualitativas, baseadas em feeling - que certamente são úteis.


O estudioso Marcos Laes acaba de mandar este link que pode tornar esta explicação mais fácil no futuro. Não é possível conhecer detalhes a partir da matéria do Mail Online, mas a jovem de 18 anos Florence Colgate foi considerada a moça de rosto mais belo do Reino Unido, desbancando 8 mil candidatas. O detalhe interessante é que a Srta. Colgate  foi escolhida por um algoritmo matemático que selecionou o rosto (não submetido a plásticas, sem maquiagem e demais artifícios) com "proporções ideais" de acordo com critérios internacionalmente aceitos.


É inegável que a Srta. Colgate é bonita. Mas, como se sabe, a beleza verdadeira está no olho de quem vê. Uma das maiores vantagens de um modelo matemático é separar claramente uma discussão que envolve aspectos qualitativos nas etapas de (i) validação do modelo, (ii) validação das premissas e (iii) análise dos resultados.


PS: por falar em beleza, o Dudu resolveu dar um tapa no layout d'O Consciência. Ele é um grande economista.

Repressão Financeira


O nome é ruim, faz lembrar das estranhas políticas que caracterizaram os episódios anteriores, como (i) limites superiores nos juros nominais, (ii) compulsórios, (iii) controle de capitais, (iv) impostos sobre dividendos de ações, etc. A ideia é boa, a de que os juros reais excepcionalmente baixos fazem a dívida pública desaparecer.

Pessoalmente acho que essa será a principal mecanismo para redução das dívidas públicas na Europa e EUA. O legal é que não está sendo necessário fazer estranhas regulações e restrições, e os juros reais de curto prazo, tanto nos EUA como na Alemanha, estão rodando em -1,5%.

Voltando ao título, veja o paper da Dona Carmen (NBER 16893). Após a primeira guerra, na grande depressão e nos anos 80 a redução da dívida ocorreu através de default e hiperinflação (livro dela com o Ken, da Barbie). Mas após a segunda guerra, o truque foi juros reais negativos com inflação levemente elevada.

Como a Dona Carmen infelizmente não sabe fazer conta, estou pegando os dados dos EUA e logo lhe mostro os resultados.



terça-feira, 24 de abril de 2012

Por que a sociedade odeia os banqueiros?


"Por que eles ganham muito dinheiro"

Não pode ser só isso. O Steve Jobs e gente similar ganh(a/ou) muito dinheiro. Mas nem todos os empresários ricos geram esse sentimento na sociedade. Em que os banqueiros são especiais?

"Mas o Jobs e o Gates criaram coisas úteis para a sociedade! Eles mereceram o dinheiro que ganharam! Os banqueiros são sanguessugas"

Ah, essa para mim é parte importante da explicação. Se eu estiver certo, o problema então é que as pessoas não se deram conta do papel extremamente relevante dos mercados financeiros em possibilitar que gente como Gates e Jobs levem suas ideias a cabo. Sem recursos (empréstimos) mediados via sistema financeiro, muitas idéias boas iriam terminar engavetadas. O sistema financeiro cumpre a importante tarefa de alocar a poupança da economia para seus fins mais produtivos. Sobre esse tema, recomendo o livro "Salvando o Capitalismo dos Capitalistas". Se a questão for essa, você que leu até aqui precisa diminuir seu ódio dos banqueiros, ao menos até ler o próximo item....

" Quando os banqueiros tomam risco demais quem paga boa parte da conta é a sociedade"

É verdade. E isso dá raiva mesmo. Quando um padeiro quebra, não tem salvamento com dinheiro público porque sua quebra não gera maiores transtornos para a sociedae -- os outros padeiros suprem a ausência. Mas banco que quebra pode quebrar outros bancos, arrastando a economia para o fundo do poço. Então o governo salva o banco com nosso dinheirinho. É duro. A solução então é regular bem os bancos e instituições que funcionem como bancos. Mas os bancos fazem lobby para a regulamentação não apertar demais. Isso dá raiva, mas lembremos que outros setores da economia também defendem com afinco seu interesse, em geral com prejuízo do consumidor, como no caso das tarifas de importação.

Devo ficar com raiva de quem então, caramba? Dos administradores da política econômica que resolveram desregulamentar demais os bancos. É desses que é para ter raiva (assumindo que ter raiva é algo inevitável "no modelo") 

Crédito e Comércio


A ideia é ver como está se comportando o crédito através da comparação entre os diferentes setores do varejo. Na figura, as séries de volume (dessazonalizadas) de três setores supostamente influenciados pelo crédito (veículos, móveis, materiais de construção), divididos pelo volume total do comércio.

Hmm, muito difícil de ver qualquer coisa. Com muita imaginação vemos que os veículos deram uma parada no fim de 2010, com as macroprudenciais, e nunca voltaram a crescer. Os móveis e eletrodomésticos nunca sentiram nada, talvez devido aos estímulos devido ao corte do IPI. E materiais de construção, que apanharam em 2011, estão bombando.

Hmm de novo. Continuo sem saber o que está acontecendo com o crédito agora.


segunda-feira, 23 de abril de 2012

Email do Laurencio

Acabei de receber esse email:


-----Mensagem original-----
De: Laurencio Summers
[mailto: laurencio.summers@arvard.edu]
Enviada em: segunda-feira, 23 de abril de 2012 13:40
Para: Fabio Kanczuk

Dear Fabio, hope all is well.
After your request I put two of my best assistants, Drew Fudenberg and Ariel Pakes, to collect UK data. (Yes, I could not ask our macro guys, bc they aren't sharp enough, as you always told me...). Below the picture with taxes and expenditures as a percentage of GDP. Now, I'm not sure what you want me to do with them, in which sense they explain UK's poor performance. I'm waiting for the next instructions.
Best, LS.
PS: thanks so much for all your guidance thru the years
PS2: the o consciencia is really helping me understand the world, every time I'm confused I check it out
PS3: don't pay attention to antoninho and other dumb asses who are just envious






Comprando IBEX a 6830


Claro que não tenho nem ideia das 35 empresas espanholas que compõem o índice, mas estou achando um exagero. Como esse bicho é muito volátil, vou colocar um stop em 20% abaixo do valor que estou comprando. Se subir 20% eu ganho. Imagino que não vai faltar contraparte. Alguém se habilita?


sexta-feira, 20 de abril de 2012

Frase sobre doença holandesa

A melhor frase sobre doença holandesa que escutei foi proferida pelo meu amigo Bernardo Guimaraes, da EESP-FGV: "Tá aí uma doença que eu gostaria de pegar".

Continuando: "Se essa tal doença holandesa faz a gente ficar rico como os holandeses ficaram...manda ela para nós"

De fato, parece melhor que pegar a "Doença Argentina", com o virus da industrialização marcha-forçada capitaneada pelo Estado...o duro é que não sei se tem vacina contra essa.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Cíclico


FK no Jornal da Globo

Alguém deixou o FK falar seus palpites de economia "para a dona de casa brasileira" ontem a noite. Tenho certeza que chegaram ao FK via seus espetaculares artigos n'O Consciencia.

Confiram aí:

http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2012/04/bc-reduz-taxa-basica-de-juros-para-9-ao-ano.html

O FK meteu uns gráficos de PIB potencial que ele inventou para a dona de casa ver e com esse show de intelectualidade ele promoveu "O Consciência" em todo Brasil, desde o Oiapoque ao Chuí.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Juros curtos da Espanha


Que os juros de 10 anos está em torno de 6% está em todo lugar. Mas de uma olhada nos “curtos”: de 2 e 5 anos. Estão relativamente tranquilos, principalmente quando comparado ao que aconteceu no fim do ano passado. O que quero dizer é que a rolagem da dívida, que já está praticamente completa para esse ano, apesar do leilão de amanhã, está mais tranquila do que parece. Ou não.


Introdução à Economia, primeiro troféu AE

Vou fazer o seguinte: sempre que eu ler nos jornais evidência de alguma imbecilidade econômica que possa servir de exemplo para meus alunos de Introdução, eu vou tentar postar aqui a tal imbecilidade e nomear o recebedor do troféu

Primeiro Troféu A.E (Analfabetismo Economico) vai para Cristina Kirchner !!!!

Eu ensino no curso de Introdução que a estratégia de alguns governos de fixar um dado preço abaixo do seu valor de mercado para ajudar o pobre a consumir mais nunca funciona. A razão é simples: com preços artificialmente baixos os produtores (não podemos esquecer deles, não é?) reduzem a oferta e aí, ao invés de ter mais, vai ter menos do produto disponível para consumo. Na Argentina, a nova Eva Peron congelou o preço dos combustíveis e advinhem o que aconteceu? A Repsol (e outras empresas) reduziram seus investimentos. Aí a Eva ficou brava e expropriou os caras ! É quase inacreditável.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Stopado no Dolar

Como o The Anchor, minha contraparte, corretamente apontou, fui stopado hoje no dólar. Havia vendido a R$/US$ 1,76 e hoje ele chegou a 1,86.


Droga. Foi culpa da Cristina. Ou de algum economista. É, foi culpa do CT e do CESG, não minha.

Solvência da Espanha


Conforme prometido, escolhi algumas hipóteses que fazem com que a dívida espanhola fique sustentável, mesmo se ela subitamente subir para 100% do PIB (primeira figura). Elas aparecem na segunda figura, grosso modo são:

i)      Inflação fica em 2% (historicamente foi maior)
ii)     Juros nominais em 5% (Dragui no controle)
iii)    PIB crescendo a 1,5% em regime, bem menos que os 4% usuais. Transitoriamente bem pior que isso, -2% esse ano, -1% ano que vem.
iv)    Superavit primário volta a ser 2% do PIB, mas transitoriamente bem pior do que o Rajoy está prometendo. Em vez dos 5,7% de déficit (total) ano que vem eu coloquei 6,5%. Para 2013 coloquei déficit (total) de 5%, também muito pior do que os 3% que se imagina.


Assim como no caso da Itália, estou sendo bastante duro com a Espanha, e mesmo assim a dívida parece fica. A única hipótese realmente controversa é o Dragui em controle.




segunda-feira, 16 de abril de 2012

Cultura e Globalização

Eu estou lendo um livro do Tyler Cowen sobre esse tema.

A pergunta central é: a globalização homogeiniza tudo e, nessa dimensão, deixa o mundo mais desinteressante? Todo mundo toma coca-cola em todos os quinhões do globo, e aquela bebida típica que nossos antepassados faziam, ah, essa sumiu....

Em linhas gerais essa é a essência do argumento cético.

De fato, deve ter um pouco disso mesmo acontecendo nesse mundo mais global. Mas por outro lado, a maioria dos movimentos culturais que se tornaram característicos de certas regiões nos últimos 60 anos se beneficiaram -- e muito -- de influências culturais de alhures, fundindo-se com essas num caldo miscigenado que deu origens a novas e diversas tendências. Isso não teria ocorrido num ambiente de isolamento cultural que preservasse as raízes locais. Na música isso é claro e óbvio.

E por que se a diversidade cultural entre lugares diferentes, em um mesmo momento do tempo, é algo que os céticos da globalização valorizam, a diversidade cultural num mesmo local ao longo do tempo (que ocorre dinamicamente como resultado desse "comércio internacional"), essa fruto da globalização, não o seria??

Mais importante na minha opinião é outro aspecto que o Tyler Cowen enfatiza. Suponha que de fato estejamos num mundo mais homogêneo, no qual a diversidade na cross-section seja menor. Essa menor "diversidade objetiva" se traduz em menor "diversidade concreta", experimentada pela sociedade? NÃO ! Em um mundo onde cada um mora na sua aldeia, teremos aldeias culturalmente bem diversas, mas ninguém usufruirá dessa diversidade objetiva. A globalização seguramente impulsionou, e muito, a diversidade concreta a que as pessoas têm acesso, mesmo que em parte isso tenha ocorrido às custas de uma menor diversidade objetiva.

Definitivamente, em Economia não há almoço grátis.

Endividamento Espanhol


A graça de olhar Espanha é a de questionar o valor da dívida pública. Segundo o dado oficial, calculado segundo o Procedimento de Déficit Excessivo, pela União Europeia, a dívida pública espanhola estaria atualmente em 68% do PIB. Mas um monte de outras dívidas (privadas) acabam caindo no colo do Governo, e o endividamento público de repente se torna muito maior.

Vou me basear no Edward Hugh, e daí exagerar um pouco mais. À dívida oficial vou somar

i) pagamentos atrasados da união= 9%
ii) dívida das estatais = 6%
iii) títulos públicos em poder do fundo de seguridade social = 3%
iv) dívidas contingentes = 9%. Estas são devidas a (i) títulos bancários em posse do tesouro, (ii) FROB (fundo para reestruturação dos bancos com garantias do tesouso) + (iii) PPP (parcerias público privadas) + (iv) FADE (tarifa de eletricidade), (v) ICO (banco de desenvolvimento)
v) fator acochambrativo de arredondamento = 5%


Vou fazer as contas com a hipótese de que a dívida da Espanha é 100% do PIB. Depois lhe conto o resultado

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Mercados Incompletos (semi-wonkish)

O FMI e alguns economistas andaram dizendo estarem preocupados com a diminuição da oferta de ativos líquidos e livres de risco, que jogam um papel importante no funcionamento dos mercados financeiros.

Eu ainda preciso refletir mais, e não faço agora porque tenho sonho, mas algumas pessoas andaram dizendo o seguinte:

- Isso concentra toda poupança nesse tipo de instrumento em poucos países, o que gera um certo desequilíbrio cambial que pode ser danoso. Mais importante, não é tão simples lidar com entradas maciças de fluxos de capitais, em termos do que isso implica para inflação e sustentabilidade financeira.

- Nos EUA, a estratégia do twist está gerando escassez de títulos públicos líquidos de curto prazo, prejudicando o bem-estar de poupadores que desejam títulos dessa categoria. Ok, aí o setor privado pode meio que substituir o governo nesse mercado. Mas tem gente que não acha isso muito bom, argumentando que se a regulamentação não for boa, muita dívida privada de curta maturidade pode gerar eventualmente corridas de múltiplos equilíbrios. Me pergunto por que não vale o mesmo com a pública....eu mesmo me respondo (tentei ligar para o Laurêncio, mas nos EUA ainda são 4hs da manhã e ele não atendeu o telefone): o governo tem soft-budget constraint via torneira monetária.

- Quer dizer então que os EUA deveriam voltar a emitir mais títulos curtos para aumentar o bem-estar econômico dos poupadores norte-americanos...???

quarta-feira, 11 de abril de 2012

O Crescimento está maior, mas a eficiência nem tanto


Tenho tido que fazer uns chutes para o longo prazo para garantir a sobrevivência. Infelizmente não sou um mago dos mercados financeiros como o FK.

O primeiro passo é retirar do PIB a contribuição da demografia e do acúmulo de capital para chegar a uma medida da eficiência com que o país combina estes insumos para produzir – a Produtividade Total dos Fatores (PTF).

O FK me ensinou a pegar a PTF e retirar dela dois componentes adicionais: (i) a contribuição do capital humano, medido pelos anos de escolaridade, e (ii) as distorções observadas no preço do capital. 

(usando a metodologia de uns caras que publicaram um texto na American Economic Review e que ele sempre cita para dar credibilidade aos exercícios). 

Retirando estas duas influências de natureza mais objetiva, resta o que pode ser considerada uma medida indireta da eficiência da economia, provavelmente ligada a aspectos mais qualitativos que, normalmente, vemos em análises que tratam de “ambiente de negócios”, “instituições”, "governança" e etc.

A figura mostra uma comparação entre os resíduos ("eficiência") do Brasil e dos EUA. 

 

No início dos tempos, nossa eficiência gravitava em torno de 60% da americana. Com o Milagre, chegamos a ser equivalentes - no final dos anos 70, por exemplo, se a nossa escolaridade e preço do capital fossem iguais aos dos EUA, a renda per capita também seria igual. 

A chacoalhada dos anos 80 (choque do petróleo, Paul Volcker, quebra do México) fez a inflação disparar e a eficiência despencar.

Após a flutuação cambial, em 1999, que consolidou a estabilização, a eficiência voltou a descrever uma tendência de elevação suave – talvez por conta dos dividendos de todas as reformas econômicas feitas a partir de 1994. 

Mais recentemente, no entanto, essa trajetória de melhora murchou, talvez porque o esforço de reformas tenha também murchado. Ou não.

terça-feira, 10 de abril de 2012

A resposta do Laurêncio ao FK

Eu estava aqui preparando aula quando tocou o telefone. Era o Laurêncio, de Arvard. Ele pediu para eu responder o último post do FK. Retransmito aqui a mensagem dele, ipsis literis (?), na língua dele mesmo.

"Dear FK, why picking on me constantly? Take a look at my CV, boy, it will be a sobering exercise for you. Ok, now to your cheap and misguided shot: you are using Deficit/GDP measures to suggest sameness in fiscal policy. Do you realize this is an endogenous/equilibrium variable? The right comparison is between "exogenous" policy variables, my dear, like tax rates and the like".

Retomada e Ajuste fiscal: UK vs. USA


Pensando no tamanho da corcova, nos efeitos de ajuste fiscal em economias reprimidas. Como havia dito, o estudo de caso mais promissor é comparar a economia do Reino Unido com a dos EUA. A primeira já fazendo os ajustes e, talvez por isso, decepcionando com relação à segunda.

Li esse artigo do Posen, que se propõe exatamente a essa tarefa. Elegante como sempre, mas me decepcionei com o resultado. Na primeira figura o PIB de UK contra US – veja a diferença. Na segunda figura o superávit (nominal, como porcentagem do PIB) das duas – veja a similaridade.

E aí, Laurêncio?


segunda-feira, 9 de abril de 2012

Tombini certo, mais uma vez


Na primeira figura, a inflação implícita até 2014 voltando a níveis baixos. Na segunda figura a inflação nos EUA (breakeven entre quinto e décimo ano), que também se acomodou. O estranho é o Tombini estar correto e eu ter ganho dinheiro, mais uma vez. Toda coincidência é burra.



quinta-feira, 5 de abril de 2012

Você é um "racista estatístico"?

Conjuntura às vezes cansa, e como estou muito cansado hoje resolvi apresentar aqui um modelo curioso que sugere que "ação afirmativa" (programas que favorecem minorias) pode ser algo bom em termos sociais.

Claro, qualquer ação para ajudar minorias -- negros, azuis, amarelos, etc -- carrega custos associados, principalmente, à ausência do critério meritocrático. Então cada caso merece análise especial. Meu propósito aqui, no entanto, é apenas colocar no debate um ingrediente teórico a mais.

Modelo de racismo estatístico

Hipoteses:

(a) Entre os motoristas de taxis, há inicialmente um pequeno percentual de pessoas racistas.

(b) Na população de negros e brancos esperando táxis, o percentual de ladrões é inicialmente idêntico, x%.

Conclusões

1. mesmo motoristas não racistas evitarão pegar passageiros negros ("racismo estatístico").

2. se o governo pudesse forçar todos motoristas a não rejeitarem passageiros negros (ação afirmativa), todos ganhariam.

Explicação

Se um pequeno número de motoristas rejeita alguns negros, o que ocorre? Os negros honestos, cansados de esperar, preferirão outro modo de transporte, como ônibus, metro ou carro. Mas os negros ladrões continuarão esperando os taxistas não racistas pararem, dado que seu propósito é justamente assaltá-los. Do seu lado, os brancos honestos não precisam esperar tempo excessivo, então esses seguem usando normalmente o táxi. E claro, o mesmo vale para os brancos ladrões, que estão ali justamente para roubar. O racismo de alguns motoristas então altera, com o tempo, o mix (honestos versus ladrões) entre os negros que pegam táxi, mas não afeta o mix (honestos versus ladrões) dos brancos que pegam táxi. Portanto, em equilíbrio, esse problema de seleção adversa faz com que seja de fato maior a probabilidade de um motorista ser assaltado ao pegar um passageiro negro, pois os negros honestos, cansados de esperar, estão sub-representados nessa amostra. Assim, mesmo motoristas não racistas vão parar menos para os negros, agravando o problema inicial. Note-se que o percentual de ladrões é igual nas duas populações: o que muda por conta do racismo inicial é que os negros ladrões estão sobre-representados na amostra de pessoas esperando táxis.

Se todos os taxistas fossem obrigados por decreto a parar para os passageiros negros, os negros honestos nesse modelo gradualmente voltariam a pegar táxi, diluindo a representatividade dos negros bandidos na amostra para o mesmo percentual de brancos bandidos. Nesse exemplo, portanto, tal medida de ação afirmativa faz todo sentido!

It’s the credit, stupid!


Deixe-me aproveitar o bom humor com o preço do vestuário, com o fechamento do Pré, com o fato de eu mais uma vez ter acertado por razões aleatórias, para responder alguns comentários.

A projeção de inflação de 2013 com o CHORINHO (meu sensacional modelo DSGE, não há artigo disponível para leitura, a melhor referência para quem está aprendendo é a do próprio Samba, no trabalho para discussão do BC, onde implicitamente aparece o custo marginal) depende muito da hipótese sobre o crédito. Claro que também depende do dólar, commodities, política fiscal e monetária. Mas é na hipótese do crédito que estou gastando todo meu tutano.

Um dia desses eu rodei uma regressão sensacional entre o crescimento nominal do crédito e seu spread defasado. Daquelas que quando você olha o resíduo tem certeza que é tudo espúrio. O resultado foi que o spread antecede o crédito, e os níveis atuais são compatíveis com o crédito crescendo a 6%, muito menos que os 15% que se fala. É, eu sei que o BNDES e o Banco do Brasil vem aí, mas ainda assim isso está estranho.

Sinta o drama. Se o crédito continuar se expandindo forte, dólar e commodities flat, política fiscal um pouco mais frouxa, juros parados em 9%, a inflação de 2013 no CHORINHO fica acima de 6%. Mas se o crédito parar, em linha com que os spreads atuais indicam, não tem inflação nenhuma em 2013, e o BC pode até reduzir mais os juros.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Tamanho da Corcova


Em post anterior argumentei que a ideia de que corte de gastos é contraproducente é balela. O Laurêncio Summers, que sempre visita O Consciência, e ficou chateado com o fato do CESG chamá-lo de Lorenço, disse que meu argumento está correto. A única diferença dele comigo é que o tamanho da corcova, aquela fase em que o PIB cai devido ao corte de gastos, é muito longa e profunda.

Vou tentar trabalhar um pouco nisso. Mas sei que cai invariavelmente nas questões de magnitude do multiplicador keynesiano, que supostamente está grande, devido a impossibilidade de reação da política monetária.

Em minha opinião, que é a correta, apesar do juros curtos estarem em zero, o fato do juro longo poder se mexer faz com que o multiplicador seja baixo como sempre, algo em torno de 0,7. Em termos temporais há pouca discordância: o impacto do corte de gasto sobre o PIB ocorre instantaneamente, no mesmo trimestre.

Meio besta. Acho mais interessante fazer um estudo de caso com o Reino Unido, que está avançado nesse processo de ajuste fiscal, e está pastando. Volto depois com isso.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Pacotão do Mantega

Segundo o CT o efeito da desoneração (R$ 7bi) será extremamente importante em termos de redução da carga tributária. Com o pacote, ela cairá de 36,2% do PIB para 36,0%.


Eu pessoalmente não gostei da parte sobre oncologia. Acho que problemas cardiovasculares são mais importantes, apesar da Dilma e Lula não terem sofrido com eles.

Pequeno Porte, SAMBA, CHORINHO

A pedidos do Antoninho, os impactos de um aumento nos juros de 1%, por um ano, sobre a inflação, nos três modelos: Pequeno Porte (BCB), SAMBA (BCB), e CHORINHO (yours truly). Note como o CHORINHO, que reflete a verdadeira verdade, se aproxima mais do Pequeno Porte do que do SAMBA. Note também (no Relatório do BCB) que o modelo de Pequeno Porte tem se tornado mais sensível com o tempo (Lucas Critique).













segunda-feira, 2 de abril de 2012

Firewall versus LTRO


As discussões sobre Europa têm sido em torno da mobilização de recursos para emergências. Juntando EFSF, ESM e outras siglas que tampouco lembro o que significam, eles estão chegando $800 bi euros de firewall.

Para comparar, quanto foi a ajudinha do ECB através da LTRO? Eu sei que os bancos tomaram $1 tri, mas o que estou me perguntando é quanto foi a redução de dívida.

Uma forma de pensar é que os juros sobre a dívida da Itália, que é de uns $2 tri, caíram uns 3% com o LTRO. Isso significa que no primeiro ano, a redução de pagamentos foi de $60 bi. Mas eu devia considerar todo o fluxo a valor presente. Sei lá, multiplicando pelo duration da dívida, que é de uns 7 anos, isso dá $420bi.